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Roberto aproveitou e passou numa livraria. Chegou uma hora depois. Daniela o esperava na sala.

- Oi – disse ele indiferentemente.

Ela veio até ele, sorrindo.

- Oi querido. Quer comer alguma coisa? Posso preparar se estiver com fome... - foi logo prestando seus serviços.

- Eu já comi alguma coisa... - disse ele sorrindo maliciosamente. Daniela não disse nada. Ele chegou mais perto dela, trazia algo escondido.

- O que foi amor? - a estranhou.

- Feche os olhos... - ela obedeceu. - Pronto, pode abrir.

Ela viu um embrulho e pegou.

- Um presente? O que é? - ficou radiante e curiosa.

- Veja você mesmo. Vou tomar um copo de água – ele a deixou na sala, e ela abriu o presente. Lá na cozinha ele escutou o grito de alegria da esposa vindo da sala. Ela correu até ele e sem avisá-lo o abraçou apertadamente.

- Ah... Rober... isso é maravilhoso! Eu queria tanto esse livro da Jane Fonda Obrigada... Ouvi falar que esse livro é maravilhoso! - e ela lhe lascou um beijo profundo nele, e ele correspondeu o seu beijo. - Vou agora mesmo dar uma olhadinha... se você permitir.

- Pode sim – liberou-o. Ele viu a reação dela, era como se fosse uma menina de sete anos quando ganha uma Barbie no aniversário! Roberto foi para o sofá e se atirou nele, ligando a TV. Assistia um programa sobre o mundo animal selvagem, no canal pago. Depois de quase meia-hora mais tarde ouviu os passos da esposa e sua voz preocupada.

- Rober... - chamou ela, com o livro em mãos.

Ele não tirou os olhos do leão na TV devorando um filhote de zebra.

- Diga.

- O livro está todo rabiscado... Algumas páginas estão rasgadas! - avisou ela surpresa. - Temos que reclamar com o vendedor da livraria isso não pode acontecer onde já se...

- Fui eu quem fiz - disse interrompendo normalmente sem olhá-la nos olhos.

Daniela ficou sem o que dizer no momento. Mas saiu uma voz incrédula.

- Você?...

Ele fez questão de olhar para ela agora, e disse.

- Sim. Aí tinha mensagens que uma esposa decente não deveria ler. Essas escritoras influenciam demais as esposas e as mulheres a tomar decisões sem a provação de seus maridos, e eu não quero isso enchendo sua cabeça.

Daniela ainda não queria acreditar...

- Mas Rober... - tentava argumentar, mas ele não lhe dava oportunidade de saber sua opinião.

- Você tem a mentalidade de uma menina de sete anos e por isso não percebe os perigos que contem nesses livros de autoajuda. Uma boa esposa devia em primeiro lugar ouvir os conselhos de seu marido e não dessas autoras que só pensam em vender livros para mulheres ingênuas como você.

- Mas agora será impossível para eu ler... - disse.

- Eu li algumas coisas e separei aquilo que você pode ler... Aliás, nem tudo que está nesse livro vocês mulheres fazem o que nele pedem, não é? Então para que perder tempo lendo? - ele notou que os olhos dela marejava lágrimas, e sorrindo protetor se levantou e a tomou em seus braços. - Eu só estou tentando te proteger, Daniela, e você deveria estar contente por eu me preocupar com você assim. Não é isso que está escrito na sua bíblia? Que os homens devem proteger suas esposas das ciladas do inimigo? Que são as mulheres os nossos maiores tesouros que temos em casa? - perguntou ele, sabendo que a esposa outrora frequentara um convento para freiras.

Daniela o abraçou tristemente.

- Sim querido...

- Que bom que você compreende. Até que a bíblia ensina alguma coisa de bom. Só não quero ver você influenciada por nenhuma religião de pastores ladrões como tem por aí... - alertou ele sério.

- Eu não preciso frequentar religião alguma... eu tenho Deus por inteiro em meu coração. Isso já me basta – disse ela. Roberto a largou, maliciosamente.

- Espero que sobre um espaço para mim nesse seu coração, heim? Porque sou eu que durmo com você e não Deus. Sou eu quem faço essa caridade e não ele...

Daniela o repreendeu assustada.

- Por favor, querido, isso é blasfema! Deus pode lhe castigar, não brinque com isso!

Roberto riu e se atirou novamente no sofá, respondendo.

- Deus deve estar muito ocupado para ficar bisbilhotando a vida dos outros, ainda mais a minha vida, porque eu sou o próprio filho do Satã! Búúú!... - e ele imitou um fantasma com as mãos.


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora