Acabou que o pai de Alex não voltou de viagem como esperado, ao contrário avisando que chegaria apenas na terça seguinte. Passamos em sua casa logo pela manhã e ela preparou duas mochilas cheias. Jack dormia sob efeito de calmantes e Alex soube do pai ouvindo as gravações da secretária eletrônica.
As aulas recomeçaram e eu cursava apenas duas matérias, as últimas que me sobravam. Notei cochichos pelos corredores e que algumas pessoas riam de mim quando passava. Alex notou a mesma coisa em relação a si mesma.
As Feiticeiras já não existiam mais; Aline, Taís e Soninha não falavam comigo, e nem eu com elas. No laboratório em que trabalhava todos agiam como se de nada soubessem, e eu preferi deixar tudo como estava. Alex sentia o desconforto em morar na favela conosco, mas estava nos ajudando e não demonstrava insatisfação. Contudo o barraco parecia ainda menor e eu tive de ficar na sala de vez.
Na quarta-feira o coordenador do curso de Engenharia Civil chamou Alex e eu para uma conversa na presença da coordenadora da habilitação Estruturas. Fomos juntas para a sala dele a já imaginávamos sobre o que iríamos conversar.
— Bom dia meninas. Sentem-se.
— Bom dia professores. – dissemos quase em jogral.
Sentamos em frente a eles, que ocupavam uma pequena mesa redonda. O coordenador Pedrosa começou a falação caprichando em caras, bocas e gestos.
— Como coordenador do curso eu às vezes tenho de assumir uma função meio... paternal, e me incomodou umas coisas que andei ouvindo. Chamei a professora Silvana para esta conversa pois ela é mulher e de repente isso faria com que vocês ficassem mais à vontade.
— Meninas, não fiquem assustadas, nós só queremos entender o que está acontecendo.
— E especificamente o que os senhores querem saber? – perguntei.
— Sem rodeios entre nós Samantha. – Pedrosa olhou para nós duas — Que conversa é essa de que vocês teriam um relacionamento e já estariam até morando juntas?
"Morando juntas é? A fofoca aqui é mesmo eficiente!"
— É verdade! Só não entendo porque incomoda tanto a Escola de Engenharia. – Alex respondeu com toda sua classe.
— Meu Deus! – dona Silvana pôs a mão sobre a boca.
— Não é que incomode Alexandra – Pedrosa cruzou os braços — é que vocês poderiam ter sido mais discretas e não ter dado um show a parte numa chopada cheia de gente. Todos aqui tem mais o que fazer, mas vocês fizeram a coisa de uma tal maneira que viraram o assunto da Escola! E isso poderia ter sido pior, não fossem as férias pra quebrar o ritmo!– e olhando para mim — Samantha, você fez um rapaz fazer papel de idiota na frente de todos! As duas melhores alunas do departamento me fazem um papel desses! Vocês são o cartão de visitas daqui: notas altas, bom comportamento, e de repente isso! Já pensaram se o rapaz leva isso pra frente de alguma maneira? A engenharia civil vai cair em um péssimo estigma e nenhuma moça vai querer mais estudar aqui com medo de pegar fama de sa... – interrompeu a própria fala.
— Fama de que professor? – perguntei controlando minha raiva.
— Nós também podemos levar isso para frente de alguma maneira e o departamento ganhar um estigma de intolerância. Tudo depende de como a notícia seja dada, não é professor?
— Querida por favor – disse dona Silvana — não entendam mal. Estamos só zelando pelo bem comum e nós...
— Vamos parar por aqui? – interrompi o papo — Eu me formo no final do ano e se Deus quiser arrumo um bom emprego, e Alex vai continuar estudando e tirando notão sem fazer nada que vá manchar o bom nome do departamento. – disse ironicamente. – Vocês logo vão se livrar de mim e então não têm razão pra isso. E quanto a Rogério, que ele se lixe! Aposto que não disseram que ele veio dar uma de machão pra cima da gente, ou disseram? – levantei-me ao me calar.
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TUDO MUDA, TUDO PASSA
RomanceProntos(as) pra conhecer um AMOR que ultrapassou barreiras? Leia até o fim. Sem julgamentos.