57 - Tratado de paz

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Lara

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Eu praticamente invadi a sala da diretoria, fugindo das acusações de Arthur. E felizmente cheguei na hora do "tratado de paz". Segundo o que vi, Melissa estava segurando a mão da diretora, e mesmo com a cara de nojo pelo ato, senti que elas haviam chegado finalmente em um consenso. Acho que aquela ação significava que eu podia me formar e concluir meu colegial em paz.

Kiara, sussurrou baixinho em meu ouvido "você pode começar a pular de alegria, não terá mais que me aguentar em sua casa." E como meia dúzia de palavras bastam para um bom entendedor, entendi que Kiara foi a moeda de troca para o tratado de paz. Obviamente sua mãe iria querer que ela voltasse para deixar-nos em paz.

No fundo, bem abaixo de toda a minha camada de ironia e marra, eu posso confessar que um certo desapontamento me tomou. Eu estava dividida: parte de mim deseja Kiara longe, mas outra parte queria tê-la por perto.

O fato é que minha mãe e eu retornamos para casa e Kiara resolveu ficar para conversar a sós com sua mãe; eu desejo-lhe sorte, creio que ela precisará. Mas bom, em uma sociedade convencional e completamente preconceituosa, após o choque da notícia, a diretora aceitará a condição de sua filha. Estou certa de que uma mãe que carrega sua cria nove meses na barriga, cuida e dá carinho, não vira as costas tão repentinamente assim. Será difícil, sei bem, mas após uma longa conversa e um tempo razoável, ambas conseguirão se entender. Bem, é o que espero. Melissa confirmou o que eu já imaginava, disse sobre as exigências da diretora para ter sua filha de volta, e Kiara tomou a frente no acordo e se antevendo as palavras de Melissa, resolveu aceitar. Acho que ela não estava mais querendo continuar aqui em casa e acho que tenho uma parcela de culpa nisso. Mas bem, o lado bom é que ao menos agora tudo está resolvendo-se gradativamente.

Repentinamente, após conversar com minha mãe sobre cada detalhe do que havia acontecido, sinto o telefone virar em meu bolso e então sorri quando vi o remetente:

[16/10 1:16 PM] Catarina:

"Por acaso abandonou a redação outra vez e esqueceu de me avisar? Estou com saudades!"

Melissa notando meu sorriso, e quebrando sua discrição, me olha como se pudesse ver através de uma visão de raio X as drogas de borboletas que as pessoas sempre usam como metáfora quando estão apaixonadas.

"Essa menina está mesmo te fazendo bem. Nunca te vi com um sorriso tão largo."

Melissa afirmou como se meu sorriso tivesse lhe confidenciado tudo. Droga, e eu quem pensei em ganhar tempo e falar quando estivessemos mais preparadas, agora sinto que minha discrição ruiu. Como enganar alguém que me conhece desde que nasci e que deve ter passado por tudo que estou passando agora?

- Como soube? - balbuciei.

- Sou sua mãe. Eu simplesmente sei. - ela então sorriu em confidencia.

- Então já que não temos segredos, poderia me levar para a redação? Preciso vê-la. - me senti envergonhada por pedir aquilo, mas era necessário para suprir a sensação de saudade.

- Claro, afinal fica no caminho do aeroporto mesmo e hoje é o dia que Jeniffer retornará a Recife. Tomara que seu vôo não atrase como da última vez, ou ganharei novas rugas de tanta preocupação.

- Isso que você chama de preocupação eu chamo de saudade, e sinceramente eu entendo bem. E sobre rugas, você está ótima, mãe. Cada dia mais linda! - sorrimos selando o momento com um abraço.

- Claro que sabe bem, afinal Catarina é o nome da sua saudade e a prova é essa pressa para voltar ao jornal. - sorriu. - Só não quero que misture as coisas; estou feliz que esteja criando gosto pela redação, mas não quero que seja apenas porque Catarina também trabalha lá. Quero que encontre seu foco realmente.

Após o sermão, saímos às duas juntas para os nossos respectivos encontros. Ao menos com minha boatrastra de volta a atenção seria dividida e o humor de Melissa seria sem dúvidas mais leve. Santa Jeniffer!

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora