31 - Solidão

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Catarina

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Me vi sozinha, no centro daquele salão. Os olhares de todos ainda estavam sobre mim e eu estava perdida. Não eram só os meus sentimentos que estavam confusos, mas minha cabeça estava entorpecida de um vendaval de pensamentos que eu não conseguia organizar. Estar tão perto de Lara como estive, me fez sentir coisas que eu não imaginei que sentiria. Afinal o que é esse sentimento que me toma? Seus lábios pareciam me hipnotizar e eu parecia vulnerável demais para manter a sanidade. E isso soava mais louco e surreal quando eu via diante de mim a imagem de Lara correndo para junto de Arthur. Era loucura dar voz para tudo que eu estava sentindo, quando estava claro que ela o amava, quando era para os braços dele que ela correria sempre. Ele a deixou plantada esperando, e mesmo assim ela está indo ao seu encontro. Como  poderei lidar com isso?

Antes que eu já não pudesse conter meus insanos delírios de tê-la, caminhei até Ariane e puxei minha melhor amiga para o mais longe possível dali. Eu precisava voltar para casa. Eu precisava sair dali. Na verdade estou começando a pensar que foi loucura ter ido. No carro, no caminho de volta, Ariane repetia vezes por vezes uma história sobre a porta ter emperrado e Arthur ter ficado preso e sem chance de ir para a dança. Mas eu já não queria ouvir mais nada sobre aquele assunto. Eu preferia acreditar que ele era um canalha que a deixou sozinha, que uma vítima do acaso. Doeria menos se eu sentisse que ele não a merecia. Mas e se ele fosse realmente um cara legal que a ama? Céus, eu não poderia ficar no meio disso. Eu não poderia lidar com isso. Minha cabeça dá um gira do 360º graus e tudo que consigo imaginar é "o que eles devem estar fazendo agora?" "Será que ela notou a minha ausência no meio de todas aquelas pessoas?". Tantos "serás" me assombram. 

Lara

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— Arthur, por favor, espere? — segurei meu vestido e tentei me equilibrar da melhor forma em cima daquele salto enquanto caminhava apressadamente o chamando. — Ou você para agora e me dá uma chance de explicar tudo ou eu vou aceitar isso como um ponto final. — falei dando o veredito. 

— Essa era a nossa dança. Passei semanas da minha vida ensaiando-a ao seu lado e o que você fez? Dançou com outro alguém. — esbravejou com desprezo. 

— Não aja como se tivesse sido uma escolha minha. Você me deixou plantada aqui. Eu não tive escolha.  — apesar de tudo, apesar de sentir que o magoei, eu faria tudo outra vez. Eu não podia fingir um arrependimento que não carrego. Eu viveria mil vezes a sensação de estar nos braços de Catarina.

— Melissa pediu que eu te procurasse, um garçom me disse que te viu entrar em uma sala, fui até lá e a porta emperrou por dentro. Não foi uma escolha minha te deixar plantada, eu te amo demais para arriscar te deixar esperando em um dia tão importante, Lara. Você me conhece... —  eu li sinceridade em seus olhos.  — Por favor, vamos esquecer isso? Não quero brigar. Hoje é o seu dia. Ainda temos a noite toda para rir e esquecer o que houve. — ele propôs beijando-me delicadamente nos lábios e selando a paz. Segurando minha mão, voltamos para o salão. Meus olhos sedentos buscavam Catarina, mas em nenhum metro quadrado daquele lugar ela parecia estar e então aquele clichê sobre a solidão de estar entre tantas pessoas sentindo falta de apenas uma veio e tomou-me. Só agora consigo entender tão bem os clichês.

  

L a r a - [ROMANCE LÉSBICO]Onde histórias criam vida. Descubra agora