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Daniela estava sem jeito em ficar ali, junto com Marcelo que parecia estar interessado no que estava lendo.

- A casa de seu pai é muito linda – comentou Marcelo casual para Daniela.

- Ah, sim, é... - disse ela, timidamente.

- Eu reparei que você fica envergonhada na minha presença. Eu lhe fiz algo errado? - ele a olhou como se pedisse desculpa por algo que não sabia ter feito. Ela logo tratou de explicar.

- Oh, não, claro que não, eu... eu só sou um pouco tímida... é natureza minha...

- Ah, sim, me desculpe...

- Não tem nada do que se desculpar.

Roberto saiu do quarto e foi ver se encontrava seu sogro e o encontrou subindo as escadas.

- Valter... como foi, lá? Estava indo ver se precisaria de uma ajuda... - mentiu ele.

- Esses meninos! - bufou ele, estressadamente. - Bebem demais da conta e perdem a cabeça por mulheres... - Roberto acompanhou o sogro até a biblioteca.

Eles entraram, e Juliana ainda não tinha chegado.

- Me desculpem a demora... - pediu ele, e reparou que faltava alguém. - E a sua esposa? - se dirigiu ao Marcelo.

- Foi procurar o banheiro... não deve demorar.

- Bem, então... vamos para o meu escritório, rapaz, tenho uma palavrinha particular com você... - fez sinal para Marcelo o acompanhar. Daniela se levantou e Roberto já estava pronto para segui-los. Valter olhou para os outros dois. - Fiquem e esperem pela esposa dele. O assunto é só eu e Marcelo.

Roberto sentou sem se ofender, e os dois saíram para o escritório particular. Um minuto depois Juliana apareceu.

- Nossa, como foi difícil de achar o banheiro! - disfarçou ela.

- Eu quis ajudá-la... - lembrou Daniela, sorrindo.

- E onde está meu... marido? - Roberto apressou em dizer, e ela deu de ombro indo sentar numa poltrona.

Valter estava sentado na sua poltrona enquanto Marcelo parecia ter conseguido fazer com que suas ideias fosse aceitas para o plano de governo de Oswaldo Martins. Valter estava impressionado, e comentou.

- Você é um homem comunicador, eu admiro isso... e você tem carisma, é simpático e exala confiança, ou entre outras palavras, é um perfeito assessor ao nosso futuro governador de São Paulo!

Marcelo se surpreendeu.

- Fico até sem jeito... é muito para mim, acho que não levo a essa bola toda... - se fez de humilde.

- Ah, pare com isso... você sabe que leva jeito, só tá se comportando como um homem normal deve se comportar – disse Valter, sorrindo e lhe piscou. - Comigo você pode ser do jeito que você é, mas quando estiver com o povo aí a humildade é o caminho certo para ter a confiança deles... É assim que funciona nesse mundo, caro rapaz, e você é muito esperto para não recusar.

Marcelo ficou lhe olhando calmamente, mas percebeu que os olhos daquele velho era perigosos demais, e por isso tinha que pisar leve no terreno do inimigo para não deixar nenhuma pegadas...

- Eu aceito, sim, Valter. Terei o maior prazer em entrar nessa família. - lhe sorriu.

- Então considere-se já, meu filho! - e apertou sua mão. Marcelo lhe correspondeu num aperto firme, de confiança, pois sabia que velhos como aqueles julgavam uma pessoa se ia ser útil ou não só pelo aperto de mão.

Marcelo precisa procurar algo para lhe tirar sua atenção.

- Você é corinthiano? - ele apontou para o quadro na parede. Valter sorriu orgulhoso.

- De corpo e alma... e você?

- Sou santista, e de coração também.

- Bem, eu não poderia esperar que fosse tão perfeito assim, né? - riu ele, e Marcelo o acompanhou no seu tom humorístico. - Mas o que importa, é ser fiel... tanto nos dois time, concorda?

- Perfeitamente, seremos adversários só no futebol, mas no partido unidos entre unha e carne... - acrescentou Marcelo.

- Você é profundo, meu amigo, tem respostas que agrada, fascina...

- Tem um ditado: "A primeira impressão é a que conta".

Valter gostou e esfregou as mãos.

- Será que é cedo para eu pedir para você trabalhar?

Marcelo lhe sorriu.

- Já estou trabalhando, Valter.

- Muito bem... - e levantou e caminhou para o fundo onde removeu o quadro da parede e Marcelo viu de que se tratava de um cofre embutido. Escutou o velho digitando sua senha no painel eletrônico. Marcelo disfarçou quando o velho tirou de lá uns envelopes, e voltou para a mesa.

- Esse envelope é para você, e esses aqui estão endereçados aos uns amigos...

Marcelo agradeceu e guardou seu envelope no bolso.

- Pode ter certeza de que vou cumprir o trabalho – garantiu.

- Eu tenho certeza sim, meu rapaz... - concordou. - Agora que tal aproveitarmos um pouco da festa?

Roberto lançou um olhar desconfiado em seu sogro e Marcelo quando voltaram.

Juliana foi até ele e o abraçou.

- Vamos para sala – anunciou Valter.

O restante da festa ocorreu normal, sem nenhuma outra briga por causa de prostitutas contratadas.

Marcelo deixou o número de seu celular e telefone para Valter quando estava pronto para ir embora. Roberto se despediu de seu sogro e do candidato a governador, e quando Daniela se despedia de seu pai, Oswaldo Martins pegou nas mãos dela e as beijou. Roberto fingiu não notar aquela liberdade exagerada, mas Marcelo reprimiu um sorriso, percebendo tudo.

Daniela tratou de limpar as mãos na calça quando entrou para dentro do carro se sentindo muito confusa por aquele senhor a tratá-la tão carinhosamente.

O carro arrancou para a saída, e Valter e seu aliado político ainda estavam no mesmo canto olhando o carro que descia pela estrada.

- Ele é perfeito... - comentou Valter. - Mas tem que ser tratado com muito jeitinho... se não o passarinho do canto de ouro escapa da gaiola.

Oswaldo Martins lhe sorriu enigmático.

- Antes que ele voe, vamos tratar logo de cortar um pouco de suas asas.


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora