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            Ele dirigia de volta, enfrentando a chuva forte que embaçava o para-brisa do seu carro, mas ele ainda não tinha deixado o local onde surrava o cara que tentara transar com sua esposa. Ele podia ouvir as palavras do homem enquanto tentava se defender: "Ela se ofereceu para mim... Ela se ofereceu para mim..." então Roberto foi obrigado a sair de sua lembrança quando uma estridente buzina cortou o ar noturno avisando o trágico acidente que surgiria e um clarão forte cegou seus olhos. Roberto sabia o que estava acontecendo e sabia que entrara na pista contrária e estava indo de frente a uma carreta em alta velocidade. Roberto sentiu a morte lhe abraçar, mas não se envolveu à ela e por isso teve tempo de jogar o carro para o encostamento, mas mesmo assim a carreta conseguiu atingir a lateral de trás de seu carro, e o carro foi lançado violentamente contra a mureta. Roberto se feriu na testa quando a sua cabeça atingiu o painel, e Daniela que estava no banco de trás caiu e reclamou: "Rober... pare de balançar a cama... pare..."

Ele ainda tremia de medo quando esticou o corpo para ver se Daniela não tinha se ferido, e viu que ela estava bem, apenas bêbada ainda. Roberto olhou para o retrovisor e a carreta se perdia na estrada. Nem um carro passava naquele momento para socorrê-los, embora não houvesse havido nada de grave entre eles, só o carro batido e o susto mesmo.

Roberto respirou fundo, sentindo o sangue escorrer da testa para o seu rosto duro e frio. Sentiu o corpo ficar menos mole e achou que já conseguia ir embora. Ligou o carro, mas não pegou na primeira tentativa, mas conseguiu ligá-lo e colocou o cinto de segurança e arrancou o carro dali logo, dirigindo atento agora. No trajeto de volta para a casa, Daniela já se recuperava um pouco da embriaguez. Roberto chegou na rua da sua casa e apertou um botão e o portão de sua casa abriu automaticamente e ele enfiou o carro para dentro. Olhou no relógio no painel, era uma hora da manhã. Roberto carregou Daniela para dentro de casa e a colocou no sofá. Ela já estava um pouco consciente, mas não se lembrava do acidente em que quase morreram na volta. Roberto foi até o banheiro térreo e examinou sua testa. Fez um curativo simples e lavou a cara, ainda preocupado nos acontecimentos outrora, mas o que mais lhe incomodava era o fato de ter presenciado sua esposa com outro, quase se adulterando.

Roberto foi até a sala e Daniela tentava se sentar no sofá. Ela forçou o olhar para o marido e percebeu que em sua camisa havia manchas de sangue.

- Querido... o que houve?... - ela se preocupou e tentou se levantar para ir até a ele, mas se desequilibrou e caiu de quatro no tapete da sala. Ela riu dela mesma. - Acho que eu bebi demais da conta... ainda sinto a cabeça girar.

Roberto não ajudou a esposa se levantar e ela ficou olhando para ele com um ar de riso. Ele porém, tinha um ar de magoado, decepcionado...

- Porque, Daniela? - perguntou ele baixo.

- Ann.. o quê, querido?... - ela sentou no tapete.

- Porque você me enganou?

Daniela não compreendera, e ria.

- O que tá dizendo, querido? Eu não consigo me levantar... - ela lhe estendeu sua mão para ele. - Me ajude a levantar Rober... - ele não fez o que ela pediu. - O que foi amor?

- Você não se lembra? No estacionamento do clube, com aquele homem?

Daniela ouviu claramente e se esforçou a mente para lembrar, e algumas lembranças começavam a se formar lentamente.

- Eu... eu me lembro de poucas coisas, Rober... eu estava sozinha, quando um garçom com uma bandeja trouxe uma copo dizendo que você havia mandado para eu experimentar... depois que tomei meus sentidos ficaram confusos... e depois senti que eu não era mais eu, acho que estava ficando bêbada... lembro dele me levando para fora e dizendo que era você o tempo todo... Roberto, eu fiquei fora de mim mesma... - ela levantou os olhos para ele, e compreendeu porque ele estava com aquele olhar triste. - Você não está pensando... que, que eu?... Não! Por favor, eu estava bêbada, ou até mesmo dragada! Eu via o seu rosto e ele afirmava que era você... também estava um pouco escuro, não via com clareza.

Roberto olhou para ela com uma pena imensa.

- Eu acreditei, sinceramente acreditei que seria capaz de mudar... Eu não fui um bom marido para você, eu confesso que senti ódio por você durante esses sete anos juntos... mas acreditei no que você me dizia, que me amava muito e tinha esperança em mim... - ele não teve vergonha de deixar os olhos marejarem em lágrimas. - Acredite Daniela, eu me esforcei... e até tinha pela primeira vez me apaixonado por você...

Daniela ao ouvir isso se rastejou até seus pés e ficando de joelhos abraçou suas pernas, e Roberto afirmou para não se desequilibrar. Ela estava preocupada.

- Não, amor, eu nunca iria fazer isso com você, eu o amo mais do que a minha própria vida...

- Mais do que a Deus? - o interrompeu.

Daniela não hesitou em afirmar.

- Sim. Mais do que a Deus e a Jesus e tudo que for sagrado!

Roberto sentiu um desprezo por ela e riu de ironia.

- Então você está ferrada. Traiu-me e também ao seu Deus... Eu não a quero nunca mais... - sussurrou friamente.

- Não, Por favor, Roberto! Não faça isso comigo! E-eu nunca o trair!

- Mas teve intenção... e escolheu justo esse dia. Porque não esperou mais algum tempo antes de cravar as unhas nas minhas costas e rir de minha cara?

Daniela se esforçou e conseguiu se levantar e abraçou o marido entorno do pescoço e o beijou desesperadamente, mas Roberto virou o rosto de lado.

- Querido, eu amo você! Vamos para cama e você verá, terá absoluta certeza de que o meu amor é e sempre será seu... todo seu!

- Já chega! - gritou ele e se livrou dela. Daniela caiu sentada no sofá, em soluços. Ela gritava.

- Você está sendo injusto! Por favor, não faça isso Roberto... - ela o viu tirar a cinta que lhe dera de presente no dia de ontem.

- Já era para eu ter feito isso há muito tempo, talvez assim ia criar vergonha nessa sua cara e não ia me trair com qualquer um! - Roberto avançou e Daniela puxou as pernas para junto do sofá. Ele rasgou o vestido com um forte puxão e ela ficou de sutiã, e ele não escutou os gritos dela quando ele a surrava com a cinta. Roberto estava sem controle e a cinta dançava furiosamente sobre a pele da esposa.

- Por favor, pare, tá doendo, pare! - implorava ela, tentando se proteger, enquanto apanhava dele.

- Tá doendo, sua piranha mentirosa? Devia ter pensando antes de abrir as pernas para aquele cara! - gritava e desferia golpes e mais golpes de cinta sobre ela. Daniela tentou correr, mas acabou caindo de bruços no tapete. Roberto gargalhou possesso. - Quer apanhar na bunda, é? - e ele atingiu com força as nádegas dela, e as coxas, costas, até ver um corte e sair sangue.

- Pare pelo amor de Deus, pare! - implorava ela, sentindo cada parte do corpo latejar de dor.

- Eu e seu Deus fomos traídos, e no mesmo dia! Você tem sorte dele não descer do céu e tomar a minha cinta e acabar com você! - o debochou.

Marcelo acordou naquela hora, por causa do choro alto da vizinha que lhe chegava até a janela de seu quarto. Ele reparou que Juliana também havia acordada.

- Acho que os vizinhos estão novamente brigando... - o comentou.

Juliana abraçou o marido no escuro do quarto e concordou tristemente.

- É... a paz durou pouco... por tempo de menos... - se preocupou.

A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora