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Roberto estava no quintal, sentado numa cadeira de praia debaixo da sombra de uma árvore. Ele escutou um movimento atrás e virou. Era Juliana que lhe aproximava.

- Oi – cumprimentou ele, tirando os fones do ouvido que escutava música através de seu celular Claro.

- Olá – respondeu friamente ela.

- Quer que eu pegue uma cadeira para você se sentar também? - o ofereceu.

- Não precisa.

- Então? - perguntou ele curioso.

- Qual é a sua, afinal?

- Não entendi.

- Uma hora você é agressivo com sua esposa, mas desconta em mim suas crueldades, depois está de bem entre vocês. Você está enganando Daniela para depois torturá-la como fez comigo?

Roberto ficou encarando-a e ela não evitou que seus olhos descessem as lágrimas.

- Eu... eu não quero falar sobre isso, está bem?

- Você é um homem cruel... - disse Juliana. - Não tem amor próprio e mesmo assim não deixam as outras pessoas serem felizes!

- Eu sei que não adianta muita coisa, mas, eu lamento por ontem... - disse ele tristemente.

Juliana fez uma reação encantadora.

- Oh! Obrigada... não sabe o quanto isso significa para mim, o seu pedido de desculpa! - a debochou num sorriso maldoso.

- Olhe eu sei o quanto fui o monstro com você... - ele se levantou e tentou apará-la em seus braços. Ela relutou, afastou ele, mas por fim não entendeu porque o deixou que ele abraçasse-a.

- Você... Você é um homem sem coração...

- Eu sei disso, me desculpe, é sério... - e beijou amavelmente seu cabelo ruivo.

- Porque você é assim, esse homem tão difícil de entender? - perguntou ela.

- Deixe pra lá...

- Eu queria entendê-lo! Talvez até ajudá-lo, assim estaria ajudando sua esposa a não sofrer mais, e claro, eu principalmente. - riu ela de nervosismo. - Conte-me para mim? - pediu ela.

- Ninguém pode me ajudar... ninguém... - ele revelou num sussurro, de cabeça baixa.

Juliana levantou seu queixo e olhou dentro de seus olhos, outrora cruéis, mas agora assustado e sem esperança.

- Roberto, eu quero te ajudar. Mas para isso acontecer você tem que ajudá-lo também. Por favor, diga o que você sente aí no seu coração... vence esse preconceito de que homem para ser homem tem que resolver as coisas por si mesmo. Deixe eu te ajudar, eu posso tentá-lo compreendê-lo melhor o que você sente aí dentro... - e indicou seu peito. - Tem aí dentro tem alguém desesperado em conversar, pedir conselhos... desabafar... Confie em mim, por favor, vamos conversar... - insistiu ela.

Roberto largou dela e ela ainda segurava suas mãos. Ele tinha lágrimas nos olhos. Ele falou com um tom de rispidez.

- Porque isso agora? Eu fiz coisas horríveis com você e quem me garante que não vou voltar a fazê-los?

Juliana lhe sorriu.

- Sou uma mulher, Roberto, e meu coração tem mais para amar do que para odiar... e nesse momento quero lhe dar a chance de confiar em mim, por mais que eu seja... uma prostituta, acredite, tenho vivido e sofrido todo tipo de situações e injustiças desse mundo. Talvez você esteja passando por isso agora.

Roberto virou o rosto para qualquer lado e fixou seus olhos num certo ponto, mas sua atenção estava ligada nas palavras de Juliana ao seu lado.

- Eu vivo injustiças a mais de sete anos... - murmurou ele.

- Então está na hora de parar de viver essas injustiças. - falou ela.

- Você não compreende, eu não tenho escolha a não ser... - ele não arriscou a falar o resto.

- Roberto, vamos nos encontrar amanhã naquele restaurante, às 13h00. Vou te pegar e vamos para a casa da minha amiga. Temos muitas coisas para conversar... - disse ela e saiu, deixando ele parado olhando para tudo, menos para ela.


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora