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Delegado - Você fez acusações bem graves!- o advogado que acompanha ela pediu para ver o boletim de ocorrência.- Ele ameaçou você?

Lucas - Responde. Fala tudo!

Catarina - Naquela época...- olho para o Lucas que está visivelmente chateado.- O meu filho tinha uns sete meses, o nosso casamento não estava indo bem, mas éramos de uma religião que não aceita divórcio.- relembrar tudo era muito triste para mim.- Eu procurei ajuda dos meus pais, mas eles disseram que ele era meu marido e que eu deveria fazer tudo o que ele queria... até então, as agressões eram apenas verbais.- falo com os olhos marejados.- Tudo mudou muito depois que fiquei grávida, ele... ele perdeu totalmente o interesse em mim, me ofendia de todas as formas que podia e não ligava nenhum pouco para o nosso filho.- choro.- Depois que o bebê nasceu, tudo para ele era motivo para brigas, ele não aceitava a atenção que eu dava para o bebê. Os nossos pais sempre nos aconselhavam e ele sempre se dizia arrependido...

Delegado - Seguiu no relacionamento abusivo porque tinha um filho e por causa da religião?- ela concorda com a cabeça.- Isso é um erro! Mulheres fragilizadas sempre acreditam nisso, ainda mais quando não tem apoio. Continue, por favor!- falo digitando.

Catarina - Nós... não dormíamos mais juntos, ele dizia que o bebê tinha estragado o meu corpo e tinha nojo do cheiro do leite... então eu mudei de vez para o quarto do nosso filho.- o Lucas ouve tudo de cabeça baixa.- Um dia ele chegou diferente, agressivo, parecia alcoolizado, mas eu fingi que não vi ele chegando e continuei de costas lavando a louça...- olho para o Lucas que também me olha.

Lucas - Continua!- desvio o olhar dela.

Catarina - Ele me puxou bruscamente e eu lembro de ter reclamado porque meu braço ficou dolorido, mas ele não me deu a mínima. Começou a me arrastar para o quarto, eu tentei resistir, mas ele é muito mais forte...ele... ele rasgou a minha roupa e me violentou.- falo chorando.- Eu queria pedir ajuda, mas ele me bateu e eu comecei a chorar. O meu filho estava dormindo no quarto ao lado, eu estava com medo... depois de fazer tudo o que ele queria, ele somente me jogou no chão e me mandou sair do quarto...sem roupa e toda machucada...
Eu não dormi o resto da noite com medo dele entrar no quarto onde eu estava com o meu filho. Quando amanheceu, eu ouvi barulho de movimento na casa e fiquei esperando ele sair para o trabalho. Assim que ouvi a porta bater eu peguei umas roupas minha e do meu filho e fui direto para a delegacia, lá eu fiz esse primeiro boletim de ocorrência e o exame de corpo de delito. O delegado sugeriu que eu não voltasse para casa, fui para a casa dos meus pais que no primeiro momento me acolheram e cuidaram dos meus ferimentos. Mas quando os pais do Bruno apareceram lá e pediram para que eu retirasse a queixa...

Delegado - Você fez o que eles pediram?

Catarina - Não! Mas eles falaram como se tudo que aconteceu tivesse sido culpa minha, que segundo a Bíblia "o corpo da mulher é do marido"... que ele só agiu daquela forma porque eu me neguei...eu não era mais a vítima, eu era a causadora da situação toda. Os meus pais acabaram concordando com aquele absurdo.- choro novamente.- Para eles seria um escândalo perante a igreja ter uma filha divorciada, então me levaram de volta para casa.
Fui o caminho inteiro pensando em uma maneira de sair daquela situação, mas pra mim era muito difícil, eu não tinha para onde ir com um bebê e também não tinha o apoio de ninguém!
Poucas horas depois que cheguei em casa, os meus ex sogros pagaram a fiança e conseguiram a liberação do Bruno. Os nossos pais conversaram com nós dois e ele ficou se fazendo de bonzinho, me pediu perdão e eu tenho certeza que este dia foi um dos raros que ele pegou o nosso filho no colo e brincou com ele.

Que situação difícil, né gente!?!

Não foi por acasoOnde histórias criam vida. Descubra agora