Capítulo 85 FINAL

508 22 13
                                    


Vamos Lá, Ultimo Capitulo </3

*********

Robert, Jack e vó Dorte estavam parados em frente a mim. Estávamos na sala da cobertura. Ele segurava uma caixa onde estavam as cinzas de Alex.Todos vestiam-se de preto. Jack usava imensos óculos escuros e Robert tinha os olhos vermelhos, marcados pelo pranto ao qual se entregou desde a morte da filha. Vó Dorte apresentava uma expressão sem vida. Parecia ter envelhecido mais.

Eu saí do apartamento deles no dia em que Alex partiu. Vó Dorte quis me acompanhar, mas a convenci de que seu filho precisava dela. O casal Flatcher desejava enterrar minha amada no jazigo da família em Londres, onde estava o corpo de seu avô, mas mudaram de ideia, à contragosto, quando disse que ela me pediu para ser cremada. Vó Dorte confirmou essa vontade. Não sei se ela realmente sabia da história da cremação ou se apenas quis fortalecer o que disse.Robert se voluntariou para providenciar isso.

Eu apenas aguardava satisfazer o pedido de Alex para voltar a Natal. Vó Dorte esperava o mesmo. Queria ficar na fazenda com Shelley, pois, segundo ela, somente com sua irmã encontraria um pouco de conforto.

— Aqui está. – disse Robert me entregando a caixa — Perdoe, mas estou angustiado. Não consigo falar português. Mal entendo meu próprio idioma.

— Eu imagino. - respondi olhando para ele —Obrigado por ter providenciado isso.

Robert olhou para a caixa em minhas mãos e disse:

— Que dor é essa que sinto, mamãe?– olhou triste para a mãe —  Tenho sofrido como um cão! –passou a mão no nariz —  Quando papai morreu eu senti como se tivesse morrido um pouco com ele, mas agora... Oh, mamãe, como sofro... – começou a chorar.

— Venha aqui meu filho. – vó Dorte abraçou Robert —Sinto muito querido, sinto muito... - olhou para mim — Agora o momento é seu querida. Alex pediu que você cuidasse de suas cinzas. O momento é seu e só seu.

— Obrigada. – respondi.

— Vamos querido, venha comigo.

Mãe e filho caminharam abraçados para o quarto do casal. Robert chorava como criança.

— Bem, então... Eu vou indo. – olhei para Jack —  Desejo que fiquem bem. De verdade.

—  Eu mandei fazer uma linda placa pra ela no jazigo da família. – foi sua resposta seca.

Nada respondi. Não havia o que dizer.


Eu me encaminhei para a porta de saída e Dolores prontamente correu para abri-la.Isso trouxe algumas lembranças e tive vontade de rir. Lancei um último olhar sobre a cobertura e rapidamente uma sequência de imagens me veio a mente. Lembranças de quando Alex e eu estudávamos juntas, de nossos primeiros momentos, do primeiro beijo, das descobertas, dos conflitos, do início do namoro, de nossa primeira vez... Lembrei de palavras, sons, sensações e gostos. Lembrei de Alex adolescente descobrindo a vida comigo e me ensinando a viver.

—  Você deve estar pensando alguma frase de efeito pra me dizer, não é? – Jack perguntou desaforada, mas em voz baixa – Você adora se mostrar superior... – sorriu — Vamos, fale. Não vai me acusar por ter rejeitado ela? Não vai me acusar por ter lhe tirado dinheiro? Não vai dizer que fui desnaturada por não ter ido em sua formatura? Por não ter me inteirado de nada? Vamos! Acuse! Não é o que quer? – sentia o choro contido em seu tom de voz.

— Preciso, Jack? – olhei bem para ela — Sua consciência te acusará enquanto viver; na verdade já tá acusando, não é? Só posso dizer que sinto muito por você. E por seu marido. – suspirei — Adeus Jack! – olhei para Dolores — Até um dia Dolores.

— Até!– pôs a mão sobre o rosto tentando não chorar.

Saí da cobertura e nunca mais voltei naquele lugar.


Subcapítulo: DOR,SAUDADE E SOLIDÃO 💔


"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade.Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."


Estava no Posto 6, parada no calçadão e segurando a caixa. Fazia calor, mas a praia não estava cheia.

Lembrei de nós duas na Grécia.

"Quero pedir uma coisa a você. E preciso que prometa que vai cumprir com o que lhe peço.

—Claro. – respondi desconfiada —O que é?

—Se eu morrer antes de você...

Senti um frio me correr a espinha e o coração acelerar.

— Para com esse papo brabo de morte Alex – respondi um pouco chateada.

— Se eu morrer antes de você – repetiu —não quero ser enterrada. Quero ser cremada, e gostaria que você lançasse minhas cinzas no mar. Eno Rio de Janeiro. – seu olhar parecia súplice — É uma forma de me sentir mais perto de você."

Caminhei em direção ao mar, meus pés afundavam na areia quente.

Eu chorava... um choro triste, pesaroso, melancólico. Mas chorava dentro de mim mesma, para que ninguém ouvisse, para que ninguém visse. Os pensamentos vagavam, o vento bagunçava meus cabelos. Lembrei de um poeta triste.

"Eras na vida a pomba predileta, que sobre um mar de angústias conduzia o ramo da esperança."

Ondas me receberam na beira do mar.

TUDO MUDA, TUDO PASSAOnde histórias criam vida. Descubra agora