33 - O anel - Parte 2

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Lara

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Arthur partiu, mas mesmo após um banho relaxante de banheira, a imagem daquele anel posto em meu anelar havia ficado vivido para me atemorizar após sua partida. Antes, em tempo algum, senti dúvidas do quanto eu o queria. No entanto, por uma razão que nem eu mesma consigo explicar, me sinto como uma presa ansiando pela fuga dentro de um relacionamento que eu sempre me senti bem até aqui. Arthur não fez nada para que isso seja explicado; continua o mesmo garoto incrível por quem me encantei. Assombrada pela visão daquele anel, o retirei do meu dedo e o coloquei no suporte em cima do criado mudo, observei que o álbum que Kiara me presenteou ainda estava lá. Agora as razões da minha insônia eram um número par. Como esquecer tudo que li? Foram tantas emoções... A idéia de voltar na escola e encarar Kiara me deixava com receios só por imaginar. O dia seguinte era tudo que eu queria agora. 

Deitei minha cabeça no travesseiro, mas o sono parecia ter me abandonado naquele momento. Virei-me de um lado para outro e minha cabeça girava e girava, só o sorriso de Catarina parecia surgir em minha mente como um replay incontrolável. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo comigo. Na verdade a sensação que tive quando ela me tocou, me envolveu naquela dança, não era nada parecida com o que já senti por alguém, até mesmo por Arthur... Mas afinal, o que isso quer de fato dizer? Eu sou lésbica? É isso? O que estou sentindo é atração? 

Antes que eu conseguisse encontrar alguma pequena resposta dentro do meu absorto de pensamentos, ouço alguém batendo na porta e interrompendo-me... Era minha mãe! Lembro-me que desde a infância, ela sempre vem me dar um beijo de boa noite antes de dormir. Acho que ela até já esqueceu que agora já tenho 18 anos. 

 — Vim dar um beijinho na minha filha favorita. — Melissa disse entrando vagarosamente, após três batidinhas na porta. 

— Quem ouve até pensa que não sou a única. — sorri e ela retribuiu com um beijo na minha testa, enquanto sentava-se em um espaço da cama.

— Mesmo que eu tivesse mil, serias minha favorita, sua marrenta. — ela disse me fazendo cócegas e me fazendo gargalhar mesmo contra a vontade. Eu implorei que ela parasse e felizmente não demorou até que ela findasse aquela tortura passiva-agressiva. 

Envolvidas pelo silêncio, seus olhos deram um giro pelo quarto e de forma meio jogada ao acaso, ela viu o estojo com o anel. — ORA, ORA, alguém foi presenteada com estilo por aqui. — ela disse observando o anel. — Foi presente do Arthur?

— Foi. — falei sem muitos detalhes, sem grande empolgação. 

— É um anel tão lindo. Eu no seu lugar estaria eufórica. O que houve? Não gostou da pedra?

— Não é isso, mãe...

— Então o quê? 

— Nada, mãe... Estou um pouco cansada, só isso. Se importa em falarmos disso amanhã? —  eu não sabia em exato o que dizer ou como dizer. O fato é que nem eu sabia o porquê aquele anel mais parecia um fardo que um presente. 

— Bom, tudo bem, amor, você deve estar cansada mesmo, eu também estou. Agora que já dei o beijinho da minha filhinha favorita, vou para meu quarto, pois a festa foi longa e também estou exausta. — ela disse levantando-se, mas antes que ela fosse eu implorei...

— Mãe, não vai ainda, me responde uma coisa antes de ir? —  eu estava insegura sobre o que eu estava prestes a perguntar, mas agora era tarde para voltar atrás; respirei fundo e fui.

— Diga, filha...  

— Como a senhora soube? 

— Soube? Soube o quê? 

— Sobre esse lance de ser lésbica. Digo... a senhora sempre soube que era? — eu estava confusa e minha mãe parecia a melhor pessoa para me ajudar a entender tudo, mas eu estava tímida e sem jeito por fazer aquela pergunta.   

— Eu amei seu pai, Lara.  Eu não sabia exatamente sobre minha sexualidade até conhecer sua mãe Eduarda. Eu me apaixonei e, quando me dei por conta, seu pai já não era mais quem dominava meus pensamentos. Mas a verdade é que eu nunca soube, eu só deixei que o coração me guiasse e fui o seguindo. E é exatamente assim que faço até hoje. Estou com Jennifer porque eu deixei que meu coração me guiasse como sempre fez. Mas me diga, filha, porque estas perguntando isso? 

— É que estou um pouco confusa. 

— Confusa? —  ela repetiu minha última fala. 

— Eu nunca me senti assim antes, mas tem uma garota que me faz sentir algo diferente. 

— É  a garota com quem você dançou hoje?  

— Como sabe sobre ela?  — ela me surpreendeu.

— A forma como você olhou pra ela... Nunca te vi olhar assim pra ninguém, nem mesmo para o Arthur. — eu estava perdida com o que minha mãe havia acabado de dizer. Nenhuma palavra saiu da minha boca. Não consegui dizer nada. — Sabe filha? Sei que deve estar confusa, mas isso é algo que tem que descobrir sozinha, nem eu, nem Eduarda podemos ajudar, mas saiba que vou estar aqui para te apoiar em qualquer escolha sua e para te ouvir, te aconselhar. Eu mais que ninguém no mundo quero que sejas feliz. Eu só peço que se não tiver certeza sobre o Arthur, não o machuque, ele é um garoto bom e não merece ser magoado. E quanto a essa garota, você tem um ótimo gosto!  

— Mãããaaaaaaaaaaaaãããe.... — gritei sem paciência. Com certeza dona Melissa deve ter entendido tudo errado. 

— Melhor eu ir agora. Se quiser, estarei aqui, bem do outro lado do corredor, é só bater na porta. — ela disse sorrindo e se despedindo. — Mãe, obrigada pela festa de hoje. Foi a melhor da minha vida! — fui sincera.

— Fico feliz que gostou, filha. — ela disse parada na porta, antes de fecha-la e me deixar sozinha outra vez com meus pensamentos.   

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora