Os três acordam, Ariane não iria trabalhar por alguns dias até se recuperar bem. Bianca estava na garagem junto com Hanyel, ambos fazendo uma casa para pássaros.
- Me alcance a lixa, por favor.
- Toma aqui! - Hanyel entrega. - Não acha melhor colocar mais um parafuso aqui? Parece estar meio mole.
- É melhor...
Hanyel pega a parafusadeira e coloca um parafuso para firmar o telhado da casa.
- Está ótimo! - Diz Bianca ao passa a lixa na lateral.
- Vai colocar agora no jardim?
- Claro!
Ariane aparece na garagem, estava com os braços cruzados, sentia um pouco de frio.
- Coloque um casaco! - Disse Hanyel.
- Não precisa...
Ele encara Ariane com um olhar de repreensão.
- Já coloco. Precisam de ajuda?
- Terminamos, olha como ficou! - Bianca mostra a casinha.
- Ficou lindo, querem ajuda para colocar?
- Se quiser ajudar! - Hanyel diz ao pegar o martelo e alguns pregos.Saindo da garagem, os três vão até o jardim, que parecia ter vida o ano todo. Bianca coloca a casinha sobre o toco de uma árvore, Ariane segura e Hanyel prega.
- Ótimo, não?
- Sim! Bom trabalho carpinteira Bianca!
- Oh, muito obrigado, marceneiro Hanyel!
- Hahaha, vocês são tão loucos! - Ariane abraça os amigos.
Bianca olha para o grande pinheiro, um corvo estava sentado.
- Ari... - Disse ela.
- O que foi?
- O corvo! - Bianca fala baixinho.
O corvo se remexe no galho, parecia querer escutar o que diziam.
- Agnes? - Pergunta Hanyel.
- Com certeza! Não podemos deixar ele escapar.
Bianca dá alguns passos e olha para o corvo que grunia.
- Você não vai escapar de mim! - Bianca aponta sua mão ao corvo e o galho do pinheiro explode em chamas.
O corvo sai voando.
- Ari! - Hanyel grita ao fazer o pinheiro dar uma galhada no corvo que cambaleia.
Ariane usa sua cinese e faz o corvo parar no ar. Ele gritava alto, tentava se debater mas Ariane o segurava.
- Traga-o aqui! - Disse Bianca.
Ariane trás o corvo para perto. Bianca se aproxima e olha profundamente nos olhos do corvo.
- Olha o que eu faço com você, sua maldita! - Os olhos de Bianca ficam vermelhos, o corvo grita e estoura, lançando penas e carne em chamas para todos os lados.
- Ah, Bianca... que nojo! - Hanyel tira pedaços de tripas de seu cabelo.
- Foi mal!- Hany... vamos na floresta? - Ariane pergunta a Hanyel.
- Quer fazer o que lá?
- Eu não... você! Senti um bom ar vindo da floresta depois que Bianca matou o corvo.
- Ele não irá falar comigo.
- Quem disse que não? Os deuses são imprevisíveis.
- Podemos tentar! - Bianca diz ao desligar a TV e ir para perto de Ariane e Hanyel. Quem sabe o corvo que impedia essa aproximação.
- Pode ser...
- E sabe Hany... essa casa está com um cheiro melhor depois que fiz aquilo. Está cheirando a cedro... igual seu quarto!
Hanyel olha para as duas, seus olhos se enchem de lágrimas, não fazia sentido algum ele chorar, mas lembranças vagavam por sua mente.
- Eu... eu sempre quis conhecê-lo... pedir a ele que me desse a localização do meu pai.
- Pedir a um Deus pai, para que lhe traga seu pai biológico, deve ser atendido na hora, Hany... - Bianca fala.
- Você é o único que ainda pode ver seu pai. Os nossos... - Ariane abaixa a cabeça e reapira fundo. - Quero muito que Cernunnos fale com você, ele é também o seu pai, entenderá a dor de um filho.
- Vamos, Hany... a floresta nos espera. - Bianca dá um beijo na bochecha de Hanyel.Os três saem de casa e adentram a floresta. Seria coincidência o ar ficar mais leve e esperançoso após a morte do primeiro corvo nas mãos de Bianca? Sem dúvidas, aquela floresta parecia transmitir mais vida, mesmo sendo meio escura e com muita neblina.
Elea chegam aos pés da escaria de pedras que dava ao altar de Cernunnos que Hanyel havia feito.
- Vamos lá! - Fale com ele.
Hanyel enxuga seus olhos e começa a caminhar. Ariane e Bianca observam cada passo dado em cada degrau daquele lindo altar. Ele chega no último degral, suas mãos tremiam e ele sentia um leve desconforto no lado esquerdo da cabeça. Hanyel olha para trás, viu que as duas lhe esperavam ansiosas por um contato.Assim então ele se ajoelha, coloca suas mãos sobre o altar e fecha os olhos.
- Pai... meu Deus Cernunnos, senhor das plantas e dos animais. Pai de toda vida e sol. Por favor... dai-me aquilo que peço... dai-me a paz... dai-me... o meu pai. - Disse Hanyel em lágrimas.
Como tudo que se pede com verdadeira intenção é realmente atendido, Hanyel ouve o som dos galhos das árvores rangendo ao seu redor.
- Será que... - Bianca fala baixinho.
A neblina densa do chão da floresta começa a se movimentar e se direcionar ao centro do altar. Hanyel ainda com os olhos fechados, não percebia nada ao seu redor.
- Por favor, meu pai... - Disse ele.
As árvores se remexiam, Bianca abraça Ariane, as duas choravam. Alguns pássaros levantaram vôo e quando uma grande bola de neblina se formou no centro do altar, todos ouvem um enorme som de um alce berrando. Hanyel abre os olhos e ali vê.Foi em meio a neblina que surgiu, aquele enorme ser. Aparentava ter uns quatro metros de altura, seu corpo magro e forte estava coberto por panos cor de musgo e marrom. Seu rosto coberto com um crânio de um animal, e seus enormes chifres que pareciam galhos, brotaram da sua cabeça. Hanyel começa a tremer, dos seus olhos caem lágrimas descontroladamente.
- Pai... - Disse ele abrindo um sorriso.
Cernunno estende sua mão magra e com cor de madeira, para Hanyel. Sem dizer nenhuma palavra, Hanyel se põe em pé e segura a mão de Cernunnos que se manteve calado até então. Quando as mãos se tocaram, Hanyel sentiu um calor fluir por seu corpo, era vida, era amor.
- Filho... - Disse Cernunnos. - Depois de anos que me procura... agora venho a ti, filho. Sei o que me pedes, porém quero que me ouça.
Hanyel sob o altar em meio a neblina, ainda segurava a mão de seu Deus pai, tendo a todo momento contato visual com ele.
- Sente dor, não é meu filho? Sente um vazio em seu peito... - Cernunnos estende a outra mão e toca o peito de Hanyel com um dedo. - Sente a falta de um abraço...A neblina fazia Hanyel gelar.
- Pai... - Disse Hanyel.
- Você sobreviveu da sua primeira morte... viu a sua segunda... poderás escapar?Ariane e Bianca estavam olhando Hanyel parado sozinho em cima do altar em meio a neblina. Sabiam que Cernunnos estava ali, mas apenas a ele, aparecia.
- Você teme a morte de suas irmãs, mas não teme a sua... diga-me filho... por qual motivo não teme a morte... diga-me filho... será capaz de cuidar de um filho seu? Diga-me filho... DIGA-ME QUAL É O SEU MEDO!!! - Cernunnos ruge a última frase, lançando Hanyel numa escuridão profunda.
Ele se perde no meio do vácuo, ouvia a voz de Cernunnos pairando no ar. E ali ele vê, uma criança, seus olhos se enchem de lágrimas, não sabia quem era aquela criança, não lembrara se era ele quando pequeno ou outro alguém. Hanyel sente uma abraço, ouve uma voz que a tempos não ouvia. Ele vê dor, ele sente a dor. Ele sente... ele sente...Como um brusco puxão, Hanyel volta a floresta, caído aos pés do altar, Ariane e Bianca o seguravam.
- Hany? - Bianca perguntava.
- Hanyel! Você está bem? - Ariane passa a mão nos cabelos do amigo.
- Bianca... Ari... - Ele diz ao abrir os olhos.
- Você conseguiu?? - Bianca pergunta.
Hanyel com os olhos cheios de lágrimas começa a sorrir.
- Sim... Sim... SIM!!!
Ariane a Bianca o abraçam ao chão, elas também começaram a chorar.
- Você conseguiu! - Ariane diz com a voz abafada no ombro de Hanyel.
- Ele conseguiu! - Disse Bianca ao beijar o rosto de Hanyel.
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Além da inquisição
FantasíaTreze anos se passaram após a grande explosão que deu fim aos Campos de Inquisição. A raça dos bruxos está se extinguindo. Os três bruxos, aprendizes da Necromante, cresceram e se tornaram bruxos extremamente hábeis e poderosos, mas alguns problemas...