49 - Sob o mesmo teto

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Lara

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Voltei para casa o mais rápido possível, apreensiva, na ânsia de saber quem estava à minha espera. O suspense de Melissa, a falta de detalhes deixou a situação mais curiosa. Seria mesmo Arthur? Ele não tem mandado sinal de vida, não mandou uma mensagem sequer depois que rompemos, por certo ainda se sentindo bastante magoado, porque então o faria agora? Não estou muito certa de que seja ele. Mas e se não for, então quem será?

Bom, isso é o que vou descobrir agora.  – pensei enquanto girava a chave na maçaneta e adentrava minha casa.

O suspense se desfez em questão de minutos e uma atmosfera de perturbações tomou o ambiente quando me deparei com Kiara no sofá com minha mãe. A conversa tinha um teor enigmático e sobrecarregado e minha entrada ocasionou uma parada abrupta no assunto. O que Kiara estava fazendo em minha casa novamente, após tanto tempo me ridicularizando entre nossos colegas de colegial e agindo tão indiferente a nossa amizade? Veio me surpreender com outro beijo e uma conversa estapafúrdia de sentimentos reprimidos? Droga, porque ninguém consegue ser feliz por mais de meia horinha? Pelo visto não é só felicidade de pobre que dura pouco.

— O que veio fazer aqui? – perguntei sem o menor humor, enquanto Melissa entendeu que o assunto era sério e se levantou indo em destino a cozinha para nos dar privacidade.

— Vim para te pedir socorro. – ela disse se rendendo às lágrimas.

— Socorro? Errou o endereço, aqui não é pronto-socorro. – alfinetei como meu humor negro.

— Eu sei que você ainda deve estar me odiando pelo beijo que custou seu relacionamento, mas não seja cruel. Eu não planejei te fazer mal. Quando cruzei com Arthur nos corredores da escola e ele me culpabilizou pelo rompimento eu senti uma culpa terrível. Eu tentei me desculpar, mas ele gritou para todo mundo, os boatos se espalharam e a grande direita soube. Isso mesmo, minha mãe descobriu e desde então minha vida se tornou um inferno. Ela me machuca jogando sobre mim a culpa de ter envergonhado o nome da família, ela inclusive ameaçou te expulsar da escola, mas eu disse que se ela ousasse, eu sairia de casa.

— Minha mãe para uma fortuna para me manter naquela inferno e ela ameaça me mandar embora por preconceito? Ela que faça e vai ganhar um bom processo judicial. Só para deixar claro, meu tio Rafael é um dos melhores advogados do país.

— Não Lara, não é essa a questão. A questão é que quando ela me viu em sua defesa, ela mesma disse que a casa dela não era mais minha casa. Ela me mandou embora e me expulsou da escola que é dela por herança famíliar. Segundo ela, quem mancha a honra da família, não merece usufruir do patrimônio deixado. Eu não sei o que fazer ou para onde ir.

— Isso não é problema meu. Aqui não é abrigo para sem teto. – afirmei enfurecida enquanto ela soluçava em meio a tantas lágrimas.

— Lara, essa não foi a educação que te dei. Como ousa mandar embora quem não tem para onde ir? – Melissa estava mesmo tendo a petulância de ouvir minha conversa e invadir minha privacidade? — Kiara poderá ficar sim, essa casa é enorme e tem vários quartos sobrando. Jennifer está em uma viagem de trabalho para o Canadá e somos só eu, você e a governanta, não acha egoísmo negar abrigo para quem já foi sua melhor amiga? – Melissa vociferava alimentando minha

— Se você soubesse o que fez ela deixar de ser, não a defenderia. – ameacei olhando no fundo do abismo dos olhos de Kiara.

— Eu sei. Sei que ela se afastou porque sua mãe não suportava a idéia de que sua filha frequentasse a casa de uma família que fugisse da tradicionalidade. Mas e daí? Não se paga desamor com desamor. Filha, você é mais do que essa marra de quem não se importa.

— Quer saber, dona Melissa? Faz o que você quiser. Só acho que uma adoção tardia é no mínimo cômica.

— Lara não seja ridícula, não estou adotando Kiara, estou ajudando-a em um momento difícil. Estou fazendo algo que você deveria fazer se tivesse ao mesmo um por cento de empatia ou se conseguisse voltar ao passado e lembrar do quanto vocês pareciam inseparáveis. Onde será que você perdeu sua doçura, filha? Essa marra só vai te tornar um ser humano frio e sem compaixão. – ela começou com aquela ladainha que eu já tinha até decorado.

Bati a porta e deixei que elas resolvessem entre si a situação. A verdade é que eu temia essa aproximação com Kiara. E temia mais ainda como Catarina reagiria a isso. Além disso, a raiva pela atitude inconsequente de Arthur ainda estava me incomodando. Como ele pôde?

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora