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Ela...

Já era a noite, estava sozinha em casa, Jeremy saiu para o tal compromisso dele, Vick estava jantando com Roger, Anthoni nem se quer lembrou do meu aniversário, faz meses que não falo com papai. Minhas amigas da faculdade me chamaram para sair um pouco de casa, mas eu não quis ir, não por não ter avisado Jeremy ou coisa assim, mas porque eu precisava de um tempo só para mim.

Aquele sentimento triste voltou a me atormentar, sinto meu peito apertar, sinto um peso nas costas como se todos os problemas das pessoas que amo, fossem culpa minha. E talvez seja. Depois que mamãe morreu, há dez anos, os meus aniversários passaram a ser iguais. Algumas vezes Jeremy e eu íamos para qualquer festa, mas sempre acabávamos no hospital ou na delegacia, e o motivo sempre foi o mesmo. Jeremy nunca esqueceu um aniversário meu, esse ano foi a primeira vez e isso está acabando comigo por dentro.

Desligo o notebook e me levanto da cama, estava terminando de ver uma serie qualquer que Vick me fez ver. Calço meus chinelos e saio do quarto, checo algumas mensagens no celular enquanto desço as escadas, vejo a luz da biblioteca acesa, pensei que Jeremy tinha apagado a luz antes de sair. Guardo o celular no bolso e vou até a biblioteca, abro a porta lentamente e vejo um filhotinho de cachorro em cima da mesa de Jey.

- Hey, o que você faz aqui? Como entrou? – Vou até ele e o pego.

Vejo um bilhete perto dele, pego o bilhete enquanto acaricio o filhote, abro e leio sorrindo.

"Vejo que achou o cachorro, bom esse é seu primeiro presente. Assim que terminar de ler o bilhete me mande uma mensagem e você receberá a próxima comanda. Por favor, faça tudo o que mandar!"

Pego o celular, escrevo qualquer coisa e mando para Jeremy, que logo responde a mesma com mais uma comanda.

"Olá querida Aneliz, espero que tenha gostado do filhote."

"Preste atenção, quero que vá até o meu quarto e procure em meu guarda roupa uma caixa preta. Assim que você abrir irá ver um novo bilhete.

Espere que goste do que estou aprontando <3

p.s. não precisa responder as mensagens."

Sorrio de lado e guardo o celular, pego o filhote no colo e subo as escadas, não acredito que Jeremy comprou um cachorro. Jey tem uma forte alergia a qualquer cachorro que seja, mesmo assim, agora temos um cachorro. Abro a porta do quarto de Jeremy e coloco o cachorro em cima da poltrona que havia no quarto.

- Certo bebezinho, agora vamos procurar. – Digo abrindo o guarda roupa de Jeremy.

Abro todas as gavetas, todas as portas, olho atrás e embaixo de todas as roupas e não vejo nenhuma caixa preta. Suspiro e me sento na cama, vejo as portas que havia na parte de cima do guarda roupa, levanto-me e fico na ponta do pé, assim que abro a portinha uma caixa preta com um laço vermelho cai em cima de mim.

- Aí. – Reclamo um pouco. Pego a caixa e coloco em cima da cama. – Vamos ver o que tem aqui dentro.

Antes de abrir a caixa, vejo outro bilhete preso ao laço vermelho, me sento na cama e leio calmamente.

"Vejo que não é tão pequena assim. Agora você pode abrir a caixa, quero que você use isso hoje."

Abro a caixa e não havia nada, fico sem entender até que vejo outro bilhete preso dentro da caixa.

"Me mande uma mensagem"

- Ele quer brincar comigo. – Olho para o cachorro enquanto pego o celular.

"Okay, por que não tem nada na caixa?"

Logo Jey me responde.

"Na verdade, seu presente iria estar na caixa, mas ele ficou grande demais."

"Vá naquele quarto, no fim do corredor, e abra a porta."

Faço o que ele pede, pego o filhote e saio do quarto dele, indo em direção do quarto no fim do corredor. Nunca havia entrado nesse quarto, Jeremy sempre me impediu até de chegar perto do mesmo. Coloco a mão na maçaneta e giro lentamente, abro a porta e assim que meus olhos percorrem o quarto, noto um manequim coberto por um tecido azul.

- Puxe. – Ouço Jeremy sussurro ao pé do meu ouvido. – Espero que gosto de tudo o que fiz, e de tudo o que vou fazer.

Viro-me para ele e olho sem entender. Ele pegou o filhote da minha mão, e só assim fui perceber que Jeremy estava vestindo um smoking. Vou até o manequim e puxo o pano, o mesmo cai aos meus pés enquanto revela um vestido azul. O vestido tinha um decote nas costas, suas magas iam até a altura do cotovelo, no estilo sereia.

- Você gostou? – Disse ele me abraçando por trás.

- Gostei, mas...- viro-me para ele. – E esse decote? – Digo enquanto lembro do dia em que ele me bateu por causa de um decote igualzinho a esse.

- Eu... – ele suspira. – Eu não sei o que dizer. – Ele me solta e, mas continua me olhando.

Fecho os olhos e sinto ele dar alguns passos para trás de mim, ele ergue minha blusa até a altura da cicatriz que já não era mais tão nítida. Ele se ajoelha e começa a beijá-la, sinto uma lagrima escorrer dos meus olhos.

- O que está fazendo? – Sussurro.

- Sei que te fiz muito mal, você tem todos os motivos para me odiar. Todos sabem disso. – Ele começa a chorar baixinho. – Mas você não me odeia. – Viro-me para ele.

- O que estava fazendo? – Repito a pergunta.

- Eu não te pedi perdão. – Ele ergue a cabeça e me olha. – Eu não tenho o seu perdão, eu fui um mostro para você.

- Jey... – ele me interrompe.

- Perdão por te roubar da sua casa, perdão por ser um monstro com você, perdão por não te tratar como você realmente merecia. – Ele começa a chorar desesperadamente. – Perdão por cada cicatriz, por cada marca que deixei em seu corpo.

Seus braços rodeiam minha cintura, sua cabeça encosta em minha barriga, sinto suas lagrimas molharem minha blusa. Fico sem saber o que fazer, não tinha mais ressentimento do que aconteceu, muitas pessoas podem me julgar por ter perdoado Jeremy, por ter perdoado alguém que me fez tanto mal, mas é impossível odiá-lo, eu não consigo odiar ninguém. Esse talvez é um ponto negativo para quem tem um coração tão bom quanto o meu.

- Eu preciso ouvir dos seus lábios. – Ele sussurrou, Jeremy ergueu a cabeça e me encarou. – Eu preciso ouvir dos seus lábios que você me perdoou.

- Jey, eu não... – ele me interrompeu mais uma vez.

- Eu preciso Liz. – Disse ele soluçando. – Eu preciso ouvir isso Ane.

- Jeremy. – Digo enquanto passo minhas mãos em suas bochechas. – Eu te perdoo por tudo. – Me inclino e beijo a ponta do seu nariz.

Ele começou a chorar mais ainda, Jey se levantou e me abraçou mais forte ainda, passo meus braços ao redor do seu pescoço e tento consolá-lo, porém foi em vão, ele estava realmente arrependido. 

Um Militar em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora