As Conversas

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   Olho para Alice, sorrio. Ela vem até mim, me abraça, abraço-a bem forte, em seguida olho para ela, que segura minha mão.

— Que bom que você está bem. — Ela diz olhando para mim.

— Obrigado. Mais que história é essa que sua mãe e minha mãe estão processando o colégio? — Digo olhando para ela.

— Como eu disse naquele dia, ela foi negligente. Tudo isso poderia sido evitado se ela tivesse feito algo, se o conselho tivesse vindo. A culpa maior é dela. — Alice diz.

— Mais, e eles? — Eu digo a ela.

— É dever do colégio proteger qualquer aluno que esteja nos parâmetros do colégio. Enquanto você tiver com um pé na calçada do colégio, eles são culpados por qualquer coisa. Infelizmente é assim. — Alice diz.

— Será que é o certo? Ela levar toda a culpa? — Digo mordendo meu lábio inferior de leve.

— Infelizmente sim, somos responsáveis pelo o que sabemos. Ela sabia do seu dever, mais não o cumpriu. — Ela diz.

— Com licença, gostaria que vocês fossem para a sala. Aliás, Nicolas, venha a minha sala. — O novo diretor chega.

   Estávamos Emanuel e eu na frente do diretor novo, um homem com uma barba bem feita, com cabelo curto, bem arrumado, olhava para nós com um sorriso. Viro o rosto para Manu e depois me viro para ele.

— Eu não deveria estar tendo essa conversa com vocês, mas, vamos lá. Olá Nicolas, eu me chamo Michael, sou o novo diretor do colégio. — Ele diz.

— Ah, oi. Já sabe meu nome né. — Eu digo a ele.

— Ah sim. Eu sei, sei quem é você, pelas fotos no jornal e por sua ficha. — Ele diz.

— Entendo. Aliás, tenho que cortar meu cabelo, ele está grande, cresceu muito nos dias do meu coma. — Digo passando a mão nele.

— Sobre os dias que você estava em coma, você perdeu muita coisa. Em reunião com os seus professores, achamos que seria muita coisa para você fazer todas as provas e trabalhos. Então, você fará só uma prova e um trabalho de cada matéria, assim, não acumula muito para você. — Ele diz.

— Obrigado. Acho bem melhor assim. — Digo olhando para ele e em seguida para Emanuel.

— Então. Eu ouvi certas coisas, conversei com alguns alunos e soube que você sofreu bullying. Quero ouvir de você, isso é verdade?  — Ele diz.

— Sim. — Eu digo a ele.

— Por parte de quem? — Ele diz pondo suas mãos sobre a mesa.

— Por parte de várias pessoas, mas em específico de um grupo. — Eu digo.

— E qual o motivo? O que eles falavam? — Ele diz olhando para nós dois.

— Por causa da minha sexualidade. Prefiro nem dizer o que eles dizem.— Digo cruzando meus braços e olhando para ele.

— Entendo. Teremos uma campanha esse mês sobre Bullying. Eu não posso falar sobre sexualidade e gênero por causa do debate em volta disso, mas falar sobre bullying, eu posso e devo. — Ele diz se ajeitando na cadeira e olhando para uns papéis sobre a mesa.

— Injustiça. Injustiça não falar sobre homossexualidade em um colégio. — Emanuel diz a ele.

— Vivemos em um país leigo com uma bancada religiosa, isso é certo? Sabem o que significam a palavra leigo? — Digo olhando para o diretor.

— Não olhem para mim, eu não posso fazer nada. Posso ir até um limite estabelecido, então, é só isso que eu posso fazer. Eu sei, que nada se compara a uma vida, mas as pessoas estão esquecendo de uma coisa, amar uns aos outros, amar o próximo. Com certeza o mundo seria diferente e melhor. — Ele diz ficando de pé e indo até a janela.

O Garoto (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora