29 - A valsa

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Arthur

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Eu vasculhava todos os possíveis lugares e nenhum sinal de Lara parecia existir. Eu já estava quase acreditando que ela havia evaporado, quando com êxito indaguei a um daqueles garçons do buffet da festa e ele afirmou que havia visto a "aniversariante" em questão entrando em uma salinha onde guardavam alguns materiais de limpeza, localizado nos fundos daquele enorme salão de festa.

Eu sem demora segui apressadamente para lá, afinal era a valsa que estava em risco... Lara e eu idealizamos por vezes esse momento, ensaiamos juntos diversas vezes, ela não sumiria assim, ignorando isso. Ariane estava agindo como um anjo me ajudando a procura-la e eu nem sabia ao certo como agradece-la. Após um tempo razoável de procura, finalmente encontrei a tal sala em questão e no exato momento fui até lá. Bati na porta que estava entreaberta, empurrei e adentrei. Estava um pouco escuro e me perguntei que diabos Lara estaria fazendo ali? Será que o garçom inventou essa história para zombar com minha cara? Senti a mão de Ariane em meu ombro, por certo ela queria que eu a guiasse em meio aquela escuridão... Chamei por Lara: uma, duas, três vezes e nada, nenhuma resposta. A ruiva eu não encontrei, mas ao menos na parede consegui localizar um interruptor e finalmente a luz pairou naquele lugar.

— Acho que ela não está aqui. Foi tudo mentira daquele garçom idiota. —  reclamei sem paciência para Ariane. 

— É melhor irmos embora. Tudo que vamos encontrar por aqui são ratos a baratas. — Acho que era a solução mais cabível naquele momento. 

Retrocedi em meus passos e voltei outra vez para a porta de saída daquele lugar, mas eis que uma péssima surpresa veio para assombrar aquele momento; a porta estava emperrada. Ariane e eu estávamos presos naquele lugar horrível. "Céus, e a valsa? Era tudo que eu conseguia pensar!"

Catarina

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Ela estava segurando em minha mão e seguindo apressada para o salão, e eu só conseguia estranhar aquela atitude. Mas por mais louco que fosse, eu estava gostando da sensação. Quando ela entrou no alcance da visão de Melissa, a ruiva veio como um furação até sua filha:

 — Menina, por onde você andava? É o momento da valsa, o ápice! Como você some assim? Todos estão a sua espera. — ela disse sugando o ar e atropelando suas próprias palavras.

— Mãe, acho que você está deixando passar um detalhe muito importante; onde está o Arthur? Preciso dele para dançar a tal valsa! — eu olhei em volta e meus olhos não conseguiam encontra-lo. 

— Primeiro um some, agora o outro? Céus, essa não... Eu informei ao violinista que iniciasse a valsa assim que você voltasse para o salão, ele provavelmente não tardará a soar seu violino. Como eu iria prever que Arthur sumiria também? Vocês vão me encher de rugas antes do tempo! Vou tentar ir até lá e segurar o violinista... — Melissa disse tentando correr contra o tempo, mas creio que nada mais podia ser feito, pois assim que ela deus os primeiros passos em direção aos músicos, o som inicial do primeiro violino começou a soar. 

Lara

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Eu não podia prever aquilo. Onde caralhos o Arthur estava? Como eu dançaria sem ele? Todos os convidados me olhavam sedentos de expectativas para a dança da qual ensaiei durante dias. Minha mãe idealizou tanto este momento, como as circunstâncias podiam ser tão cruéis assim e destruir as expectativas como num passe de mágica? Eu estava apavorada... A sensação que eu estava sentindo era similar ao de uma noiva abandonada no altar pelo noivo ao som da marcha nupcial. Antes que meu celebro processasse uma solução, senti os dedos de Catarina entrelaçando aos meus e sua voz soando... 

— Me concede a honra dessa dança, senhorita? — ela sorriu e olhando em meus olhos continuou... — Não faz tanto tempo assim que fiz 18 anos e se for te deixar mais tranquila, ainda lembro perfeitamente de cada ensaio para a valsa... Se me permitir, posso te conduzir. 

Eu sem pensar em mais nada, embarquei naquela proposta que à primeira vista parecia surreal e maluca. Dei o álbum de fotografias para que um dos garçons segurasse durante a valsa e segui Catarina até o centro. Os nossos passos iniciais foram desajustados, mas quando sua mão esquerda apoiou-se um pouco acima da minha bunda e sua mão direita entrelaçou-se na minha para me conduzir melhor, tudo parecia estar mais fácil. Ela notou o quanto eu estava tensa e com medo de errar os passos, mas como forma de me tranquilizar pediu que eu esquecesse todos ali e concentrasse apenas nela e naquele momento; esquecesse qualquer outro que naquele salão também estivesse. E de uma forma inexplicável, tudo além dela sumiu.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora