Capítulo 44

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POR MELISSA GIGLIO

Acordei assustada e me deparei com Thomas no sofá do quarto, ele estava adormecido. Acho que voltou depois que adormeci. Me sentia confusa, como se tivesse sido arrancada da minha vida, e falo da minha vida real, aquela fracassada da qual fugi vindo pra Europa. Meu problema sempre foi a ambição, não, não aquela que é capaz de fazer tudo por algo, jamais passaria por cima de ninguém, só que quando alcançava os objetivos que tinha me proposto, me sentia vazia, como se a monotonia me adoecesse, daí me sentia frustrada e começava de novo. A verdade é que nunca me encontrei de verdade, meus pais sempre esperaram muito de mim, mesmo não deixando claro isso, não como faziam com meu irmão, Benjamin. Com ele a pressão era escancarada mesmo, e ele não decepcionou, já eu ... o que posso dizer? Tentei. 

Por falar neles, nem posso imaginar como receberam a notícia do acidente. Ainda não estiveram aqui. Será que estão com raiva? Será que Tom ligou pra eles ou foi a Louise? Como eles contaram tudo que aconteceu?? Meus pais nem sabem que eu namorava Thomas, quer dizer... namoro. Aliás, o desconforto dele tem me deixado mal, será que é culpa? Não posso nem mencionar o acidente que ele parece querer mudar de assunto ou fica mudo, nem sei o que é pior. Sinto que se não conseguirmos falar sobre isso, vou explodir! Só que não quero magoa-lo de forma alguma, não sei o que fazer pra chegar nessa questão com ele.  

[...]

Cada novo dia era um novo começo, eu estava tentando organizar minha cabeça, meus sentimentos. Tom estava aqui quase sempre, Sam também, aliás devo confessar que tenho me sentido mais a vontade com Sam do que com Tom, ele parece diferente, não sei explicar, talvez a culpa o tenha dominado, fato é que o sinto longe, talvez porquê ainda não tivemos a oportunidade de conversar de verdade, sei que é disso que precisamos, falar a verdade sobre tudo, sobre o motivo do acidente. Sei que tem algo ligado com meu sonho, com certeza. Porque lembrei a razão de ter dirigido naquele estado, lembrei do desespero que senti ao me sentir traída, porque nunca houve uma defesa a meu favor e era isso que estava entre nós dois. Uma barreira. Que inegavelmente precisava ser retirada. Só não sei se ele estava disposto a fazer isso ou se o medo o tinha paralisado.

Louise e minha mãe chegaram no primeiro final de semana depois que saí do coma, há essa altura eu já tinha sido transferida pro quarto e obviamente a primeira coisa que minha mãe disse foi: podemos voltar pra casa assim que você tiver alta.
Aquilo soou como uma ofensa à minha independência, minha vida era aqui, por mais que tudo isso tivesse acontecido. Meus estudos, minha carreira, meus amigos, tudo estava aqui e eu não abriria mão disso. Nunca.
Ela não me contrariou de imediato, só disse que iríamos conversar depois que eu me recuperasse. Ganhei alguns dias.
Assim que fui pro quarto, as visitas aumentaram significativamente, Paddy finalmente veio, Harry e Dom, inclusive minha chefe apareceu aqui, me dando a boa nova que meu lugar ainda estava a minha espera, assim que me recuperasse eu poderia retornar, afinal todos na editora acreditavam e confiavam no meu talento. Isso por si só foi um alento, meu coração ficou aliviado com a notícia, apesar de tudo e das últimas lembranças na editora não serem as melhores... o Mr. Hughes, meu professor, também veio e foi tão bom vê-lo, ele era a personificação de que meu projeto inicial não tinha falhado, que minha vaga na Westminster ainda estava lá, só que agora eu teria que correr atrás de resolver minha situação com o governo local para poder permanecer aqui, já que meu curso teoricamente terminaria agora em agosto e com isso o meu visto, mas tanta coisa aconteceu, que parece que faz muito mais tempo que estou em Londres e agora tenho que passar mais algum tempo estudando, não que isso fosse um sacrifício, mas significava um atraso.
Meu aniversário aconteceu aqui no hospital, Tom preparou tudo com a ajuda dos meninos, Sam, Harry e Haz trouxeram flores, balões e um bolo de aniversário, que infelizmente não pude comer por restrições médicas, mas é claro que isso não me impediu de roubar um pouquinho da cobertura e a festa não era só a comemoração do meu aniversário, mas meu progresso com a fisioterapia, o fato de eu finalmente conseguir sair da cama e dar passos sozinha (com muletas).

