Não foi por acaso

#50

Catarina
Momentos antes da cirurgia fui avisada de que a mesma seria adiada para a manhã seguinte, por atraso em uma cirurgia anterior a minha, eu teria que passar a noite no hospital. A notícia me deixou muito ansiosa, a minha mente estava a mil e os meus sentimentos estão todos desorganizados, sinto muito a falta do meu filho nesse momento. Acabei desabando em um misto de sentimentos e chorei muito, sendo amparada pela dona Cleusa que passou a noite comigo.
Custei muito a dormir, tudo o que eu queria era que o tempo passasse logo e que desse tudo certo.
Sou acordada às 06h15 da manhã e enfim chegou a hora. Oro em silêncio enquanto sou levada e preparada para o procedimento. Não nego que estou nervosa e com medo, mas isso não muda em nada a minha vontade de poder ver o Arthur bem.
Depois dos procedimentos padrões, sou anestesiada e aos poucos vou apagando.

Lucas
Passamos a noite praticamente em claro, a Flávia chorou algumas vezes e eu também, mas certamente estamos com fé de que tudo vai dar certo. Foram momentos muito difíceis até chegarmos aqui, mas quando vieram buscar o Arthur para prepará- lo para o procedimento foi muito ruim dizer até logo. Foi a pior sensação da minha vida, não pude evitar o choro. Apesar da fé e da esperança que temos é difícil não sentir um pouco de medo.

Flávia
O transplante começou às 10 horas da manha e durou horas. Os meus pais e os pais do Lucas chegaram praticamente juntos, logo que o Arthur foi levado, o apoio de todos tem sido fundamental para nós dois. Já descasquei todo o meu esmalte roendo de tanto nervoso. Eu só quero ver o meu filho bem e abraçar muito ele.
Já fiz tantas promessas caso dê tudo certo e ele fique livre dessa doença maldita, que nem sei ao certo como irei pagar...

Davi - Familiar de Arthur Pillar de Oliveira?- os pais e mais alguns parentes se aproximam.- O transplante ocorreu muito bem e sem nenhum transtorno...

Flávia - Já posso ver o meu filho?- pergunto aliviada.

Davi - Ele está no pós operatório, quando ele estiver saindo da anestesia deixo você e o pai entrarem, para ele acordar com alguém familiar e não estranhar. Por enquanto terão que aguardar.

Lucas - E agora, ficará tudo bem?

Davi - Ele ainda vai precisar ser acompanhado, devido ao transplante, mas a medula doada é 100% compatível com ele, não creio que terá nenhum problema. Mas vamos ver como ele vai reagir nos próximos dias.

Lucas
A espera pareceu muito longa, mas ficamos muito felizes ao poder ver o nosso filho. Ele já estava quase acordando da anestesia e parecia tão calmo como se estivesse somente dormindo. Depois de alguns minutos ele foi acordando um pouco sonolento e até sorriu quando nos viu.
Nos explicaram os procedimentos, disseram que ele ficaria um pouco dolorido e que tomaria alguns medicamentos, que o deixaram sonolento pelas próximas horas.

Flávia - Gostaríamos de conhecer o doador e agradecer!

Enfermeira - A política de doação garante o anonimato do doador, a não ser que ele queira.- explico.

Flávia - Mas eu já vi tantas reportagens onde os receptores de órgãos encontram com seus doadores.

Enfermeira - Vou ver o que posso fazer e te dou um retorno.

Flávia - Por favor, muito obrigada!

Cleusa - Como você está?

Catarina - Estou bem! Um pouco dolorida, mas bem. E o Arthur?

Cleusa - Ah, se Deus quiser vai ficar bem, a cirurgia foi muito bem sucedida!- ela sorri, aparentemente cansada.

Catarina - Quando vou poder ir embora? Eu preciso voltar ao trabalho.

Cleusa - Provavelmente amanhã, mas você terá que ficar alguns dias em repouso porque sentirá um pouco de dor e dificuldade de fazer alguns movimentos.- ela suspirou.

Catarina - Tudo bem, valeu a pena!- sorrio fraco.