53 - Matérias de jornal

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Lara

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Quando estávamos no meio do jantar, a campainha tocou nos interrompendo outra vez. Nos entreolhamos desconfiadas, seria a mãe da Kiara outra vez? Espero que não, ou começarei a acreditar que a petulância dela não tem limites. A governanta atendeu a porta, e nossos olhares curiosos iam na mesma direção, sedentos por descobrir de quem se tratava. Felizmente em um dia caótico, a visita não poderia ser melhor; tratava-se de Catarina, aquela que incendiava meu coração com sua presença. Notei que Melissa me olhou com curiosidade, se perguntando o que ela havia ido fazer ali, mas Catarina foi ágil e usou uma desculpa qualquer de que tínhamos umas matérias para organizar para o jornal e minha mãe engoliu, bom, ou ao menos fingiu ter engolido. Não que  quiséssemos esconder, mas é que estava cedo demais para contar, afinal são menos de 24 horas de seja lá o que temos.

Melissa com a mesma cordialidade que usa para atender todos que adentram sua casa, convidou Catarina para se juntar a nós no jantar e anunciou sua especialidade: tortellini. Minha mãe amava cozinhar e esse prato em especial era o meu preferido. Tem sabor de infância. Catarina aceitou o convite, para não fazer desfeita, e notei que seus olhos sedentos buscavam entender quem era aquela morena na mesa junto a nós. O olhar de Kiara indagava o mesmo sobre Catarina, e eu me sentia no meio do fogo cruzado de uma guerra fria de olhares. Engoli a seco e apresentei devidamente ambas, Catarina como uma colega de trabalho e Kiara como colega de sala para que fosse possível jantarmos em paz. 

Quando finalmente estávamos satisfeitas, a governanta ajudou Melissa a tirar a mesa e nós três subimos juntas, Kiara para o quarto de hóspedes e Catarina e eu para o meu quarto. Eu estava ansiosa por ficar a sós em sua companhia, louca pelos beijos que tivemos que adiar, louca pelos abraços que não conseguimos nos envolver. Apesar da visita repentinamente e da desculpa mais esfarrapada das matérias, eu estava feliz que ela tivesse tomado coragem para vir me ver. Ao final do dia terrível de hoje, era exatamente tudo que estávamos precisando. 

Sem muito esperar, nem bem cruzamos a porta do meu quarto e já fui beijando-a com sede, sem lhe dar chance de proferir qualquer palavra que fosse. Eu estava sedenta por provar de seus lábios outra vez. Mas ela queria respostas e explicações e então interrompeu aquele momento para entender o que estava acontecendo...

Kiara

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Colega de trabalho? Assuntos de trabalho numa hora dessas? Nada disso parece fazer sentido. A forma como elas se olhavam na mesa com tanta cumplicidade, a rapidez e pressa de Lara para que elas subissem para seu quarto, algo de errado não está certo nessa história. Meu sexto sentido não em engana. Será mesmo o que estou pensando? Sinceramente? Espero do fundo do meu coração estar errada.

Levantei-me caminhando pé-ante-pé e fui vagarosamente até o quarto de Lara para ter certeza. Eu precisava sanar de uma vez por todas aquela dúvida que estava me matando e me corroendo aos poucos. A porta do quarto estava entreaberta, e então a passos lentos me aproximei.

A imagem que eu mais temia se materializou. Ambas envolvidas em um beijo ardente e apaixonado se fez diante de mim. Mas a pior parte veio quando Catarina interrompeu o beijo para perguntar sobre mim. A resposta de Lara foi o quê mais me machucou. 

— O que uma colega de sala está fazendo abrigada na sua casa? — pelo seu tom notei o quanto ela estava descontente com minha presença ali.

— Ela foi mandada embora de casa pela própria mãe por sua condição sexual. Minha mãe quis acolhe-la, eu me posicionei contra, mas não pude fazer nada. — ouvir mais uma vez o quanto Lara me queria longe, me machucou profundamente. Não era fácil aguentar a sensação de ser um peso. 

— Que ótimo, agora sabendo que uma outra lésbica está morando com você me faz sentir até mais aliviada. Certamente agora terei boas noites de sono. — ela ironizou e eu senti o desprezo da situação na sua voz. 

— Não seja tola. Você sabe que é você quem eu quero. — ouvir aquilo era o suficiente para golpear meu coração. — agora vem cá e me dá um outro beijo?

— Dou, mas antes você vai ter que me jurar que nunca teve ou terá nada com essazinha ai. — essazinha? Juro que se eu não estivesse de favor aqui, eu quebraria a cara dessa fulana. 

— Não posso negar que entre mim e Kiara já houve um beijo, mas isso foi antes e não voltará a acontecer. 

— Um beijo? E você me diz com essa naturalidade toda? — ela repetiu perplexa. — Quer dizer que vocês já se beijaram? Devo me sentir mais tranquila agora? 

— Quantas vezes terei que repetir que só quero você? — Lara disse beijando-a e eu quis sair dali no exato momento.  Busquei a saída mais rápida para longe dali, deixando para trás a visão de duas garotas -aparentemente- apaixonadas trocando caricias e beijos. Meu ego estava golpeado e derroto.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora