Capítulo 55 - Parte 2

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"Somos feitos daqueles que nos amaram e nos destruíram".

Aquela noite parecia interminável. Enquanto Sam dirigia em direção a minha casa, a imagem de Tom, parado na chuva, não saía da minha mente. Talvez eu ainda não estivesse muito certa de tudo que acontecera, mas eu não estava disposta a pensar sobre isso agora. O solitário ainda estava em meu dedo anelar, eu só não sabia dizer por quanto tempo mais. Aprendi a não tomar decisões de cabeça quente. Era melhor esperar e me acalmar.
Assim que o carro parou, Sam tocou em meu ombro - eu sinto muito, Melie.
Juntei o resto de dignidade que me restava e sorri fraco - Obrigada por me trazer, Sam.- era tudo que podia dizer sem me expor mais ainda
- Melie, vocês precisam conversar direito...
Eu apenas assenti, não queria falar qualquer coisa sobre aquilo - você pode me ajudar com as malas?
Sam percebendo que eu estava mudando de assunto, apenas concordou
- Claro.
[...]
Ao adentrar em casa, os sentimentos que até então eu subjugava estarem sob controle, vieram como uma onda esmagadora, me afogando dentro de mim. O choro veio, de maneira incontrolável.

POR SAM HOLLAND
Ela veio em silêncio o caminho inteiro, eu não quis incomada-la com uma conversa, até porque nem mesmo eu estava digerindo bem aquilo e nem sabia o que dizer. Não entendo: como diabos o Tom pôde ser tão babaca?
Melissa estava tão feliz e de repente tudo se desmoronou como um castelo de cartas. Deve ter sido por isso que Harry levantou a possibilidade de não ter o casamento. Há quanto tempo ele sabia que Tom e Olívia estavam se encontrando? Eu não podia acreditar na estupidez do meu irmão.
Quando entramos na casa dela, Melie parou bem no meio da sala e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa ela desatou a chorar. Desenfreadamente. Soluçando muito. Parecia uma criança que acabara de se machucar e a única coisa que pude fazer foi abraçá-la para lhe dar um mínimo de apoio. Ela mantinha as mãos no rosto, escondendo-o, mas se aninhou em mim, como se eu fosse seu porto seguro naquela noite fria.
- Por que ele... por que ele fez isso comigo?? Por que Sam?? - ela questionava entre soluços, mas eu não sabia o que dizer, não tinha um motivo pro Tom ter feito isso e logo com ela, depois de tudo que passaram juntos. Fiz a única coisa que me passou pela mente, a abracei mais forte e deixei que ela chorasse em paz.

POR MELIE GIGLIO
Era tanta coisa passando pela minha cabeça que eu mal conseguia olhar ao redor de casa, tudo ali lembrava ele. Sam me levou até o sofá e deixou que eu chorasse mais. Ele não disse qualquer palavra em defesa do irmão, o que foi melhor, eu não seria capaz de lidar com isso, não queria brigar mais, muito menos com meu amigo, que ironicamente era irmão do meu carrasco.
Meu celular começou a tocar, de maneira insistente. Era ele. Óbvio que era. Deixei tocar. As tentativas eram tantas que apenas coloquei o aparelho no modo silencioso.
Não demorou muito pra que o celular do Sam também tocasse. Aposto que era Tom, porque ele levantou do sofá e atendeu longe - Sim. Está...dá um tempo pra ela... eu não sei. Ok. - foi uma ligação breve e pelo que escutei, também estranha e seca, e aí percebi que não podia mais manter Samuel aqui comigo, afinal passava das 3 da manhã. Eu encarava o chão da sala, quando Sam voltou com um copo d'água e me deu.
- se quiser um chá eu posso preparar - ofereceu, mas eu não queria chá, o que eu de fato queria,  ninguém poderia me dar, eu queria não ter visto o que vi e aquela opção não existia.
- eu preciso dormir... e tentar esquecer isso - suspirei cansada
- se quiser, eu posso ficar aqui Melie. - propôs ao se agachar para ficar bem a minha frente
- agradeço, Sam, mas eu preciso ficar sozinha. De verdade.
- você vai ficar bem? - perguntou preocupado, mas voltou atrás ao perceber o que tinha dito - me liga se precisar de algo, ok?
- tudo bem... Sam, obrigada.
Ele pegou minha mão e a apertou em sinal de afeto, levantou-se e deu um beijo no topo da minha cabeça.
Eu me sentia exausta, minha cabeça estava explodindo e meu corpo não estava disposto a obedecer a qualquer comando. Ouvi a portar bater. Estava sozinha.
[...]

POR TOM HOLLAND
Sam ainda não havia voltado pra casa e era um pouco mais de 3:30, ele estava com Melissa desde que tudo aconteceu. Como eu pude ser tão idiota a ponto de me deixar guiar por sentimentos tão antigos? Foi um momento que pode ter destruído a minha vida. Harry dirigiu até a casa dos nossos pais, porque eu sabia que Sam não iria na minha casa depois de tudo. Fiquei na sala esperando algum sinal. Eu precisava saber como ela estava. Ouvi a porta se abrindo e Sam apareceu. Assim que nossos olhares se cruzaram, vi indignação neles. Nós já tínhamos discutido mais cedo, quando Sam tentou me impedir de ir atrás da Melie.
- Cadê ela? - perguntei
- Em casa.
- Sam, eu ...
- como você pôde fazer isso com ela, Tom? - acusou antes que eu pudesse dar uma explicação, que na verdade nem mesmo existia - ela confiou em você e o que você fez? Traiu ela! Quem é você? - disse com um ar de desprezo
- Sam, eu só fui ...
- um babaca que trai a noiva com a pessoa que ela mais se sentia ameaçada! - ele começou a levantar a voz
- Samuel eu não quero brigar com você, não quero mesmo! Isso é entre mim e Melissa. Fica fora disso! - avisei entredentes
- ficar fora? Você soa como um moleque mimado... ah é, esqueci, você é um! - respondeu irônico. Acho que estávamos muito alterados, porque não demorou muito e as luzes da casa toda se acenderam e Sam e eu estávamos a centímetros um do outro, sem que eu percebesse quando isso acontecera. Mamãe apareceu e se colocou entre nós dois - Mas o que é isso??? Vocês enlouqueceram? - disse firme
- pergunte ao seu filho! - meu irmão apontou
- Sam! - repreendeu
- Ela tá em casa, chorando por sua causa! - apontou o dedo pra mim - Você não pensou nela, você não pensou em ninguém! - acusou.
Mamãe nos entreolhou confusa - o que está acontecendo aqui? Vocês acordaram a casa inteira aos gritos, eu exijo explicações pra esse comportamento. Agora!
[...]

POR MELIE GIGLIO
Dormir no sofá não foi a ideia mais brilhante que já tivera, eu parecia tão miserável quanto me sentia. A cada passo que dava, meu corpo reclamava, parei diante do espelho. Meus olhos estavam inchados, meus cabelos todos emaranhados, havia resquícios de rímel em meu rosto. Essa imagem que estava refletida ali, não era eu, não era a pessoa que tinha me tornado, naquele reflexo estava a menina indefesa e insegura que fui há anos. É claro que a insegurança é algo que ainda estou trabalhando, mas em comparação com o passado eu me sinto mais forte. Já vivi tanta coisa, já superei tanto, que me vê naquela situação deprimente era humilhante.
Uma vez a Drª. Davies me disse que eu deveria me permitir sentir, sentir de verdade, até a última gota pra que eu pudesse decidir o que fazer. Sem que houvesse pendências.
- Sinta - disse em alto em bom som. Eu não posso deixar ninguém me afetar assim.
[...]
O primeiro dia foi o mais difícil. Meu celular não parou de tocar. Tom sempre foi obstinado, mas isso estava me irritando agora. Passei o dia na cama ou boa parte dele. Chorei até o ponto de pensar que iria desidratar. Depois do choro, veio a raiva. Confesso que quebrei algumas coisas. Aquilo ajudou a me sentir minimamente melhor, mas não durou muito, sabia que precisava externar toda essa ira antes de tomar uma decisão de verdade.

23 de dezembro
Sam. Louise. Haz. Summer. Harry. Tom. Todos ligaram. Eu tinha sumido. A única pessoa que sabia o motivo era Sam. Mandei uma mensagem de voz ontem, depois de várias mensagens não respondidas "estou viva. Só preciso de tempo."
[..]
A campainha tocou, eu estava de moletom zanzando pela casa que ainda estava um caos. Fui até a porta e me deparei com a única pessoa que jamais pensei que viesse aqui.
- Boa noite, Melie - Nikki me cumprimentou
A surpresa era tamanha que mal pude responder
- posso entrar? - perguntou
Dei espaço pra que a mãe do Tom entrasse. Ela olhou em volta, como se tentasse entender o que tinha acontecido aqui - Nikki...- fiz menção a explicar, mas ela me parou - não precisa, Melie. Eu soube o que houve. - engoli a seco pra empurrar o nó que crescia em minha garganta com a presença dela aqui - você quer tomar algo? - a direcionei a bancada.
- água, por favor.
Nikki era alguém que eu gostava, tínhamos uma relação de carinho e amizade, na verdade ela era como uma mãe pra mim, mas nessa situação era óbvio que Tom seria sua prioridade.
- obrigada.
A observei beber a água. Silêncio. E então, ela começou - Melie, eu sei que as coisas estão difíceis agora e sei que Tom errou. Errou feio. E eu não vim aqui pra justificar qualquer coisa - frisou - Mas você não pode fugir pra sempre... - ela me olhava de um jeito compreensivo e isso me fez deixar escapar algumas lágrimas. - eu sinto que não posso ter uma conversa com ele agora, você entende? - limpei meu rosto com a manga do moletom - meus sentimentos estão todos bagunçados... - suspirei - num instante eu acho que vou conseguir perdoar, mas no segundo seguinte ... - me calei. Eu queria  dizer tanta coisa, mas não podia, afinal era a mãe dele bem na minha frente e eu não podia e nem queria manchar a imagem dele pra ela. Como se precisasse, meu subconsciente alfinetou - vai levar um tempo, mas vai passar. Vocês são adultos e se isso te diz alguma coisa, Tom está sofrendo tanto quanto você.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora