Lara
**
Sai da casa do Arthur com mais raiva do que imaginei que estaria. Eu estava desnorteada com os acontecimentos indesejáveis no dia. Tentei enrolar as horas e sai andando sem rumo por ai no intuito de espairecer e quando finalmente me dei conta da hora, o sol já estava se pondo no horizonte. Tomei a decisão de que era melhor eu voltar para casa. Não fazia mais sentido fugir. Era melhor encarar meus problemas de frente, aliás, encarar Kiara de frente. Ela não pode simplesmente decidir voltar para minha vida e desestrutura-la assim.
Bom, ao menos agora eu estava mais livre, sob a certeza de que nenhum laço me prendia a Arthur, apesar de quê, com tantos momentos que compartilhamos juntos, é inevitável não sentir um desconforto no peito relacionado ao vazio que ele deixou. Arthur e eu sempre fomos muito ligados, sempre companheiros e amigos, e viver nesse campo minado não é algo que me agrade muito. Por outro lado, foi escolha dele que as coisas tomassem esse rumo.
Com a cabeça mais fria, retornei para casa disposta a tentar apaziguar as coisas e rever o lado de todas as partes envolvidas, mas por ironia do destino não seria tão fácil estabilizar a situação. Quando bem cruzei a porta da minha casa, lá estava minha mãe, Melissa, no meio de um fogo cruzado entre Kiara e sua mãe. Não sei ao certo como Leonora Cintra soube onde Kiara estava, mas em um bairro pouco populoso e com excesso de fofocas não era tão difícil deduzir. No meio de gritos e palavrões que nem vale apena repetir, Leonora obrigava que sua filha voltasse para casa com ela. Como uma diretora - chefe de ensino pedagógico consegue se comportar tão irredutivelmente assim? Acho que não é educação que ela precisa, é de adestramento mesmo. Agora até consigo compreender a quem Kiara saiu.
Eu como telespectadora de um cena infeliz, assistia Kiara sendo completamente arrastada pelo braço para fora de minha casa, e Melissa implorando clemência à uma mãe que nem merecia tal título. Foi então que meu sangue ferveu. Foi minha vez de mostrar que dentro da minha casa quem dava o grito era eu. Com um movimento abrupto, desprendi Kiara que nos milésimos segundos de liberdade correu para abraçar Melissa como um animal desprotegido que busca abrigo.
— Kiara Cintra, eu ordeno que volte comigo para casa agora mesmo, ou eu te farei arrepender de ter nascido. — a mulher gritou monopolizando a cena.
— Ela não quer ir, então vá sozinha, pois se você ousar obriga-la novamente, vou te colocar daqui para fora com minhas próprias mãos. — esbravejei defendendo Kiara que nesse momento se debulhava em lágrimas.
— Você é a culpada disso, você e sua família de merda. – ela estava mesmo tendo a petulância de ofender minha família diante de mim? — Minha filha era uma garota normal até começar a frequentar essa casa maldita.
— Sua filha nunca seria normal tendo você como mãe. — cuspi tais palavras.
— Te darei até amanhã para ir até a escola, me pedir perdão e esquecer toda essa história de sapatinagem, ou do contrário você perderá tudo, inclusive a pequena fortuna que gasto mantendo seu padrão de vida. E quanto a você, branquela? Não pise mais na instituição de ensino da minha família, pois do contrário, não responderei por mim.
— Ouse me expulsar e abrirei um lindo processo judicial e enfiarei no meio da sua bunda. Ser lésbica não é crime e nem justificativa para uma expulsão, mas eu aposto que seu preconceito é motivo suficiente para que meu tio Rafael, um dos maiores advogados desse país, consiga arrancar até as moedas que você gasta comprando suas calcinhas. Agora vá embora antes que eu suje minhas mãos metendo-as na sua cara. — falei enquanto assistia a cena dela indo embora com o rabinho entre as pernas...
VOCÊ ESTÁ LENDO
L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]
RomanceAlguém lembra da bebezinha deste conto? Pois é, ela cresceu. O tempo passa rápido e não há tempo para cruzar os braços e esperar as horas passar, ele é tão veloz quando o piscar das suas pálpebras. Quarta temporada do romance lésbico - CLARA E DUDA.