POR HOLLAND
Melie parecia muito mais a vontade com meu irmão do que comigo, era nítido, talvez o fato de ser ele que estava aqui quando ela acordou diz muito dessa ligação entre eles, e não eu não estou com ciúmes, sei que fui um tanto egoísta, a verdade é que eu entrei naquele avião, porque no fundo eu sentia que ela não ia mais acordar e isso me envergonha muito. Eu poderia ter feito diferente, aliás poderia ter feito tudo diferente desde o início, eu devia tê-la protegido, mas não o fiz. Sam esteve intercedendo por ela todo esse tempo e eu não. Fui covarde. 
[...]
Eu estava em casa essa noite, Louise tinha ido dormir com Melissa no hospital e eu fiquei aqui, com meus pensamentos. Desde que o acidente aconteceu eu não tenho uma noite de paz, porque sei que a culpa é minha. Minha por não ter evitado tudo, eu podia ter feito isso. Era simples. Uma palavra teria evitado tudo, uma simples declaração. Mas eu fui subserviente. Agora eu tinha colocado uma barreira entre nós dois, que não podia ser tirada, a não ser por ela, mas minha garota parecia distante, eu sabia que ela sabia disso, ainda mais depois daquela resposta de "viver um dia de cada vez". Quando Melissa mencionou o acidente no dia que a vi, meu corpo parecia ter congelado, eu não queria ter essa conversa, não queria porque sabia que poderia ser o nosso fim, e a última coisa que quero é me separar dela. Sei que não estou em condições de exigir qualquer coisa, afinal a culpa dela estar naquele hospital é totalmente minha e sinto que por mais que eu tenha evitado todos esses meses, a escolha estava cada vez mais inadiável, e eu estava disposto a largar tudo por ela. Fazer diferente do que venho feito todo esse tempo. Melissa merece isso, mesmo eu nem sabendo se ela vai aceitar .
Sam de repente apareceu na sala me tirando dos meus devaneios e sentou-se bem a minha frente - por que você não tenta dormir um pouco ? - sugeriu - o dia foi cheio.
- não consigo. Muita coisa na cabeça.- confessei
- Melissa?
- Sempre.
- Tom, você sabe que ela te ama, não sabe ?
- sei, mas eu não sei até onde esse amor consegue ir...- suspirei frustrado - eu tenho medo, Sam. Muito medo...eu não fiz as melhores escolhas pra ela.
- Tom, você sempre fez o que achou melhor. Foi um acidente, ninguém poderia prever isso e a Melie sabe disso...- argumentou
- eu deixei tudo isso ir longe demais, a imprensa quase a matou Samuel e pior, eu ajudei nisso, ficando calado, me omitindo, porque eu achei que se não falasse nada, eles desistiram, mas olha só no que tudo isso deu. Melissa quase morreu! Ela tá naquele hospital há meses... quando o professor dela apareceu lá, eu vi que destruí os sonhos dela...ela tinha projetos e eu acabei com tudo ... - um nó prendia minha garganta me impedindo de continuar, deixei as lágrimas fluírem. Sam sentou ao meu lado e me apoiou - a culpa é minha e ela nunca vai me perdoar - afirmei aos soluços
- Se ela não te quisesse por perto já teria dito, você não acha? ...vocês só precisam conversar de verdade, com calma e vai ficar tudo bem, irmão.

- eu espero, Sam... realmente espero por isso... porque não sei o que vou fazer sem ela - confessei

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora