— Aneliz, você consegue perceber o qual grave isto é? — senhora Jones me encara. Ajeito-me na poltrona e seco minhas lágrimas que não paravam de cair.
— Desculpe por estar chorando tanto desse jeito. — sorrio fraco. — Suponho que nunca vi minha vida desta forma.
— Não precisa se desculpar. Na verdade, esta é a tarefa de casa desta semana. — ela dá uma pausa e se levanta. — Parar de sentir culpa pelo erro dos outros.
— A senhora acha que eu consigo? — pergunto seguindo seus movimentos.
— Eu tenho a total certeza disto. — ela sorriu e foi em direção da porta. — Pode ficar mais uns minutos se quiser, até se acalmar.
— Obrigada mais uma vez. — sorrio fraco e espero ela sair.
Senhora Jones foi uma das professoras de Vick, enquanto ela estava estudando para ser psicóloga, logo, senhora Jones é uma psicóloga, ótima e super recomendada.
Helena pensou que eu estava precisando, pois, eu andava muito frustrada com alguns acontecimentos, tanto que eu pedi afastamento do hospital e continuo apenas com a minha clínica.
Jhon continua no quartel na saída da cidade, porém ele passa muito mais tempo trabalhando do que em casa. A cada dia que passa, ele se afasta mais de mim.
Suspiro fundo e me aproximo do enorme vitral que havia na sala da senhora Jones, ele era lindo, tinha o desenho de uma pombinha com um ramo de oliveira no bico, essa pombinha me trazia esperanças. Esperanças de uma vida melhor.
Após tanto tempo, eu finalmente consegui cair na real. A verdade é libertadora, eles disseram, mas a verdade, meus amigos, é devastadora. É horrível saber que toda a sua vida, tudo o que você acha que tem, foi construído em cima de mentiras, em cima de chantagens, em cima de lágrimas, em cima de sangue de pessoas inocentes. Eu já deveria ter aberto meus olhos há anos, mas nem todas as pessoas aguentam ouvir ou ver a verdade.
Eu nunca consegui perdoar Jeremy, eu sentia medo todas às vezes ele chegava perto de mim, mas eu apenas bloqueei todo ódio, todo sentimento negativo que havia por ele, eu ignorava para o meu próprio bem, para continuar a viver. Acreditei que ele havia mudado, mas no fundo Jeremy sempre foi e sempre será um assassino, de vidas, de sonhos, de planos.
Eu me fiz acreditar que eu havia esquecido dos abusos que sofria dele, das mentiras, das traições, das ameaças. E ele pode até ter mudado de verdade, mas agora eu não acredito nisto. E eu culpo a Aneliz de antes por acreditar nisto, e eu perdoo a Aneliz de antes por acreditar nisto.
Em relação a Jhon? O que dizer? Um homem tão adorável, mas que odeia ser contrariado. E no momento em que ele precisava ficar ao meu lado, ele me virou as costas. Me senti traída por ele, deixada de lado e totalmente esquecida por alguém que dizia me amar. Talvez ele realmente me amasse, talvez ele só estivesse perdido nos seus pensamentos.
"Aneliz você não deve se vitimizar tanto e esquecer dos traumas de Jhon."
Está é a minha vida, a minha história, e se eu não for a principal, então quem vai ser?
Não vou deixar que ninguém tome o papel principal da minha própria história. Aceito pessoas que me ajudam a abrir meus olhos, Vick foi uma dessas pessoas, sempre disse a verdade por mais triste e dolorosa que fosse. Juli também nunca me abandonou, sempre quis o meu melhor mesmo se o meu melhor seria longe das pessoas que eu amo.
Helena também não fica muito atrás. Graças a Deus, ela não é uma cópia de Jeremy. Ela é boa com os negócios, assim como o pai, porém não puxou o rancor em seu coração, não puxou o ódio que corria em suas veias. Helena puxou o meu amor, a minha gentileza e é claro, é super determinada. Fico pensando de quem será que ela pegou essa determinação toda?
Meu pai? O que dizer do senhor Hector que começou toda essa história, uma história muito abusiva. Não tenho o que falar, ele me salvou de Jeremy, mas me jogou nas mãos de Jhon. Tirou-me de um lugar péssimo, mas me colocou em um lugar não muito bom.
Eu passei os últimos anos da minha vida acreditando estar vivendo a minha história de amor, pensando ser completa por ser amada e aceita por alguém. Mas e se toda essa história foi mentira? Não posso fechar meus olhos e pensar só nas partes boas.
Preciso parar e analisar a minha vida, colocar todos os acontecimentos na balança e ver quais me trouxeram maior peso, os bons ou os maus acontecimentos. Eu preciso me distanciar das minhas relações e preciso de uma visão diferente de cada aspecto da minha vida.
— Eu vou embora. — digo assim que chego em casa.
Helena para de fazer seu trabalho da faculdade e me olha sem entender o que eu havia acabado de falar.
— Como? — ela pergunta.
— Eu vou embora. — repito. — Preciso ir embora. — completo.
— Foi isso que senhora Jones disse? — ela se levanta do sofá e se aproxima.
— Ela abriu meus olhos filha. — sorrio fraco. — Finalmente percebi que toda a minha vida foi feita em cima de mentiras e abusos.
Helena fica quieta. Ela sabe que falo a verdade e sabe que estou fazendo o melhor para mim.
— Não vou abandonar vocês. — digo rindo baixo. — Vocês são meus filhos, vão junto comigo.
— E para aonde vamos? — ela pergunta.
— Tenho um apartamento na cidade. — respondo indo em direção das escadas. — Vou vender a casa e vamos recomeçar, o que acha?
— Você, papai, eu e meus irmãos? — minha filha pergunta enquanto me segue.
— Não. — respondo e suspiro fundo. — Seu pai talvez não.
— Vocês vão...? — ela me olha triste.
— Eu não sei, querida. — sorrio fraco. — Mas não se preocupe com isso.
— Mãe, eu não estou... — Helena começa a falar.
— Arrume suas coisas, vamos para o apartamento e lentamente as coisas vão se organizando. — me aproximo dela e coloco minhas mãos em suas bochechas. — Eu amo você, Helena. Entendo que talvez esteja confusa com essa minha decisão, mas eu espero, do fundo do meu coração, que você consiga enxergar a minha situação.
Helena pisca algumas vezes, ela me encara enquanto suspira fundo, abre um pequeno sorriso logo em seguida e coloca sua mão em cima da minha.
— Vou arrumar minhas coisas. — ela sussurrou.
Cinco meses se passaram, e já fiz um ótimo progresso!
Consegui sair daquela casa e foi para meu apartamento no centro da cidade. Semanas depois finalmente abri mão daquele lugar, os pais de Jeremy não queriam mais e Guilherme já tem sua casa, então passei para o nome de Helena, já que é dela por direito.
Jhon decidiu ficar no quartel, disse que não estava mais feliz com nossa vida e que talvez precisasse de um tempo para pensar. Respeitei sua decisão, dei um tempo, mas avisei que não iria espera-lo pelo resto da vida.
Hoje completa exatos cinco meses desde o último dia que vi o homem que eu amava. Coloquei toda a nossa história na balança, do mesmo modo que coloquei todos as minhas histórias na balança e a nossa história foi a única que valia a pena lutar.
Podem dizer que fui idiota e trouxa por acreditar e amar Jhonatan depois das coisas que aconteceram. Posso estar sendo idiota nesse exato momento, pessoas mudam e não estou silenciando meu medo dessa vez. Eu realmente amo ele, mas talvez, dessa vez, eu devo deixa-lo ir e se realmente me amar... ele vai voltar, do mesmo jeito que voltei para ele.
Mas enquanto isso não acontece... vou continuar com a minha vida, porque ela não para e não posso esperar por ele para sempre... o amor verdadeiro não morre, mas adormece profundamente.
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Um Militar em Minha Vida
Teen FictionAneliz é uma moça que está sendo forçada a se casar por puro interesse de seu pai. Jhonatan é um jovem militar, afastado de suas atividades, forçado a deixar sua vida de solteiro para se casar com a moça que seu pai escolheu. Em quatro meses o amo...