41 - O beijo

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Catarina

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Voltei para minha sala com sem saber ao certo como agir, como reorganizar meus pensamentos. Maria Eduarda havia me colocado contra a parede e dado um xeque-mate que eu nem fazia idéia de como contra-atacar. Como eu explicaria a todos minha súbita mudança de cargo? Como eu encararia Lara? Entrar na minha sala e olhar nos olhos  dela nunca me pareceu tão difícil.

— Nossa, você está pálida, Catarina! O quê minha mãe disse para que esteja nesse estado? Foi algo ruim? Você cometeu algum erro? Conheço minha mãe, sei o quanto ela pode ser cruel quando está com raiva, mas por favor, não se deixe abater... – Lara parecia tão preocupada que isso apenas me fez sentir pior.

Olhei cada canto daquela sala e nostalgicamente caminhei por aquele cômodo pensando nos bônus e ônus da minha ação. Nenhuma palavra consegui dizer. Não ainda. Mas os olhos de Lara, curiosos e sedentos por saber o teor da conversa de outrora, permaneciam a espera. Mas o que eu poderia dizer? A verdade? Que sua mãe estava tentando me comprar e eu estava me permitindo ser vendida sem contestações? Que estou com vergonha de olhar em seus olhos, mas que apesar disso, não consigo abrir mão do bônus que seu retorno meu trouxe? Ah, Catarina! Por quê é tão difícil encontrar respostas?

— Ela me promoveu. — falei prendendo o ar, com medo da reação que estava por vir.

— Agora entendi tudo. Essa cara de velório foi para me fazer acreditar que era uma pessima notícia? Que maquiavélica, senhorita! – ela disse sorrindo e se aproximando... — Uma promoção? Então era isso? Mas que maravilhosa notícia, Catarina! — ela disse em êxtase, me envolvendo em seus braços, festejando a notícia com um abraço forte, calmo e protetor, celebrando o momento com mais alegria do que eu. Ela me segurou tão forte, mas tão forte, que eu podia até sentir as palpitações de seu coração em contato uníssono com as minhas. O brilho dos seus olhos encontravam-se com os meus e sem que minha mente entendesse bem a respeito da força involuntária que juntava nossos corpos, quando nos demos conta, como imãs nossas bocas já estavam grudadas. Era um beijo do qual todo o meu corpo estremecia rendido. A forma como suas mãos percorriam carinhosamente meu rosto, me enchendo de carícias, me deixando vulnerável, me fez sentir no gosto de seus lábios o meu vício mais inebriante.

Mas como um flash cruel enviado por anjos malignos no intuito de me desprender daquela sensação, a lembrança do porquê eu não poderia me apaixonar por Lara me tomou. Juntei as forças que eu nem sabia que me retavam e afastei seu corpo para longe do meu. Eu queria continuar sentindo aquela sensação maravilhosa que só o beijo dela me submetia, mas eu não podia. Eu me recusava a usá-la. Eu não queria despertar seus sentimentos e lucrar com isso. Que tipo de pessoa eu seria afinal?

— Fiz mal em te beijar? Desculpa, é que por um instante pensei que você também queria. — ela perguntou triste, tentando entender os motivos pelos quais eu a afastei. Mas antes que eu  falasse qualquer coisa, continuou tentando encontrar explicações... — Já sei, foi um péssimo ambiente, é seu local de trabalho e eu deveria respeitar isso. Sei o quanto você respeita esse lugar e ama o que faz.

Ao ouvir aquelas palavras tão carinhosamente proferidas, não consegui fazer nada além de sair correndo, me debulhando em lágrimas, para longe dali.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora