Um Militar em Minha Vida

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Ela...

- Você leu? – Perguntou Vick deitando-se junto comigo na cama.

- O que? – Viro-me para ela.

- A carta que Jhonatan mandou. – Ela me olha.

Fazia dois meses desde a morte de Jeremy, a dor continua e cada vez mais a sua falta machuca. Meus sogros não aguentaram ficar muito tempo aqui em casa, disseram que Jeremy cresceu aqui e que este lugar trazia boas lembranças, Guilherme decidiu mudar-se para cá, disse que queria me fazer companhia, Thon e papai voltaram para casa junto com Juli, dona Tania e Rubbia.

- Não sei se quero ler essa carta. – Digo olhando para o teto.

- Está com medo de alguma coisa? – Disse ela fechando os olhos.

- Acredito que medo não seja a palavra certa. – Respondo fechando os olhos também.

- E qual seria a palavra certa? Receio? – Ela sussurra.

- E no final não dá no mesmo? – Sorrio fraco. – Não sei se estou a fim de dar um próximo passo agora. – Completo.

- Você sabe que precisa fazer isso. – Ela se senta na cama. – Jeremy deixou tudo em suas mãos.

- Ele não sabia o que estava fazendo. – Digo olhando-a.

- Ou talvez, ele sabia do seu potencial. – Ela dá de ombros. – Ele acreditava em você. Eu acredito em você.

- O que você acha que devo fazer? – Me sento na cama e cruzo as pernas. – Estou gravida, perdi o pai do meu filho, meu pai está arrependido de tudo o que aconteceu, recebi uma carta do meu ex-marido e...

- Está com medo de tentar ser feliz novamente. – Completou Vick.

- Só quero viver meu momento de luto, apenas isso. – Suspiro.

- Não tem problema você querer viver um pequeno momento de luto. – Ela me olha. – O problema é deixar o luto viver em você, Ninha.

Não respondo nada, Vitoria estava certa, como sempre. Jey não iria gostar que eu vivesse nessa tristeza, muito menos agora que estou com meu bebê, com o nosso bebê.

- Sabe, - digo assim que Vick se levanta. – Acho que você deve tentar psicologia. – Sorrio.

- Você acha? – Ela me olha.

- Não. – Me levanto e calço meus chinelos. – Eu sei que você deve tentar psicologia, e você será uma boa psicóloga.

- Mas...

- Mas nada. – Pego em suas mãos. – Não coloque barreiras para o seu sonho. Se o "problema" maior for o seu bebê, não se preocupe, eu fico com ele quando você estiver estudando.

- Você sempre achando soluções para os meus problemas. – Vick abre um sorriso e me abraça forte. – Tenho que ir, Roger vai conversar com os advogados amanhã sobre as propriedades de Jeremy, assim como você pediu.

- Não sei o que seria de nós sem vocês. – Dou-lhe um beijo na bochecha. – Nós amamos você.

- Nós também amamos você. – Sorrio e solto Vitoria que sai do quarto e vai embora.

Desço as escadas devagar e vou até o escritório de Jeremy, abro a porta lentamente e acendo a luz, tudo estava do jeito que ele havia deixado. Me sento em sua antiga cadeira e olho uma foto nossa que havia em cima da mesa, sorrio fraco e pegou a carta que Jhonatan havia escrito. Fico encarando a mesma e pensando o que Jeremy faria se estivesse aqui, com certeza ele iria querer que eu lesse e talvez iria me ajudar a encarar tudo isso com mais clareza e calma. Me levanto e passo a me sentar na poltrona que havia no canto da sala.

Suspiro e abro a carta, sinto um perfume maravilhoso e fecho os olhos, o perfume que ele usou no dia do nosso casamento, sorrio fraco e me ajeito na poltrona, coloco meus pés para cima e abro os olhos.

"Não sei como começar a escrever essa carta, não sei nem o que falar nessa carta. Acho que poderia começar pedindo perdão por algumas coisas, ou dizendo que agora você não vai ser mais perseguida.

Fiquei triste quando soube que Jeremy morreu, eu não esperava isso e nem desejava isso, esse desejo nunca passou no fundo de minha alma e você sabe que posso ser o que for, nunca iria desejar mal a alguém, principalmente alguém que você ama.

Gostaria muito de ter ido te ver, assim que mamãe disse o que aconteceu, eu desmarquei toda a minha agenda e pedi para ir junto, mas dona Tânia me impediu, disse que não seria o momento certo para ir te ver. Então, fiz a única coisa que poderia ter feito, escrevi essa carta e me tranquei no nosso antigo quarto e fiquei...

Você tem todos os motivos para me odiar, e não te culpo por isso. Desde o dia em que você me deixou, eu entrei em um abismo por causa da sua falta, procurei formas de tentar te esquecer, pensei que dias depois Jeremy iria te deixar livre e você voltaria para mim, mas fiquei sabendo que você estava bem com ele, vocês estavam se entendendo e quem seria eu para destruir a história de vocês?

Mesmo te amando, eu armei o nosso encontro em frente a faculdade aquele dia, e com o coração em pedaços, te dei o divórcio, não poderia em momento alguém dizer que estava arrependido pois era o certo a se fazer naquele momento. Me perdoe por todas as lagrimas que te fiz derrubar, gostaria de ter secado todas elas e ter te dado colo e carinho quando mais precisou.

Saiba que depois de você, nenhuma outra mulher conseguiu me fazer feliz, não estou te pedindo para voltar, até porque você acabou de perder o amor da sua vida. Não estou dizendo que te mereço novamente, porque sinceramente, nem eu estou me querendo ultimamente. Estou dizendo que te amo ainda mais do que antes, e me parte o coração te ver nesse estado que está.

Se precisar de alguma coisa, qualquer coisa que seja, se estiver passando mal e não ter ninguém por perto, pode me chamar, juro que irei me transformar no Batman e irei te ajudar. Aneliz, eu amo você.

Meus pêsames pela a sua perda, e espero do fundo do meu coração, que você fique bem, pois só assim eu estarei bem.

Assinado: Jhonatan."