Lorie

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      Ficar sem meu filho era mais difícil do que eu pensava. Fiquei sentada na cama segurando uma roupinha só para sentir o cheiro dele.

      Peter saiu do banheiro com a toalha amarrada na cintura. Não olhou para mim. Apenas começou a se vestir.

      _ Até quando vai me ignorar?_ perguntei.

      Ele não respondeu. Eu poderia tentar usar o meu dom nele, porém ele faria o mesmo. E isso só podia piorar a situação.

      _ Eu não o machuquei no porão._ Garanti.

      Ele terminou de se vestir e saiu batendo a porta do quarto. Nunca me senti tão sozinha quanto naquele momento. Percebi que ele gostava mais do filho do que de mim. Já que se preocupava mais com ele e não se importava com os meus sentimentos. Eu tinha outro bebê na barriga, depois de tentar tanto... E ele não queria nem olhar para mim.

       Eu quis uma família estruturada, como eu não tive. Estava me odiando pelas brigas com o Peter. Já que isso me lembrava meus pais e eu senti na pele o quanto os filhos sofrem. Imaginei que seria diferente e agora estávamos discutindo por motivos bobos. Conflitos na educação. Acho que no fim das contas o meu medo estava correto e eu não servia para ser mãe. Se era daquele jeito que ele ia me encarar, como olhou quando saí do porão com Kevin, por que se casou comigo? Aquele lado meu que ele odiava, o fazia pensar coisas sobre eu ser mãe, que estavam me machucando muito. Todos acharam lindo ele ser o espelho do pai na aparência. Mas quando vêem que ele puxou a mim na sua essência, vão ficar tristes? A fama de menina má, pirracenta e mimada, continuava me atrapalhando.

        Fui atrás dele. Foi para isso que as crianças foram passar um tempo com o avô. Achei-o sentado ao piano. Tocando uma melodia melancólica. 

        _ Qual é o problema?_ Perguntei. 

        Ele continuou tocando a música como se eu não tivesse dito nada.

       Bati a mão sobre as teclas com força, para interrompê-lo. Quebrei o piano que ele tanto gostava. Ele se levantou e me encarou. 

       _ Não basta quebrar o do nosso filho, tem que quebrar o meu também?_ Ele perguntou irritado.

        _ Eu não quebrei o do nosso bebê. Você ouviu ele confessando._ Eu disse indignada.

        _ Ele falou o que você o forçou a dizer com o seu dom._ Ele acusou.

         _ Eu usei o dom para fazê-lo dizer a verdade. Não o impus uma mentira._ Esclareci.

         _ Combinamos de nunca usar nossos dons para controlar nossos filhos._ Ele disse.

         _ Eu não queria! Sabe que não quero um filho marionete. Mas você não confia em mim. Eu quero conversar e você está me ignorando. Desculpa eu ter quebrado o seu piano. Mas a gente precisa conversar._ Eu gritei.

         _ E tem que ser na hora que você quer?_ Ele também gritou.

         _ Droga, Peter! Tem um problema aqui que precisa de solução._ Eu continuei em um tom alto.

         _ Sem pirraça, Lorie! As coisas não são como você quer! Decidir quando nosso filho vai parar de ficar no colo, quando vamos conversar, quebrar o acordo sobre o dom... E eu? Quando é que minha opinião vai contar para você?_ Ele aumentou o tom.

         Peter não tinha o costume de levantar a voz e aquilo me surpreendeu e incomodou. Quando um rapaz tão calmo como ele age daquela forma, é porquê realmente as coisas passaram do limite.

Is It Love? Mystery Spell - Sob o mesmo céu azul!Onde histórias criam vida. Descubra agora