A chantagem do vizinho

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Juliana estava limpando a pia e o fogão quando Marcelo perguntou entrando na cozinha.

- Querida, que dia mesmo você terá que sair com aquele cara do apartamento?

Juliana mordeu de leve os lábios e sentiu um ódio por dentro, mas se controlou. Ela virou para ele.

- Eu não sei exatamente o dia... - ia dizendo ela, mas ele a interrompeu.

- Ora, olhe na sua agenda de compromissos.

Ela sentiu a preocupação invadir seu coração.

- E-Eu a perdi, sabe, não sei aonde foi.

- Faz quanto tempo isso?

- Acho que quarta-feira passada... - mentiu ela.

- Bem, então você está com sorte. Ontem estava passando perto do canteiro de rosas e eu a encontrei – ele tirou do bolso e estendeu para ela. Juliana ficou olhando para aquele caderninho preto. - Vamos, pegue, querida.

Ela sentia o queixo tremer. Ela sabia que ele não tinha achado a agenda no canteiro de rosas... e sabia muito mais que ele já desconfiava que ela mentiu, mas ele ainda continuava sustentando a mentira como se fosse verdade. Juliana pegou a agenda de sua mão.

- Tome mais cuidado com isso, amor... - alertou ele a ela. - Não queremos mais nenhum outro vizinho lhe chantageando, não é mesmo? Principalmente um coletor de lixo... - e piscou para ela e saiu assoviando, antes de ver os olhos dela se encherem de lágrimas.

No almoço Marcelo comentou.

- É hoje que você vai encontrá-lo? - Juliana apenas assentiu com um movimento de cabeça, e mastigava a comida. - Ainda dói quando urina?

- Um pouco... - murmurou ela, limpando os lábios com a guardanapo de boca.

- Olhe, amor... estamos quase chegando lá, só você fazer sua parte direitinho e...

- E já houve uma vez que eu não fiz direito o meu papel? - ela perguntou seriamente. Marcelo mordeu os lábios e sorriu sem graça.

- Não, claro que não.

- Então não se preocupe e deixe comigo – finalizou ela se levantando da mesa e levou o prato e o copo até a pia. Ela lavou a louça quando Marcelo terminou de almoçar, depois subiu para o quarto e procurou uma roupa para usar no novo reencontro. Estava com raiva, mas não por que ia se encontrar com Roberto novamente, pois a ideia foi sua, mas estava com ódio de Marcelo por insistir que ela continuasse encontrando com suas vítimas. Ela sentiu explorada e de pouco valor, porque ele nem parecia mostrar que estava incomodado pelo fato de ela deitar com outros na cama e submeter todas as suas vontades. Que tipo de amor ele sentia por ela?

Marcelo entrou no quarto.

- Juliana, leve isso – ele estendeu um pote para ela. Ela viu e teve que fazer força para não gritar.

- Não se preocupe, eu tenho um pote dentro do carro. - Marcelo depositou o pote de vaselina em cima da cômoda. Juliana continuou a se arrumar sem ligar para ele. Marcelo continuou.

- E se quiser passar uma pomada antes... ela alivia a ardência quando vocês forem transar...

- Querido, eu não preciso – disse olhando para ele com uma frieza. - Farei tudo o que ele me pedir, sabe o por quê?

- Diga.

- Porque irá doer mais nele do que em mim quando tivermos tudo preparado para chantageá-lo. Ele vai sofrer mais do que os outros!

Marcelo sorriu e abraçou-a.

- Isso mesmo, amor! É desse jeito que vamos nos vingar desse cara! Ele vai sofrer muito por tê-la maltratada, e aí quando atingirmos a nossa meta vamos comprar aquela casa no qual sempre sonhamos, e vamos ser mais felizes juntos! Eu prometo!

Juliana o apertou num abraço confortante.

- Eu lhe amo muito, Marcelo... - e depois revelou em pensamentos. "E também o conheço bem para saber que será tudo uma grande ilusão."

Ela o largou.

- Aonde vai encontrá-lo?

- Num restaurante aqui por perto e depois vamos para casa da nossa amiga.

- Ainda tem aqueles comprimidos?

- Sim.

- Então misture-os na bebida dele e faça ele nos contar coisas secretas dele e de sua família.

- Pode deixar comigo. Roberto está nas minhas mãos – ela o beijou e pegou sua bolsa e saiu.

Juliana entrou no seu carro e saiu de ré da garagem. Arrancou o carro dali, lançando um olhar para a janela do quarto de Roberto, e torcendo que ele comparecesse no local combinado.