71 VIDA QUE SEGUE

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"Se alguém te ofender, não te tortures à palavra dita,

Se erguer-se um muro, salta sobre ele

E segue sabendo que

O agressor é sempre o mais infeliz."

Fui trabalhar com o coração na mão por deixar minha linda sozinha. Ainda bem que era sexta e teríamos o final de semana só nosso.

A reunião com a equipe foi boa e traçamos um plano preliminar. Passei o dia todo analisando as plantas e pude indicar um monte de correções por ter levado comigo o relatório que preparei para Ramirez. Comparei as informações entre os documentos e com isso consegui adiantar certas coisas.

Prestei muita atenção no ambiente e fui construindo minhas primeiras impressões, as quais certamente mudariam ao longo dos tempos. Almocei com Bárbara, Alcides e Anderson e eles falaram um pouco do trabalho e sobre as regras do jogo lá na firma.

Arthur disse que a partir do próximo final de semana haveriam plantões de trabalho aos sábados e domingos. "Ai que maravilha!"

Cheguei em casa às 18:00h e Alex assistia TV. Levantou-se e veio correndo me receber, mas havia um brilho triste em seus olhinhos. Tomamos banho juntas e jantamos conversando. Contei sobre meu dia e perguntei sobre o dela.

- Não consegui falar com vó Dorte. Liguei várias vezes lá do posto da telefônica mas não consegui. Cheguei a ir a faculdade para mandar um e-mail, e nele apenas pedi que me procurasse. Mandei com cópia para tia Shelley.

- Que pena! Mas escuta, ela vai ler o correio e entrar em contato como? –pensei - Sabe o que vou fazer? Vou me inscrever pra receber um telefone fixo. Celular é caro, perde cobertura fácil e nós precisamos ter um telefone dentro de casa.

Alex pensou e respondeu:

- Boa idéia. Mas eu pensei em uma coisa. Não quero mais este celular. Penso em vendê-lo para Paulinha, que tem vontade de ter um.

- Mas querida, você tem certeza disso? Se é por causa da conta...

- Não. É porque eu não quero mais ele.

- Tudo bem. Você é quem sabe.

Passamos um final de semana simples, em casa e na praia, e na segunda Alex voltou às aulas. Eu já comecei caindo dentro no canteiro em Bonsucesso e foi um dia difícil. Como Júlio havia dito, a peãozada era braba e eu senti que teria dificuldades com aquela equipe, mas nunca fui mulher de baixar a cabeça.

A semana correu nesse ritmo de trabalho intenso, e os professores de Alex já chegaram rachando. Ela não obteve resposta da avó ou da tia e não conseguia sucesso com as tentativas telefônicas. Ficamos preocupadas. Na quinta, acabou vendendo o celular para Paulinha, que pagou à vista. Quanto a sua tristeza, foi melhorando aos poucos.

Sexta, dia do nosso aniversário, Anderson me avisou que Arthur disse que o primeiro plantão, no sábado, seria meu. "Deus do céu, Alex vai ficar chateada!"

Na saída do trabalho passei em uma floricultura e comprei um belo buquê de rosas vermelhas. Comprei também um ursinho de pelúcia, um vestido cor de rosa que julguei de seu gosto e um par de sandálias douradas. Comprei também uma grossa fita de presente para fazer uma gracinha.

Chegando na porta de casa, amarrei a fita ao redor de minha cintura como se fosse um cinto e dei um laço imenso. Coloquei os presentes no chão, toquei a campainha e me escondi.

Depois de uns minutinhos ouvi a voz de Alex perguntando quem era. Toquei a campainha de novo e me escondi. Ela abriu a porta e perguntou:

- Mas quem...? – pausou – Oh! Que lindo! – fez voz de quem está brincando - Um buquê e quatro embrulhos. O que seria isso? – riu – Quem teria deixado isso aqui?

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