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Juliana chegou primeiro como combinou com Roberto antes de sair da casa da amiga. Ela entrou para dentro se fazendo de exausta e encontrou Marcelo assistindo televisão na sala.

- Oi, amor, como foi? - ele levantou e envolveu-a num abraço e um beijo.

- Foi exaustivo, amor... - murmurou ela, forçando um sorriso encorajador.

- Ele te torturou um pouquinho, foi?

- Bem... até que desta vez não. Ah, Marcelo, estou tão cansada...

- Deve estar mesma. Vai tomar um banho e descanse amor.

- Não, eu não me refiro a isso, e que eu queria que isso acabe logo!

Marcelo segurou suas mãos e a beijou-as.

- Prometo que daqui a poucos dias. Eu juro. Você ainda me ama, Juliana? - a pergunta dele a fez tremer por dentro.

- Claro que o amo! Eu te adoro – e o beijou. Mas não foi um beijo verdadeiro. Marcelo sorriu enigmático. - Eu também te amo. Não sei o que eu faria se a perdesse... - e Juliana sentiu calafrios na espinha. Ele subiu para o seu escritório e ela foi tomar um copo de água. De repente se lembrou quando ele pegou em suas mãos e as beijou. - Meu Deus... - sussurrou ela, notando que esquecera a aliança na casa da amiga. - Será que ele percebeu? - ela sabia que sim.

Dez minutos depois Roberto chegou a sua casa, como combinara com Juliana, para não levantar suspeita nos vizinhos fofoqueiros. Roberto guardou o carro e saiu dele, lançando um olhar angustiado na janela da casa ao lado da sua. Ele entrou para dentro e subiu para o quarto. Roberto imaginou encontrar a esposa na cama lendo. Ele acertara.

- Querido! - exclamou ela fechando o livro bruscamente. - O que houve com você? Papai veio aqui atrás de você e... - dizia sem respirar, mas Roberto atropelou suas palavras.

- Seu pai veio aqui? - ficou surpreso e aterrorizado.

- Sim. E trouxe aquele candidato a governador, sabe, e me deu uma cópia da fotografia que me prometeu... mas o que aconteceu com você?

Roberto tirou a camisa e a calça, e só de cueca se enfiou debaixo dos lençóis.

- Deu um problema no carro e fiquei na estrada há horas. O celular estava com a bateria descarregada e por isso não consegui entrar em contato com seu pai e com você. Mas depois apareceu um mecânico e resolveu o problema... - cuidou em mentir perfeitamente. - Então foi por isso que não o encontrei na sua casa... já tinha vindo para cá.

- É, acho que sim... - concordou ela.

- Seu pai deve ter ficado bastante chateado, não?

Daniela sorriu.

- Não, até que não muito. Mas ele não perdeu a viagem, pois ele gostou muito de conhecer o nosso vizinho... - comentou ela.

Roberto sentiu uma pontada no meio do peito, mas foi só a sensação de mal estar que o atingiu no instante seguinte.

- Vizinho? Você tá dizendo... o M-Marcelo?

- Ele mesmo. Papai estava saindo do carro com seu amigo quando ele veio até eles, cumprimentando e desejando que o candidato ganhasse as eleições! Marcelo pareceu conhecer o amigo de papai na televisão e chegou até pedir um autógrafo! Acredita? - ela riu enquanto o marido tentava acompanhar seu relato. - Então papai o convidou para entrar e tomar uma xícara de café, né.

- E-E o que f-foram que eles conversaram? - ele tremia o queixo. Daniela notou seu nervosismo.

- O que você tem, querido? Está tremendo... e está pálido... - ela examinou seu rosto com as mãos. - Não está com febre, né? Quer que eu prepare um chá para você?

- Não é nada, não, amor. Eu só estranhei isso, de seu pai e Marcelo conversando. Só isso – tratou-o de explicar e se controlou. Fez novamente a pergunta para a esposa.

- Ah, Rober, eu não fiquei na sala. Só servi o café e depois fui para a cozinha. Você sabe que não gosto de ouvir assunto de política – respondeu ela sem interesse.

Roberto ficou remoendo as palavras de Juliana naquela tarde, do plano que Marcelo tecia contra ele... e porque a aproximação entre seu sogro e Marcelo? Roberto engoliu seco e percebeu algo perturbador. Teve a sensação de que uma mão fria e áspera lhe acariciava o pênis e o puxava, como se quisesse separá-lo do seu corpo... Ele tentou se relaxar, o que foi em vão, e beijou a esposa e deu boa noite, e apagou a luz do abajur. Ele sentiu os lábios se mexerem na escuridão do quarto e descobriu-se que estava rezando a Deus. Roberto tentou dormir, mas quando dormiu teve um pesadelo e acordou assustado. Ele se levantou e esticou a mão na cortina de sua janela, e espiou a janela do quarto de Juliana. Não havia nada.

- Rober... - chamou Daniela, acordando sonolenta com a movimentação do marido na cama. - Não está conseguindo dormir? Quer que eu lhe prepare um chá?

Roberto voltou a deitar na cama e abraçou a esposa, puxando ela para mais perto dele.

- Obrigado, amor, mas estou bem.

Daniela aconchegou-se melhor nos braços do marido e voltou a dormir facilmente. Roberto sabia que sentir medo a ponto de perder o sono era tolices. Ele ia descobrir um jeito para se sair daquela situação. "Não vou ser mais aquele garoto covarde há sete anos atrás! - pensou. - Agora que descobri o que amar de verdade... não vou mais ser submisso àquele desgraçado! - e dormiu.


A chantagem do vizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora