12 - Escola

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Lara

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Nem bem sai do estagio no jornal e já tive que vir correndo para a escola fazer essa droga de teste de matemática. A pior parte disso é que não estudei nada, o Arthur até tentou passar as matérias comigo, mas eu estou tão cansada com as papeladas de relatórios que Catarina está praticamente me obrigando a fazer, que quando dei por mim eu já estava dormindo rodeada de livros e apostilas. Nem sei em exato em que momento da noite me despedi de Arthur; na verdade nem sei se ao menos o fiz. 

Com minha droga de atraso, provavelmente ele já devia estar na sala. —  Calma, Lara. Só faltam seis meses para o fim desse ciclo, para o inicio da sua maioridade e para as coisas começarem a estabilizar; ou talvez ruírem de vez. Seis meses! — eu repetia isso em minha cabeça como um mantra. 

Entrei na sala e por sorte ainda estava em tempo, o professor Marcos ainda não havia entregado suas avaliações. Olhei em volta e quase todos os lugares estavam preenchidos, só haviam duas vagas e ambas próximas da Kiara - obvio que ninguém sentaria perto daquela cobra por opção. Mas quem manda chegar atrasada? - Joguei minha mochila na carteira e me acomodei. Após alguns minutos Marcos entregou a lista de questões e como o previsto, eu não fazia a menor ideia de como responder aquilo. Olhei em volta e notei Arthur no auge de sua concentração, la no primeiro acento da segunda fila. Putz! Eu estava ferrada. 

"Não posso reprovar outra vez."

"Não vou aguentar mais um ano letivo nessa escola."

Eu estava apavorada. Olhei em minha frente e vi apenas Kiara. Ela respondia aparentemente serena à todas as questões. Sem pensar melhor no que eu estava prestes a fazer, me acomodei melhor na cadeira e tentei observar o que ela escrevia. Ela notou, acho que não sei disfarçar bem,  não sou boa com isso. Tirei meus olhos da sua lista de exercícios e tentei disfarçar, mas já era tarde, ela já havia notado minhas intenções. Meu coração gelou, ela iria falar para o senhor Marcos, era obvio! Eu estava ferrada, ela faria questão de me ferrar! Eram esses pensamentos que vinham em minha cabeça sobre aquela situação, mas do contrario ao que imaginei, ela sorriu, notou algumas coisas em um papel pequeno que destacou dos seus borrões e disfarçadamente me entregou sem que o professor nos visse. Eu pensei duas vezes antes de pegar. Ela não é confiável, e pagar aquilo seria assinar minha sentença de culpa. Mas ela insistiu e eu já estava ferrada o bastante com a possível ideia de reprovação, ser descoberta era um risco, mas optei por corre-lo. Peguei o papel em minhas mãos e o abri rapidamente. Me surpreendi, não era uma pegadinha, nem uma mensagem escrita com teor de sarcasmo do tipo "para de olhar minha prova e vai estudar". Era a resposta da primeira questão. Bom, eu nem sabia se estava correta. E se ela estivesse passando questões erradas só para me ferrar? Bom, dane-se isso, ao menos minha prova não iria ser entregue em branco. Notei sem demora cada calculo que ali estava. Seguidamente recebi outro papel, era a resposta da segunda questão. E enquanto eu repassava para minha lista as respostas, uma confusão me tomava. Eu não conseguia entender o porquê ela estava me ajudando, já fomos amigas sim, mas isso foi há muito tempo, agora praticamente somos rivais heterogêneas. Era obvio que o mais esperado de acontecer seria ela me ferrar. Eu estava realmente surpresa!

Quando o sinal finalmente tocou avisando que era o horário do intervalo, olhei minha prova e notei que faltava somente uma questão para ser respondida, não deu tempo que ela me passasse. O professor recolheu as avaliações e eu sai da sala o mais rápido que pude, nem ao menos esperei Arthur. Eu estava nervosa e com uma adrenalina terrível correndo em minha veias. Colar na prova traz a sensação similar de assaltar um banco; nunca assaltei um banco, mas bom, foi a melhor metáfora que encontrei para comparar. 

Kiara

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Sai da sala e busquei encontra-la, mas ela parecia ter sumido. Onde Lara havia se enfiado afinal? Eu não sei em exato quando nos tornamos essas inimigas mortais que ela acredita que somos. É um fato que pisei na bola quando espalhei seu "segredo" nos corredores da escola, sobre ela ser filha de mães gays, mas bom, ela sempre me pareceu tão inabalável, que realmente pensei que não a deixaria tão mal revelar algo como isso. Foi imaturo, eu sei, mas eu só queria me vingar naquele momento. Eu estava machucada e me sentindo traída por ela ter ficado com o Arthur, mesmo sabendo dos meus sentimentos por ele. Eu não planejei tudo que aconteceu, eu não imaginei que ela ousaria arriscar perder um ano letivo por isso. Eu não imaginei que essa parte de sua historia feria tanto sua alma. E que mal há em ter mães gays? Melissa é uma mulher incrível, tão diferente da minha mãe... Lembro de quando Lara e eu fazíamos a noite do pijama e Melissa nos contava as mais loucas historias sobre o tempo em que viajava o mundo modelando. Eram bons tempos! Mas infelizmente minha mãe proibiu minhas idas até lá quando soube da orientação sexual da mãe de Lara e proibiu principalmente que fossemos amigas, eu obviamente não contei esse fato pra ela, ela já estava bastante magoada com tudo que eu já havia feito e eu também não me perdoava por ter revelado seu "segredo". Então me afastei e deixei ela pensando que eu de fato era essa vilã que não soube perder o nerd mais disputado da escola. Talvez o Arthur foi o menor dos nossos motivos. Mas os reais ela não saberá jamais.  

— Por que você me ajudou hoje? — ouvi uma mão pousando em meu ombro, enquanto eu abria o meu armário para guardar o livro de física.

— Tive pena. Só isso! Mas não pense que isso foi um acordo de paz e que vamos voltar a ser amiguinhas. — falei a última palavra pausadamente da forma mais grosseira e sarcástica que eu pude.   

— Claro. — ela riu devolvendo o sarcasmo. — Foi ingenuidade minha acreditar que você me ajudou porque era o que fazíamos quando éramos amigas. É claro que você só quis engrandecer seu ego e provar para si mesma que ainda sou a bobona que precisa de você. Mas acontece que não sou. Não mais. 

— Ah, não? Jura? Confesso que pareceu enquanto ainda estávamos na sala. — eu estava me odiando internamente. Eu não queria ser essa idiota, mas eu não podia ser legal com ela, por mais que eu desejasse, não podíamos voltar a ser amigas. Minha mãe era a diretora desta escola, ela não permitia jamais que eu voltasse a andar com Lara. E saber disso me matava por dentro. Não havia um só dia que eu não sentisse saudades dela, das nossas conversas, nossas risadas. 

— Jura que todo esse ódio é pelo Arthur? Saiba perder, Kiara. Ele escolheu a mim, e se ele tivesse escolhido a ti, eu não jogaria para o alto uma amizade como a nossa levando esse pequeno motivo como razão. E vamos ser sinceras... Quem não me escolheria? Você é só a filhinha da diretora temida por todos, a popular, mas se quer saber,isso não te faz menos solitária do que realmente é. Eu era única amiga que de verdade você tinha, eu te doaria um dos meus rins e cortaria uma parte do meu figado se você precisasse, eu me atiraria na frente de um carro para te salvar se você estivesse atravessando desapercebida, mas você jogou isso fora por uma birra idiota de disputa amorosa? O Arthur significava realmente isso tudo para ti? —  eu estava me segurando para não chorar ouvindo cada palavra, mas aguentei firme. 

— Esse assunto está desgastando minha paciência. Se puder me dar licença, preciso ir, vou estudar para os testes futuros... E se eu fosse você, faria o mesmo. — falei trancando o armário, fingindo firmeza, sentindo um nódulo na garganta e indo para longe dali. 

Eu sentia uma falta absurda de Lara. Uma falta que talvez nem seja possível decodificar. E mais que isso, eu me sentia sangrando em todas as vezes que eu ousava ser grosseira e firme diante dela. Tudo que eu queria era terminar nossas briguinhas com um abraço e dizer: "lembra, era assim que fazíamos?"

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora