30 - A valsa - parte 2

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Arthur

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Depois de horas forçando a porta, finalmente consegui desemperra-la. Peguei na mão de Ariane e puxei ela para longe dali o mais rápido que consegui. Eu tentava a todo custo lutar contra o tempo, pois se eu perdesse a valsa, não me perdoaria jamais. E Lara muito menos. 

Ariane reclamava vezes por vezes da rapidez com a qual eu caminhava, e foi ai, no meio do percusso, que lembrei-me de soltar sua mão. Obviamente chegar no salão segurando a mão de outra que não fosse minha namorada seria completamente antagônico e irresponsável da minha parte.  

Catarina

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O ritmo que iniciou calmo e lento, foi gradativamente ficando mais rápido e dançante. Nós não havíamos ensaiado juntas e tudo foi na base do improviso mesmo. Mas o mais irônico de tudo era a maneira como parecíamos estar conectadas; nossa dança foi ganhando forma, jeito e quando nos demos por conta, todo aquele receio de errar parecia ter se dissipado. Seus olhos penetraram o fundo dos meus e ninguém mais parecia existir ali além de nós, ainda que todos os olhares daquele salão estivesse voltado para a gente. Meu coração parecia que a qualquer momento iria saltar da minha caixa torácica. Eu nunca havia me sentido assim antes. O que estava acontecendo afinal? Um frio tomou meu estômago e se eu acreditasse em todo aquele clichê idiota sobre borboletas, eu até diria que esse era o diagnóstico. A forma como seus braços envolviam me corpo. A forma como tudo em nos parecia ter um ritmo próprio. Eu estava hipnotizada e eu já não sabia como quebrar ou fugir deste encantamento. Tudo que eu conseguia enxergar diante de mim eram aqueles lábios que os meus ansiava sentir. Em que momento deixei passar desapercebido o quanto estou veraneável a ela? Detesto admitir, mas Ariane tinha mesmo razão, eu estou completamente entregue ao que sinto por Lara. E a pior parte? É não saber em exato o que sinto! É como se eu pudesse tocar as nuvens quando estou com ela, quando sinto seu toque em mim, seus olhos nos meus... Droga, nunca me senti tão vulnerável!

Lara

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Eu desejava que ela me abraçasse ainda mais forte até que nossos olhares se encontrassem em uma aproximação milimétrica. O calor de seu corpo me deixava em combustão e eu já não dominava meus sentidos. Nunca nenhuma menina me fez sentir isso. Na verdade, nunca ninguém fez, nem mesmo meu namorado. O que estava acontecendo dentro de mim afinal? Eu só sei que queria mais. Ela era como uma droga que apenas um pouco não me bastava, sabia o quanto não podia, o quanto não devia, mas algo me puxava ao ponto de querer mais, mesmo correndo o risco de uma overdose. É estranho. É enigmático. É viciante.

Quando a dança acabou, todos no salão nos aplaudiram incansavelmente. Eu até cheguei a pensar que a quebra de padrões, sobre duas garotas dançarem, resultaria em um choque, mas acredito que pela quantidade de aplausos, a quebra de tabu não foi tão chocante. Eu lembro de alguns rostos específicos que nos aplaudiam desenfreadamente, entre eles os de minhas mães. Mas no meio da multidão, meus olhos pararam na visão de Arthur chegando junto de Ariane, após um sumiço inexplicável. Pela expressão dele, era notável que aceitar dançar com Catarina significava comprar uma briga. Sem permanecer nem mais um segundo, observei ele caminhando apressado para longe dali outra vez. 

Sem tempo para me deliciar com os aplausos, soltei a mão de Catarina, peguei o álbum que outrora havia deixado com o garçom e corri em busca de Arthur. Eu nem sei se era realmente eu quem devesse ir, afinal foi ele quem sumiu, me deixou plantada e apareceu acompanhado de outra garota. Mas bom, eu o conheço, sei que ele não o faria sem uma boa razão. Além disso, sei que ele não me trairia. No meio do percusso, olhei rapidamente para trás e observei a cena de uma Catarina sozinha, olhando atentamente para mim, e sem poder dizer nem ao menos uma palavra, pus sobre ela um olhar culpado que eu rezava para que ela lesse neles um pedido de desculpas... E então fui. 

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora