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Juliana acordou, mas Marcelo não estava na cama. Ela foi para o banheiro e tomou um banho morno. Vestiu uma roupa caseira e desceu para a cozinha. Marcelo estivera ali, pois a caixa de leite estava fora da geladeira. Ela pescou uma maçã da cesta de frutas e mordeu bem apetitosamente e saiu a procura do companheiro. Foi lá fora, mas Marcelo não estava no quintal. Também não havia sinal dele na sala. Ela subiu a escada e desconfiou de um lugar. Parou na porta do escritório dele e bateu na porta antes de verificar a maçaneta, e escutou a voz dele de lá.

- Tô aqui, amor! - ela espiou para dentro e pediu licença antes de invadir seu espaço particular. - Bom dia minha princesa... - disse ele sorrindo atrás do computador.

Ele afastou a poltrona e a envolveu num abraço quando ela se inclinou para beijá-lo. Ele estava com uma cara de sono.

- O que está pesquisando?

- Noviiiidades... - dizia entre um bocejo mal reprimido. - Descobri coisas muito interessantes... - ele teclava e imprimia alguns textos selecionados na página virtual.

- Você tomou café da manhã?

- Só um copo de leite e alguns biscoitos... mas no momento não quero comer mais nada. - ele olhou para ela e acrescentou maliciosamente. - Mas você não está incluída nisso, heim?

Ela apertou seu rosto e o beijou graciosamente.

- Tem que ser agora, é?

- Pode ser depois quando eu terminar aqui. Estou desde as 03h00 da manhã.

- Meu Deus! - disse ela num tom de quem censura pelo próprio bem. - Tome cuidado, querido, ficar muito tempo na frente do computador faz mal a vista. Você mesmo vivia me lembrando quando eu estava viciada na sala de bate-papo, lembra?

Marcelo balançou a cabeça, mas continuava a teclar rapidamente no programa de texto e copiava suas informações num disquete.

Juliana desistiu, conhecia-o bem para lhe dar conselhos.

- Ah, Juliana – chamou ele.

- Sim? - ela parou e virou para ele.

Marcelo teclava no teclado quando avisou.

- O menino do jornal vai vir receber o dinheiro, e está em cima da geladeira, tá?

- Pode deixar – ela saiu.

Roberto tomava um banho demoradamente.

- O que vou fazer, agora? - tentava em pensar numa saída. - Fugir com Juliana para onde?

Ele fechou a válvula e se vestiu. O cheiro familiar da cozinha lhe devolveu um pouco de seu ânimo.

- Bom dia, amor... - anunciou Daniela indo roubar um beijo dele. - Fiz coisas novas! - e tirou da geladeira um bolo de maracujá recheado com calda de cereja e mel.

- Mas seu eu comer vou capotar na cama – brincou ele. - Tá querendo me ver dormindo, não é? - ela cortou um pedaço do bolo e serviu seu prato. Roberto deu uma bocada no doce. - Huuummm! - saboreou. - Você devia estar no lugar daquela loira do mais você, da globo!

Daniela o abraçou. Roberto lhe deu um beijão e o telefone interrompeu o amasso entre eles que já estava resultando numa transa em cima da mesa.

- Eu atendo – disse Roberto a caminho da sala. Já imaginava quem podia ser. - Alô.

- Bom dia, Rober... - disse Valter.

- Oi, Valter... como vai?

- Bem.

- Olha, sobre ontem, eu tentei chegar aí, mas deu um problema no carro e fiquei na estrada e... - o velho riu, interrompendo.

- Ora, deixa disso, não se preocupe. Foi até bom que isso aconteceu – disse. - Gostaria de pedir um outro favor, mas quero que faça desta vez, heim?

Roberto sentiu o sangue fugir de seu corpo. Ele tinha combinado encontrar Juliana novamente naquela tarde.

- Bem... o que seria?

- Gostaria muito que você trouxesse seu vizinho e a esposa dele para um almoço aqui em casa. O nome dele, acho, que é Marcelo... é isso mesmo, Marcelo.

Roberto precisou se apoiar na parede para não se desequilibrar.

- Quer que eu os leve aí? - ele tentou dizer isso no mais natural possível.

- Mas claro que quero! Olha, eu achei esse seu vizinho muito bacana, e eu me simpatizei nele. Vejo nele um potencial em aprender e ser muito útil... ele me faz lembrar quando era jovem. Quero esse homem trabalhando para mim, Rober, e aí você entra em férias.

Roberto sentiu como se uma pedra de gelo seco raspasse pela sua garganta e fosse ter no seu estômago sobre o que ele falara de "férias".

- Tudo bem, Valter... a que horas devemos estar aí?

- Quero vê-los antes do almoço. E traga a Daniela também, ela irá mostrar a casa a mulher de Marcelo. Eu não ia gostar nada de ver você sozinho com a mulher de meu convidado... isso não é decente, concorda? - indagou num tom que só Roberto conhecia entender bem, e aquele tom de voz indicava tortura ou morte. Roberto sentiu algo quente descer entre as pernas, antes de concordar com ele. Roberto tinha mijado nas calças e desligou o fone quando Valter se despediu.

Daniela entrara na sala de estar, perguntando.

- Quem era, amor? - ela reparou em sua calça. - Derramou uísque na calça? - ela indicou para a garrafa aberta em cima da mezinha.

- Sim, eu derramei... - murmurou ele envergonhado.

- Deixa disso, vai... deixe que eu passo um pano limpo – adiantou ela, mas Roberto a segurou pelo braço.

- Deixa que eu limpo. Vai à casa de M-Marcelo e fale que seu pai os convidou para almoçar lá com ele.

Daniela ficou surpresa.

- Hoje?

- Sim... é para todos nós ir. Vai logo, vai.

Daniela saiu radiante, deixando Roberto limpando sua urina com um temor intenso. O cerco estava se fechando em torno dele.

   

A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora