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Roberto parara de bater em Daniela.

- Levanta sua vagabunda! - ordenou ele. Daniela chorava sem ter forças para se por de pé, e Roberto a pegou violentamente do chão. - Então eu vou levantá-la!

- Me solta, Roberto! Eu quero descer, por favor! - ela reuniu as poucas forças e tentou se livrar dele. Roberto a imobilizou e conseguiu abrir a porta e as gotas fortes da chuva molharam os dois. Daniela sabia o que ele pretendia fazer, e se agarrou a ele com toda sua força quando ele a forçava para o chão molhado.

- Não, Roberto, não me deixe aqui na chuva! - gritou ela, mas ele a soltou dele.

- Cadela tem que dormir do lado de fora da casa! - disse a ela, e Daniela tentou se segurar nele. - E se você chamar a polícia ou seu prezado papai, eu juro que vou embora e nunca mais apareço! - e puxou a perna em que ela tentava se segurar e fechou a porta antes que ela conseguisse entrar. Daniela gritou, batendo na porta para entrar. Implorou, pediu perdão, mas a porta não se abriu. Ela ficou escorada na porta, enquanto a chuva misturava sobre seu rosto em lágrimas e lhe fazia seu corpo tremer de frio misturado com as dores da surra.

A luz da sala da casa ao lado se acendeu, e a luz de fora também. Juliana vinha com uma capa de chuva e com um guarda-chuva aberto. A vizinha atravessou o portão que Roberto deixara aberto e foi até onde Daniela estava. Daniela levantou a cabeça quando percebeu sua presença. Juliana lhe estendeu a mão.

- Vamos... você não pode ficar aqui. Vai acabar pegando um resfriado e vai ficar pior.

Daniela lhe deu a mão e Juliana ajudou-a ficar de pé, e passou o braço dela envolta de seu ombro e juntas caminharam debaixo do mesmo guarda-chuva. Daniela chegou à frente de sua porta e antes de entrar para dentro olhou por cima do ombro e viu Roberto na janela de seu quarto observando-as. Juliana entrou com Daniela para dentro e a fez sentar no sofá.

- Nossa... o que ele fez com você? - se preocupou a vizinha quando viu as marcas vermelhas espalhada pelo corpo todo da outra. - Ele te bateu? Mas isso é uma covardia sem tamanho, devia ligar para a polícia e denunciá-lo...

- Não! Não, por favor, não quero ver Roberto preso! Ele, ele não fez por mau, eu é que fiz uma besteira... ele estava um pouco alterado por causa da bebida... - tentava justificar a atitude do marido.

- Daniela, você tem que ser forte e colocar um ponto final nessa história toda. Você não pode continuar vivendo assim com ele te humilhando o tempo todo! - alertou Juliana, enxugando de leve o ombro machucado e molhado de Daniela com uma toalha. Daniela espirrou.

- Por favor, não chame a polícia... - pediu ela como se implorasse e chorava agora. - Meu pai foi delegado... pelo amor de Deus, não conte nada!

Juliana ficou sem compreender porque ela queria continuar aceitando aquilo, mas lembrou de que não era muito diferente e concordou.

- Tudo bem, se quer assim... tudo bem.

- A culpa foi toda minha... - começou Daniela. - Rober tinha mudado, eu senti, mas eu estraguei tudo, e justo na noite em que completávamos sete anos em que nos conhecemos.

- O que aconteceu?

- Fico até com vergonha de contar...

- Só estamos nós duas aqui, isso é, meu marido está no quarto, mas se não quiser contar, não se preocupe eu entendo...

Daniela passou as mãos entre seus cabelos encaracolados e molhados.

- Eu bebi demais no clube e fiquei fora de mim... um rapaz chegou enquanto Roberto tinha ido buscar mais bebida e me ofereceu seu copo dizendo que tinha sido meu marido enviado, e eu tomei... Fui idiota e ingênua meu Deus! - lamentava ela percebendo que caiu numa armadilha. - Eu havia ficado bêbada ou então drogada, acho, porque depois disso eu começava a ver o rosto de Roberto no rosto daquele sujeito, e eu o chamava até de Rober... Ele então se aproveitou e disse que era mesmo Roberto e me levou para fora... e eu já estava com ele no fundo do estacionamento... Acho que meu marido chegou ao momento em que eu e aquele homem estávamos... Oh que vergonha! Fui uma completa idiota! - e apertou os lados da cabeça com força, e chorou amarguradamente.

Juliana ficara com pena dela.

- Olhe, eu acredito em você. Você não teve culpa nenhum tá? Roberto, isso é, seu marido tinha que ter mais confiança em você.

- Ele agiu por ciúmes, foi só por isso que aconteceu... amanhã quando ele acordar terá esquecido tudo e vamos voltar a nós amar, você vai ver... - dizia Daniela sorrindo, mas Juliana tinha percebido que ela tentava dizer aquilo mais para ela mesma do que à ela. Mas Juliana sabia que não seria assim.

- Bem, você está precisando de um banho morno e teremos que cuidar desses ferimentos. Vou ajudar você, venha, vamos para o banheiro... – Juliana ajudou Daniela a caminhar. Não foi fácil para enfrentar a água morna sobre a sua pele machucada. Daniela foi levada para o quarto de hóspede, e Juliana a fez deitar na cama de bruços. - Vai doer, Daniela, mas esse mercúrio vai sarar as feridas bem mais rápido do que com qualquer outro, já que você não poderia ir ao um hospital, porque se um médico a reconhece e avisa a polícia, Roberto estaria ferrado...

Daniela concordou.

- Oh, isso é verdade! Mas tudo bem, pode passar o mercúrio sobre as marcas... acredito que não irá doer tanto quanto a dor que eu sinto por magoar meu marido... - Juliana balançou a cabeça e encharcou o algodão com o remédio e passou nas marcas nas costas dela. Daniela gritou de dor, e enfiou a mão na boca para reprimir os gritos que se seguiriam.

- Calma, Daniela, a ardência vai passar logo, não se preocupe... Falta pouco...

Daniela chorava por causa da nova dor, mas ia aguentar firme. Depois de alguns minutos a dor diminuiu, e Juliana ajudou-a vestir uma camisola.

- Obrigada... - murmurou Daniela, sentindo muito sono.

- Bem, você tem que dormir de bruços, tá? - ela cobriu as costas de Daniela com um fino lençol e a beijou na testa, mas Daniela já tinha adormecida. Juliana apagou a luz e fechou a porta.


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora