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Roberto Alves nunca foi o tipo de cara que ficava espiando pela janela, mas naquele dia quebrou o seu tabu. Ele estava espiando o novo casal que iria ser seus novos vizinhos ao lado. Ele estava observando a mulher ruiva, esguia de corpo sedutor, do tipo de quem gostava de se cuidar.  Estava interessado em conhecê-la, pois seus últimos vizinhos foram um casal de velhos fofoqueiros que sabiam de mais da conta da vida de todos naquela rua. Ele observava a nova vizinha toda feliz, e ela abraçava o homem ao seu lado.

- Amor? - a voz de sua mulher tirou atenção dele.

- O que foi? - disse fechando as cortinas, um pouco envergonhado por ter sido flagrado.

A esposa de Roberto se chamava Daniela, não era muito linda, mas esforçava ao máximo para agradar o marido que era muito exigente. Ela disfarçou.

- O que vai querer para o almoço?

Ele se dirigiu para tomar um drinque no frigobar ao lado e disse:

- Sei lá, o que você tinha em mente?

Ela se encheu de coragem para pedir:

- Estive pensando se... não seria uma ideia de conhecer os novos vizinhos, Rober... Quero dizer, posso fazer um almoço e convidá-los. Que tal?

Roberto sentiu o coração disparar mais ainda.

- Se quiser... por mim tudo bem. - ele queria isso mesmo, mas não demonstrou seu contentamento, preferiu agir frio como se não importasse com nada.

A mulher não sabia se abraçava-o de tão feliz com que ficou com a permissão dele. Raramente Roberto concordava com o que ela proporcionava. Mas decidiu que apenas um sorriso e um "obrigado, querido" era suficiente.

- Então vê se capricha melhor na comida. Não quero os convidados envenenados. - o debochou, e se atirou no sofá, ligando a TV. Daniela mordeu os lábios e não comentou da piada sem graça do marido. Não queria desperdiçar a chance de se enturmar com novas pessoas, pois ela não tinha muita permissão para fazer amizade com a vizinhança, e ela sabia que com um vizinho novo poderia vir a ser um amigo para o seu marido que não tinha ninguém para conversar assuntos masculinos. Daniela então correu para a casa ao lado torcendo que eles aceitassem seu convite.

Daniela abriu o portão do grande sobrado ao lado do seu e passou pelo jardim bem cuidado, parou na soleira da porta e apertou a campainha.

A porta se abriu. A nova moradora atendeu-na.

- Oi! Me desculpe de entrar assim na sua casa... eu sou a sua vizinha ao lado... - e a mulher ruiva sorriu e apertou sua mão, dizendo: "Prazer, eu me chamo Juliana." e Daniela também se apresentou. Ela contou sobre o que veio fazer, e Juliana contente foi conversar com o marido. Daniela ficou esperando enquanto Juliana entrou. Voltou logo depois.

- Eu e meu marido adoramos o convite! A que horas podemos ir?

- Que tal onze horas? O almoço estará na mesa meio dia, mas podemos conversar enquanto a isso.

- Ótima ideia. Então as onze, certo?

- Certo. - confirmou Daniela contente.

Elas se despediram num rápido abraço e cada uma entrou pra sua casa.

- E então? - quis saber Roberto quando a esposa entrou.

- Eles vão vir! - e deu um gritinho de felicidade. Roberto a ignorou e subiu pro quarto.

Daniela correu pra cozinha e começou a trabalhar freneticamente.

Roberto caminhou para a janela e afastou a cortina bem discretamente. Ali podia ver a janela do possível quarto do seu novo vizinho, mas a cortina da casa ao lado estava fechada. Deitou na cama e ficou pensando na vizinha ruiva. Como é linda... é uma pena que seja casada!

Roberto também era casado, mas não queria ter se envolvido em casamento tão cedo assim. Ele casara aos 23 anos de idade, e se uniu com uma garota que nem conhecia direito. Mas casara assim mesmo, e por isso odiava a esposa e seu sogro. Fazia quase sete anos que estavam juntos, sem amor, pelo menos da parte dele, mas sabia que Daniela fazia de tudo para conquistá-lo.

O seu pesadelo começou há sete anos atrás...


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora