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- Daniela.

- Sim, querido... - ela estava na pia cortando cenoura, enquanto Roberto brincava com a taça de vinho.

- Quero conversar um pouco...

Ela limpou as mãos no avental e sorriu.

- Quer?

- Vamos um pouco lá fora. - ele estava tenso e estendeu a mão para ela. Daniela respirou fundo e se livrou do avental e foi com ele. Roberto e Daniela sentaram nos degraus da varanda.

- Então? - ela estava um pouco apreensiva com o que ele pretendia, mas tentava disfarçar com curiosidade. Roberto olhou para seus tênis.

- Você alguma vez se arrependeu em ter se casado comigo? Mas diga a verdade, prometo que vou entendê-la.

Daniela se chegou mais junto a ele, passou os braços envolta de seu pescoço.

- Rober... eu o quis desde a primeira vez em que eu te vi, lá no clube, e até hoje te quero como nunca. Eu lhe amo!

Roberto lhe olhou com um olhar triste a distante.

- Você nunca, quero dizer, depois de casada, nunca imaginou-se com outro?

Daniela ia responder no mesmo instante que não, mas lembrou de um rosto e sentiu o coração disparar no peito. O rosto que a olhava com outros olhos... Daniela sentiu uma rápida sensação de traição quando resolveu mentir.

- Nunca, querido... - mas o rosto de Marcelo continuava nítido em sua mente. - Mas porque está dizendo isso, amor?

Roberto olhou para outro lado.

- Quero que saiba que você... que você tem o direito de escolher...

- Como assim, Roberto? - a estranhou.

- Se você quiser pode... pode se divorciar de mim... - disse.

Daniela não aguentou ouvir aquilo e Roberto pôde jurar que ouviu ela antes de se levantar e correr para dentro se controlar para não chorar ali. Roberto esperou um tempo ali sentado e entrou também para acabar com a conversa.

Daniela estava tomando conta da cozinha e se disfarçou estar muito ocupada com as panelas quando Roberto entrou.

- Rober, querido... vai tomar um banho, a janta saí daqui a quinze minutos.

- Daniela... - insistia ele, mas ela perguntou.

- O que vai querer beber? Suco, refrigerante, cerveja?... - disse abrindo a geladeira. Roberto se adiantou e a puxou pelo braço e fechou a geladeira.

Ela o olhava com medo em seus olhos sérios.

- Você ainda não me disse... - ela se soltou de sua mão forte e gritou.

- O que você quer com isso Roberto? Porque está fazendo isso comigo? Está... está chateado ainda comigo por causa o que aconteceu no clube?

- Não mude de assunto! - alterou ele. - Você me ama mesmo o que pode lhe ocorrer de ruim a você? Que espécie de amor é esse, que suporta sete anos de humilhações?!

Daniela desatou a chorar e sentou na cadeira.

- Não sei explicar...

- Mas eu sei. Você se acostumou. Foi isso – disse tristemente.

- Não... eu não me acostumei... estou com você porque eu o escolhi, enchi o meu coração de fé que poderia ter uma vida de amor com você, e ainda não perdi essa esperança. Você é um homem tão bom, Rober, você não sabe disso, mas eu sei por que eu sinto isso em você às vezes, e torço para sentir essa felicidade com você todos os dias... Eu nunca lhe desejei fazer mal, mesmo quando você me humilhava ou me batia... - ela tentava se controlar. - Tive momento de fraqueza a ponto de desejar cometer suicídio... achava que isso iria castigá-lo e provar o quanto lhe amei, mas percebi o quanto você sofreria por causa da minha morte, e eu ia sofrer vendo-o aonde estivesse, ou no céu, ou no inferno. - ela enterrou as mãos no rosto molhado. - Oh, Roberto, eu te amo porque sei o quanto você pode ser maravilhoso... você significa muito para mim, eu não quero nunca me divorciar de você... não quero desistir de você!

Roberto a olhava com muita pena.

- Você não teve culpa... se eu não tivesse sido tão covarde, você não teria sofrido esses sete anos em minhas mãos...

Daniela se levantou e o abraçou fortemente.

- Nunca é tarde, Rober, nunca é tarde para mudar...

Roberto se soltou delicadamente dela.

- Você tem razão... - concordou com um leve sorriso, e beijou-a na testa.

- Aonde você vai? - a indagou vendo-o se afastar.

- Vou dar uma volta a pé.

- Mas a janta está quase pronta, amor... - tentava segurá-lo.

- Deixa pra lá... e não precisa me esperar. - disse ele sem encará-la nos olhos e saiu para fora. Daniela caiu de joelhos e chorou amargamente com o rosto colado no chão.

A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora