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Ela...

Uma vez, minha mãe me disse que tudo na vida tem um tempo certo para acontecer, e que eu precisaria entender o tempo das coisas. De primeiro, não entendi muito bem o motivo dela ter me dito aquilo, uns dois anos mais tarde, quando ela morreu, pensei que finalmente entendido, pensei que ela soubesse o que estava por vir e por isso tentou me alertar, mas eu estava errada.

Tudo o que acontece já estava predestinado a acontecer, não podemos negar o nosso futuro, tentar fugir, tentar mudar, no final o que tiver que ser... será.

Eu não havia entendido isso, eu não conseguia entender o motivo de ter que aceitar certas coisas que estavam acontecendo comigo. Não conseguia aceitar o meu próprio futuro. Não conseguia aceitar o meu tempo de acontecer as coisas.

Minha gestação, por exemplo, o tempo médio de uma gestação é de trinta e oito a quarenta e duas semanas, precisa de nove meses para o bebê se desenvolver perfeitamente. Esse era o tempo que eu achava que minha Helena iria ficar pronta... mas não, não foi esse tempo que durou.

- Ane? Você está bem? - Disse Jhon entrando no quarto onde eu estava. - Trouxe-lhe umas flores e alguma coisa para comer.

Olho para ele e sorrio fraco, volto a olhar para a televisão que estava presa na parede do quarto. Havia flores para todos os lados daquele quarto, Jhonatan fez questão de trazer a floricultura toda para dentro do hospital.

- Vamos pequena, não fique assim. - Ele desliga a televisão e se senta ao meu lado na cama. - Você aguentou o máximo que conseguiu.

- Ouvi a enfermeira dizer que foi isso que prejudicou mais. - Olho para ele. - E uma outra mulher dizendo que estava muito cedo. - Suspiro. - Afinal, qual era o tempo certo?

- Nathan e João não conversaram com você ainda? - Ele me abraça.

- Não, eles disseram que Helena precisava deles. - Fecho os olhos. - Você a viu?

- Ainda não. Apenas os pais podem ver. - disse ele.

- Mas você está no lugar de pai. - Olho para ele. - Você sabe disso.

- Quero vê-la no mesmo momento em que você for lá. - Ele sussurrou. - Não posso fazer isso antes de você. - Ele beijou minha testa.

Um silêncio se formou entre nós, Helena nasceu de trinta e duas semanas, isso porque me aplicaram uns remédios para segurar por mais tempo, e quanto cheguei aqui no hospital passando mal, queriam aplicar mais remédios ainda. Nem Nathan, nem João estava presente quando cheguei.

- Jhon. - Digo manhosa. - Acho que não fui feita para ser mãe. - Sussurro.

- Por que diz isso? - Ele me olha.

- Nosso filho morreu, e agora Helena nasce prematura. - Digo sentindo meus olhos lacrimejar. - Você sabe que ela pode...

- Ela não vai morrer. - Ele me interrompe. - Ouvi dizer que Helena é uma bebê forte, por mais que seja prematura. - Ele passa a mão em meu rosto. - Olha para mim.

Ergo meus olhos e ele deposita um beijo em meus lábios.

- Vai dar tudo certo, amor. - Ele sussurrou.

- Com licença, desculpa atrapalhar, mas Nathan pediu para vir te buscar. - Disse uma enfermeira entrando no quarto.

- Aconteceu alguma coisa? - Olho para ela. – Helena está bem?

- Sim, Helena está bem. - Ela sorriu. - Vamos menina. - Disse ela se aproximando. - E o pai?

- Eu mesmo. - Disse Jhon se levantando.

Um Militar em Minha VidaOnde histórias criam vida. Descubra agora