O cão negro, ressurge

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Estava escuro, sussuros indecifráveis pairavam no ar gelado e amedrontador daquele lugar sem forma. O bruxo da terra estava nu flutuando na escuridão.
- Você sente... não sente? - A voz de Agnes ressoa em seu ouvido. - A dor, o ódio, a tristeza...
Uma névoa toma a escuridão e escombros começam a surgir. Ele estava no antigo campo de inquisição com as duas negras, também nuas em sua frente.
- Este foi o local onde você recebeu sua última tortura... seu último castigo... - Agnes faz com que fios de cobre saiam da terra e parem na sua mão. - As linhas que fecharam sua boca!

Hanyel é levado ao passado onde se vê tendo sua boca costurada com fios de cobre, a dor, a agonia voltam a tona e o bruxo fica a beira do descontrole.
- Vocês não querem que...
- SIM! Nós queremos... nós queremos a destruição que está guardada aqui... - Iven coloca seu dedo na cabeça de Hanyel. - Queremos todo este poder!
- Não... eu...
- Ela só ressurgirá do caos... você e nós, portamos o caos. - Agnes olha fixamente para Hanyel.

Ele para por um instante, estava pensando se deveria confiar em sua mente sem medo de machucar a si mesmo.
- Agora vamos começar... - Iven fecha os olhos e começa a trocar sua pele humana por a sua verdadeira, de serpente.
- Volte, bruxo! Volte ao início da sua dor, volte a sua primeira morte, volte no dia em que a sua vida ACABOU!!!
Um soco brusco levou a mente de Hanyel para o passado onde vira sua propria mãe morta ao chão, sangue por todos os lados, o sangue consumia seu corpo. Ariane aparece na sua frente, com a mão sobre o abdômen sangrando.
- Ari...
- Hany... eu... - Tudo explode em fogo, o som da marcha de soldados veio a sua mente e seus olhos começaram a enxergar pilhas de pessoas mortas apodrecendo. Ele viu Tom, Blanca, Elisabeth, dona Jane, Anderson, todos acorrentados nos pilares de concreto em meio ao campo de inquisição.
- Você fracassou! - Todos eles disseram. - Elas irão morrer!
- Não!!! - Hanyel disse ao recuar-se.
- Você não conseguiu protegê-las!
- EU NÃO AS DEIXEI!
- Você fracassou!!! - Voltaram a repetir.

Aquela frase colou na mente de Hanyel que cai ao chão com as mãos na cabeça.

- Ele está pronto! - Disse Agnes ao se deitar ao lado de Hanyel em meio as alucinações.
- Hmm... ahahah... o corpo dele agora é nosso! - Iven deita-se do outro lado do bruxo e ambas começam a esfregar seus corpos nus em um ritual de criação.

Hanyel contorcia-se ao chão, as lembranças, as vozes em sua cabeça os deixava louco, seu cérebro estava prestes a explodir.
- Ari... Bi... - Ele as chamava.
Seu coração palpitava cada vez mais forte, ele ouvia as batidas compassadas com as memórias. Logo tudo pareceu ficar mais lento, a cada batida, uma morte vinha em sua mente, a cada batida do seu coração... ele via a sua própria morte.

As bruxas consumiam o corpo de Hanyel em um menage ritualístico. Um círculo de luz negra se formam ao redor deles e em palavras indecifráveis e sombras bruxoleando ao redor, elas produziam o feitiço.
- DREHAN DRAVER LABLLU UNDAD... - Diziam ao introduzir o membro de Hanyel em suas partes íntimas. - DREHAN DRAVER LABLLU UNDAD...
Sangue começa a correr do meio dos escombros do antigo campo de inquisição. Era o sangue de todos os necromantes mortos pelas negras em oferenda ao caos em troca da vida de Helena.
- DREHAN DRAVER LABLLU UNDAD... - O sangue envolve o corpo dos três que agora transam banhados no sangue negro dos necromantes.

"TUUM..." Hanyel é lançado na escuridão, "TUUM", Helena aparece em frente a Hanyel com a mão esticada para que se levante.
- Vamos, meu bruxo da terra... salve... salve as suas irmãs... - Disse ela.
Ele estava sem expressão, seu corpo pulava a cada lenta batida do seu coração, Hanyel estica sua mão, Helena sorri.
- Eu o levarei até elas... - A bruxa negra segura a mão de Hanyel e um grande tremor abala todo o chão.

- Ele aceitou!!! - Agnes disse em êxtase. - O feitiço está completo!
Todo o antigo campo de inquisição se abala em um terremoto, as bruxas sorriam e se retorciam envolvidas pelo feitiço, o corpo de Hanyel, também compassado com as das negras embalava o ritual e o terremoto.
- DREHAN DRAVER LABLLU UNDAD!!! - Foi a última vez que disseram esta frase e um grande estrondo fez o terremoto parar.
As bruxas se jogam ao chão, ambas seguram as mãos e tremulam desenfreadas. Das suas partes íntimas, começaram a sair sombras negras que gritavam e uivavam como cães.
As sombras se unem, tomando forma e criando um ser de sangue e podridão.
- Do caos elas vieram, elas são o caos... as três se unem novamente... o corvo... - Agnes grita e se põe em pé.
- A serpente! - Iven grita e também se põe em pé.
- E o cão... - As duas disseram juntas.
O ser de sombras e sangue toma forma e vida, gerando dois cães negros que se desprendem e guardam o ser.
Hanyel zumbificado, se levanta e toma consciência... mas uma consciência sombria.
- O cão volta a uivar outra vez... - Disse o ser de sombras que toma a forma de uma mulher de vestido e véu negro. - O cão volta a uivar outra vez! - Helena levanta o véu e exibe um sorriso no rosto.
- Seja bem vinda... irmã! - Iven e Agnes dizem juntas.

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