Capítulo 73

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Passamos o sábado em Petrópolis e vó Dorte adorou o Museu Imperial, o Palácio de Cristal e a Catedral. Comprou várias lembranças e doces. Ela já estava no vigésimo rolo de filme. No domingo passeamos por Niterói e ela adorou a travessia na barca. Ficou impressionada com a ponte e quis pegar ônibus só para passar por ela.

Descemos no Galeão, porque ela quis acertar seu retorno para dia 16 de julho, e assim foi. Ela teve de comprar uma mala nova por conta das mil coisas que comprou. Alex ajudou a arrumar. Esse dia caiu numa quarta, e eu saí do canteiro direto para o aeroporto. Saí um pouco mais cedo e consegui ainda falar com ela antes de embarcar. Encontrei-a abraçada com Alex, as duas chorando de emoção.

- Que medo! Pensei que não fosse conseguir!- cheguei correndo – O táxi pareceu levar tanto tempo, embora estivesse tão perto! – abracei as duas.

- Eu sabia que você viria! – disse emocionada – E queria agradecer por tudo! Você foi minha guia, minha amiga, minha neta e ainda me sustentou! – passou a mão no meu rosto. - Não sabe o quanto esses dias aqui me fizeram bem.

- Nós também adoramos você aqui. – olhei para ela e Alex, que confirmou balançando a cabeça – Pena que vai embora agora.

- Meu anjo, ouça – segurou meu rosto com as duas mãos – você não é um atraso ou um mal na vida de minha neta. Do contrário, você é uma bênção que só faz bem a ela e a todos a sua volta. Alex te ama, você é muito boa para ela e eu te amo também.

Essas palavras me tocaram verdadeiramente e meus olhos marejaram instantaneamente. As palavras engasgaram na garganta e eu não soube o que dizer.

- Eu sei o que você diria, mas a emoção te calou. Não se preocupe, eu sei!

- Eu também a amo, vovó! – foi só o que consegui falar.

- Cuide bem do meu bebê! – olhou para a neta – E você cuide bem dela!

- Eu irei! – abraçou a avó novamente.

Vó Dorte teve que ir e nós a vimos sumir em meio aos outros. Esperamos seu avião levantar vôo, e ficamos abraçadas assistindo a aeronave sumir no céu escurecido pela noite.

No aeroporto Alex disse que a velhinha pediu os dados de nossa conta conjunta e disse que passaria a depositar o dinheiro nela. Voltamos para casa caladas, ambas emocionadas, e pouco depois de chegarmos fizemos amor delicadamente até que o sono nos envolvesse em seus braços poderosos.

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E a vida seguiu normalmente. Vó Dorte passou a depositar dinheiro em nossa conta conjunta e Alex e eu combinamos que não mexeríamos naquele dinheiro. Seria nossa poupança para comprar uma casa própria, nossa de verdade. Eu passei a juntar a esse montante um pouquinho todo mês, e continuava sustentando a casa e a nós duas.

A temporada no Rio fez mesmo muito bem a vó Dorte, que passava bem de saúde na Inglaterra e havia começado com aulas de dança de salão. Acho que foi a inspiração do samba.

Conforme o previsto nosso trabalho em Nova Holanda acabou em agosto. Passei quase um mês trabalhando no escritório e nesse período Simone era toda olhares sexys e cruzadas de pernas. Mas não dei abertura para ela, embora confesse que a desejava, mas nada que fosse incontrolável. Em setembro o mesmo grupo iniciou as atividades no Complexo do Alemão, entre os bairros de Bonsucesso e Olaria, e ficamos lá até novembro. Nesses dois meses sobrevivemos a uns dez tiroteios, no mínimo, e eu já estava craque em fugas e saltos fantásticos para salvar a própria pele. Alex ficava desesperada e me pedia para deixar esse trabalho, mas ela sabia que isso não aconteceria. Em dezembro os trabalhos começaram no morro da Serrinha, no bairro de Madureira.

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