15 - As pautas

3.8K 522 69
                                    

Lara

**

Elisa estava realmente furiosa e por mais que eu quisesse formular uma defesa na minha cabeça, era quase impossível, levando em conta todos os fatores. Era mais desesperador ainda ver Catarina tentando limpar o café caído naquelas páginas com a toalha que estava sobre a mesa. Seria cômico se não fosse tão trágico.  Eu estava nervosa, mas ver a inocência e ignorância de Catarina em acreditar que a toalha de mesa amenizaria a lambança que ela fez só causava em mim um ataque de riso desnecessário. 

— Tá rindo de que sua idiota? —  ela me atacou rancorosa. 

— Da sua imbecilidade. Acha mesmo que isso que está fazendo vai adiantar algo? A marca de café não vai sair como num passe de mágica. 

— Ao menos estou tentando fazer algo para remediar a bagunça que você causou.  Se você não tivesse trazido as pastas para o café em pleno horario de serviço, nada disso estaria acontecendo. 

— A culpa não é minha se você é bocó o suficiente para ficar derramando café em tudo que vê pela frente. Qual tipo de demência mental você tem? 

— Já chega as duas. —  ela gritou. — Não vou ficar aqui vendo esse showzinho barato. O Lè Coffee não é espaço para resolvermos isso. Espero as duas na minha sala dentro de 15 minutos, e não ousem se atrasar, pois do contrario, o setor que deverão passar será o RH. — ela realmente não parecia estar brincando. — Enquanto a você Ian, recolha o que sobrou dessas anotações, tente passar a limpo e reencaderna-las.  Se conseguir fazer isso e me entregar ainda hoje, prometo que será bem recompensado. — Elisa vociferou saindo da cafeteria e nos deixando para trás.

— Lamento garotas, mas acho que vocês estão ferradas... — Ian disse sorrindo vitorioso , recolhendo as pastas das mãos de Catarina e seguindo os passos de Elisa como se fosse um cachorrinho de madame. 

— Viu o que você fez, garota?  Você destruiu qualquer chance que eu tinha de fazer um marketing positivo de mim mesma dentro da redação. Tudo estava perfeito até o dia em que chegou aqui. —  ela disse com raiva e desprezo, indo embora e me deixando sozinha. 

Catarina

**

Essa garota estava indo longe demais. Minha vida profissional estava perfeita, até ela chegar e fazer tudo desandar. Não é porque ela não tem sonhos, metas e expectativas para o futuro que ela deve sair por ai destruindo as minhas. Eu devia nunca ter sentado naquela droga de mesa. Nunca ter aceitado acompanha-la no cappuccino. Nunca ter acreditado que ela era mais que uma completa babaca. Céus, como eu odeio essa aprendiz de Nazaré Tedesco. Se ela queria ferrar minha vida, era melhor me jogar da escada, mas não ficar destruindo meu maior sonho e me mutilando assim. 

Elisa não vai aliviar para mim. Ela vai arrancar meu figado com as próprias mãos e colocar na prateleira de sua sala como troféu. Aposto que com a "filhinha da chefe" nada vai acontecer, pelo motivo mais óbvio do mundo: ela é filha da chefe. E eu? Aposto que Elisa vai aplicar um castigo em dobro em mim só para me fazer pagar pelas falhas daquela imbecil também.  

O mais cruel nesta situação é que um mero funcionário de gráfica conseguiu me atropelar em menos de meia hora. Passei meses fazendo rotatividade para finalmente conseguir estar no setor administrativo, e um dedo duro qualquer consegue roubar as pautas que eram minhas e de quebra ainda ganhar a admiração de Elisa. O que caralhos falta me acontecer? Prefiro nem duvidar da crueldade do destino, porque sempre que acho que não pode piorar, o destino trabalha e dá um jeito de me surpreender, me mostrando que abaixo do fundo do poço, tem o pressauro para cavar mais.  

Lara

**

Eu estava me sentindo culpada, apesar de saber que eu nem deveria me sentir. Foi essa idiota que deixou cair cappuccino em tudo, não eu, foi dela a parcela total do erro... Mas por outro lado, apesar disso, é o sonho dela, a carreira dela que está em jogo. Jornal, redação, revista não fazem parte do meu mundo, mas fazem do dela. Eu não posso ignorar isso e simplesmente rir com o fato dela estar ferrada. Eu não ligo se minha mãe vir com uma reclamação daquelas me aplicando medidas de punição, porque sei que as punições são sempre sobre afastamento da função, e eu amaria me afastar dessa droga de rotina por um tempo. Mas por outro lado, não posso esquecer que para Catarina seria o mesmo que arrancar a razão pela qual ela respira. Mas por que caralhos afinal estou pensando nisso? E dai se ela ficar mal com a punição? Ela deveria ser menos descuidada e fim. Ao menos assim talvez ela aprenda a ser mais cuidadosa. 

Eu caminhava em passos lentos até a sala de Elisa. Minha covardia não era exatamente sobre enfrentar a punição, mas sobre encarar a expressão de Catarina apontando pela milésima vez a minha escala elevada de irresponsabilidade. Céus, eu não planejei nada disso, eu só queria descansar meus pés, minha mente, meu corpo... Meu físico estava pedindo socorro. Como eu podia prever? Eu não tenho bola de cristal e menos ainda sou vidente.

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora