L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]

47 - Novela Mexicana

Lara

**

Foi intimidadora a extrema atenção que nosso beijo atraiu naquele ambiente. Incrivelmente todos da cafeteria pareciam nos ver como personagens principais de um melodrama mexicano. Eu corei observando a atenção que atraímos, mas Catarina parecia não estar se importando com nada daquilo, parecia até que pra ela aquelas pessoas não existiam ali. Eu admirava tal naturalidade para enfrentar o momento.  

— Meu batom precisa de retoque? — ela me perguntou sorrindo, dando uma piscadela, como se estivesse me chamando outra vez para o encanto daqueles lábios macios. 

Olhei novamente em seus olhos, sorri de forma sacana e completamente rendida respondi:

— Sim. Eles precisam do retoque dos meus lábios. — e então voltei a encara-la segurando seu rosto com minhas mãos frias de nervosismo por circunstância daquele momento, trazendo seus lábios para perto dos meus de uma forma que sua respiração parecia transcender minha epiderme. Meu coração estava prestes a saltar da caixa-torácica, enquanto Catarina ficava ali, com seus olhos enigmáticos, analisando cada centímetro do meu rosto de forma minuciosa. O silêncio no recinto era tão inquietante que me dava um nervosismo ainda maior, as pessoas estavam mesmo levando a sério essa coisa de novela mexicana? Não somos uma peça teatral, não estamos aqui para diverti-los com uma releitura de Titanic, virem-se! - era o que mais eu desejava dizer, mas naquele momento só os lábios de Catarina poderiam calar meus pensamentos. E calaram. Seu lábios inebriavam os meus com um gosto adocicado de batom do qual eu já nem me importava em nos borramos toda.

Ignorando toda atenção que estávamos recebendo,  segurei sua mão e segui para outro lugar que não fosse aquela cafeteria. Eu já não estava me importando com o trabalho, ou com qualquer fator externo, tudo que realmente me importava era a combustão de sentimentos que queimavam dentro de mim. Saímos correndo no meio dos carros como duas loucas envolvidas de encanto, após tanto tempo de sinal vermelho, agora finalmente um sinal verde para desfrutarmos juntas. Guiadas pelo sentimento, entramos em um restaurante no centro da cidade. Ela parecia extremamente reservado e era tudo que precisávamos agora: privacidade. Eu não conseguia guardar meus beijos, meus toques, eu queria destinar tudo de melhor em mim para aquela que estava ao meu lado agora.   

Catarina

**

A maior qualidade de Lara é ser o que realmente é, sem máscaras e camuflagens. Ela não vai camuflar sentimentos e menos ainda agir contraria as suas vontades. Se ela sentir vontade de gritar, ela vai gritar e deixar o mundo saber sobre o turbilhão de sentimentos que predomina dentro dela, seja raiva, alegria ou qualquer outro. Demorei muito até compreender isso, mas felizmente enxerguei a tempo. Desde que nos encontramos na primeira vez, e ela quase comeu meu fígado por ter derramado café em sua blusa, soube o quanto ela era marrenta e dona de um gênio difícil, mas a parte boa é que seu melhor lado não ficou tão evidente no inicio como está ficando agora. A verdade é que conseguir adentrar o coração de uma garota tão marrenta, não será simples, haverão duras e severas etapas. Mas estou disposta. Vale o preço!

Ela é um tsunami constante, vai do amor ao ódio em segundos. Não conseguem filtrar seus sentimentos e respirar fundo para voltar no assunto depois - com mais calma-. Se ela sente agora, ela vai demonstrar agora. Ela não liga para esse lance de "espera a hora certa", ela vai lá e faz sua própria hora. Ela é explosiva e muitas coisas tiram sua paciência com facilidade, mas sua explosão dura até sua raiva passar... ela não ocupa seu tempo guardando rancor, é adepta da regra de que o destino é um eco que se encarrega de devolver aquilo que emitimos. Percebi isso em decorrência dos últimos acontecimentos.  Lara não fala em códigos, odeia meias palavras... Ou você é clara ou não fale. E eu gosto disso. Acredito que rodeios não só fazem retardar o processo. 

— Eu nunca imaginei que um dia tocaria seus lábios. — ela disse sussurrando em meus ouvidos me causando arrepios que percorriam por todo meu corpo. 

— É que o melhor sempre acontece inesperadamente. — falei beijando-a novamente, aproveitando o silencio daquele ambiente.