50 - Dona Madalena

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Lara

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Ligarei para Arthur e descarregarei sobre ele toda minha raiva. Como ele havia sido tão canalha? Essa atitude não condiz com o Arthur que eu conheço. Mas e se talvez, só talvez, fosse um plano louco armado por Kiara? Bom, não seria a primeira vez que ela apronta assim. Acho mais provável ela agir com maldade que Arthur. Não quero acreditar que o garoto com quem compartilhei tantos momentos seja um babaca irreconhecível. Peguei meu celular e disquei o número do meu ex, mas incrivelmente não chamava. A ligação entrava sempre na caixa de mensagens. Será que ele teve a audácia de me bloquear? Se for esse o caso, só prova que ele é um fraco que não sabe enfrentar as coisas de frente. Mudei meu trajeto e segui a caminho da casa do Arthur. Se ele não era corajoso o suficiente para atender minha ligação, teria que ser corajoso o bastante para olhar em meus olhos. 

— Lara? Quanto tempo, filha! —minha ex sogra disse receptiva ao atender a porta, beijando-me a testa. Será que ele havia esquecido de comentar com ela sobre nosso rompimento? Ah dane-se isso agora. 

— Olá, senhora Madalena. O Arthur está em casa? — perguntei dando pouca chance para que ela entrasse em um assunto. Conheço bem dona Madalena e sei o quanto ela ama conversar. 

— Você conhece seu namorado... Ele está lá em cima revisando os conteúdos, enfurnado naquele quarto do qual ele não sai nem para ver luz do sol. Vá lá e tente fazê-lo descer para ao menos um lanche. — ela realmente não imaginava o que estava acontecendo e eu sem saber como contar, apenas sorri deixando que a verdade viesse por meio de Arthur. 

Subi as escadas e fui até o quarto. Dei algumas batidas na porta e ninguém respondeu. Estava entreaberta e resolvi entrar na cara de pau mesmo. A pilha de livros desorganizados na cama entregava que não fazia muito tempo que ele esteve ali. Repentinamente dei de cara com Arthur recém saído do banho. Tudo que ele tinha cobrindo seu corpo era uma toalha. As gotas de água percorrendo seu corpo descendo de seus cabelos negros marcavam a silhueta de seu corpo franzino. Eu fiquei vermelha diante daquela visão e creio que ele percebeu.

— Por que esse olhar tímido? Até parece que nunca me viu assim. — ele disse com um sorriso maroto nos lábios, como se estar despido diante de mim fosse a coisa mais natural do mundo.

— Digamos que já vi sim, diversas outras vezes, porém somente quando namoravamos. Os tempos mudaram e você deveria respeitar isso. – afirmei sem humor.

— Mudaram? Nós demos um tempo no relacionamento, algo para espairecer. Nunca houve um rompimento de fato. Não seja tão radical. Você errou comigo, Lara. E sabe disso. — ele estava mesmo agindo como se fosse a vítima?

— Você já deveria me conhecer o suficiente para saber que comigo não existe esse negócio de "tempo". Além disso, eu nunca te pedi tempo, você se foi e não me disse se era um "até logo" ou um "adeus".

— Estou dizendo agora... Eu perdoo o beijo que rolou entre você e Kiara. Quero esquecer tudo isso e retomar nossa relacionamento. – eu já nem sabia se ele só estava sendo cínico ou se realmente não sabia a dimensão das ações dele.

— Você me perdoa? Por favor, não seja tão cômico, Arthur. Eu não quero seu perdão. Sabe quem estava agora mesmo na minha casa? Se pensou Kiara, acertou. Eu já estou sabendo o que você fez. Acha que falar do nosso beijo diante de toda a escola, sabendo que a mãe dela tem ouvidos atentos a tudo que acontece naquele ambiente, foi justo com todos os envolvidos? Bom se isso não foi por maldade, não sei porquê foi.

— Eu estava magoado, droga! Ela beijou a minha namorada. Natural que eu fosse tirar satisfações da situação. Eu não pensei nas consequências, não quis que a diretora ouvisse, mas quando me dei conta já havia feito.  — olhei em seus olhos, mas já não sabia se acreditava no que ouvia.

— Só vim para dizer que definitivamente acabou, Arthur. Não somos mais namorados. E talvez, até que eu acredite que não fez isso por mal, nem amigos seremos. Você foi cruel, sabia que toda a minha adolescência foi um inferno por terem descoberto sobre minhas mães, e agora você deu a essas pessoas outra oportunidade de transformarem minha vida em um novo inferno. O que acham que vão comentar nos corredores da escola além da " ruiva que pegou a filha da diretora"? Se bem que você estragou minha vida, mas deu um tiro no próprio pé. Pois foi você quem saiu como corno na história. Espero que tenha valido a pena para você.

— Eu nunca te magoaria premeditadamente. – ele disse antes que eu batesse a porta e fosse embora dali.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora