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"Bateu o Amor a porta da Loucura:
- Deixa-me entrar, pediu, sou teu irmão,
só tu me limparás da lama escura,
a que me conduziu minha paixão."
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No domingo, após a capoeira, me aproximei de Caio. Ele era um colega antigo, que fazia parte da roda, e com o qual ficava de vez em quando.
— Caio, você vai fazer alguma coisa interessante hoje?
— Ah eu preciso ver na agenda! Sabe como é, as mulheres tomam todo meu tempo livre... – fez um olhar sedutor.
— Ah é, eu sei. Então veja aí porque você sabe que os homens também não me deixam em paz e somente hoje surgiram algumas horas livres pra mim. – disse em tom de brincadeira.
— Aí você pensou no seu amigo velho de guerra? É muita consideração da sua parte! – beijou minha mão
— E então?
—Sou todinho seu! – abriu os braços sorrindo.
Caio morava sozinho no morro Dona Marta, em Botafogo, e sempre que ficávamos juntos íamos para o barraco dele. Dessa vez não foi diferente e passamos o resto do dia fazendo sexo como dois desesperados. Saí de lá às 22:30h. Eu fui para lá querendo esquecer. Eu queria me convencer sobre minha sexualidade, provando a mim mesma que era heterossexual e que aquela coisa toda com Alex não passava de uma bobagem sem importância. Eu queria mostrar para mim que sentia prazer com homens e era capaz de dar prazer a eles. Eu queria apagar aquele beijo e aquelas sensações da minha memória. No entanto, gozei com o corpo e senti um imenso vazio ao final de tudo, uma louca vontade de sair correndo e nunca mais olhar para Caio. Minhas dúvidas e inquietações pareceram aumentar. "Com quem posso conversar? O que faço? Como vou continuar a trabalhar pra Alex desse jeito?"
Subi o morro confusa, tensa e me sentindo extremamente só. Alex me inspirava carinho, cumplicidade e amor, sentimentos com os quais eu não estava acostumada. Eu sempre fui impetuosa, buscava o prazer em tudo e achava que bastava. Nunca me deixei envolver, nunca me entreguei, mas Alex parecia romper todas as minhas barreiras e sem fazer o menor esforço. "Por que digo amor?? Eu não a amo! Ela é apenas uma garota que está me atraindo e é só. Mas por que ela está me atraindo se eu nunca reparei em mulher alguma?" Rolei na cama por horas. Pensei, chorei em segredo e adormeci já de madrugada.
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Estava com as Feiticeiras em um trailler pela manhã. Minha cabeça viajava longe e não ouvia o que diziam.
— Que foi Sam? Está tão longe... – disse Aline.
"Como introduzo o assunto sem me revelar?"
— Aconteceu uma coisa que me deixou pensativa. Encontrei uma amiga dos tempos do segundo grau e batemos um longo papo.
— E??? – perguntou Taís
— Ela me disse que conheceu uma garota no trabalho, se interessou por ela e, depois de muita luta com os próprios sentimentos, resolveu deixar rolar...
— Que horror! – Soninha fez cara de nojo.
— E ela já era sapatão desde o segundo grau?
— Não Aline, ela nunca foi sapatão. Ela disse que aconteceu agora, inesperadamente.
— Eu não acredito! Isso é doença e a pessoa já nasce com essa aberração. É que por alguma razão ela só se manifestou agora. – Soninha afirmou duramente — Afaste-se dela Sam!
— Soninha, se ninguém te disse, homossexualismo não pega. – Taís comentou
— Eu não sabia que você abominava tanto essas coisas. – comentei.
— Tenho nojo dessa gente lésbica, gay, bissexual... Não gostaria de estar na pele deles quando forem submetidos ao julgamento de Deus.
— Ai Sônia quando você começa com esses discursos de beata fica um saco! – disse Aline.
—E Deus vai julgá-los pelo que? – perguntei
— Pelo que??? Samantha por favor! Homem e mulher têm de ficar juntos. Deus abomina estas aberrações que desobedecem aos princípios estabelecidos por Ele. Duas mulheres juntas? Isso é sem vergonhice! Se eu fosse você não dirigiria palavra a essa tal.
— Olha Soninha, eu nunca me revelei, mas acho que agora é hora. – Taís se reclinou para perto dela —Morro de tesão em você e minha "aberração" já não se aguenta quieta. Vamos prum canto escuro, hein?
Essa brincadeira quebrou um pouco do clima tenso que se iniciou com as palavras de Soninha. Soninha, aliás, era conhecida entre nós como "A Santa". Ela era católica, ativamente participante em sua igreja, e se envolvia em muitos trabalhos sociais. Caridosa e delicada, era uma amiga fiel, mas muitas vezes dura em suas opiniões sobre as coisas da vida. Morava com os pais em Bonsucesso, onde ficava a oficina mecânica da família, não tinha namorado e era a mais "calma" do grupo nesse sentido. Era baixa, gordinha, branca, loura dos cabelos encaracolados e olhos azuis; apesar de termos todas a mesma idade ela parecia a mais nova, por causa do ar angelical. Sonhava encontrar o homem de seus sonhos.
— E vocês duas? Também pensam assim? – perguntei
— Eu não tenho nada contra ou a favor. Mas não gostaria de ter uma amiga dessas. – disse Aline.
— E eu conversaria com ela a respeito. Se me convencesse eu até experimentaria pra ver se é mesmo bom colar um velcro de vez em quando. Sexo entre mulheres deve exigir mais criatividade que é o que esses homens menos têm.
— Você sempre leva tudo na sacanagem! – reclamou Soninha
— Me avisa então o dia em que você resolver ter estas experiências alternativas pra eu deixar de andar contigo tá?
— Eh Aline relaxa, porque depois que eu comer a Soninha você vai ser a próxima... –deu um tapa na coxa de Aline – Coxão, hein?
— Deus me livre! – responderam Aline e Soninha ao mesmo tempo. Rimos.
— E eu Taís? Quer dizer que não faço mesmo o seu tipo? - perguntei
— Ah não! Eu teria de disputar espaço com os homens da tua vida e daí tô fora. Cê sabe que eu não quero ter trabalho, não sabe?
A conversa continuou em clima de brincadeira e percebi que não poderia me abrir com elas. Pedi licença e me despedi. Era hora de aula. Caminhei até o bloco D me sentindo solitária, mais do que sempre me senti.
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:(
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TUDO MUDA, TUDO PASSA
RomansaProntos(as) pra conhecer um AMOR que ultrapassou barreiras? Leia até o fim. Sem julgamentos.