Capítulo 84 - St. Thomas Hospital

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POR MELIE GIGLIO
- não me interessa nada disso, por favor... - arfei angustiada ao celular  - deixa eles falarem, não vou falar com essas ratazanas imundas... - suspirei - o The Sun não tem credibilidade nenhuma e todo mundo sabe disso - me fiz enfática, muito mais pra me convencer do que pra minha assistente - Eles só estavam esperando a oportunidade pra me ferrar... não, não adianta, não vou falar sobre a minha vida pessoal  - afirmei a ela
- nem uma nota oficial? - questionou mais uma vez
- Bella escuta, você só vai me passar o que for estritamente necessário e urgente, fora disso eu não atendo ninguém. Justine vai ficar na revista enquanto isso... obrigada. Sim, eu te mantenho informada. Certo, tchau - finalizei a ligação.
Mamãe estava descansando no quarto, enquanto eu resolvia minha vida na revista, o presidente da empresa, David Carey, foi totalmente atencioso e compreensível, me dando uma licença e aceitando que Justine retomasse o cargo temporariamente até que eu pudesse voltar ao trabalho e ainda se disponibilizou a pagar todos os custos necessários do hospital. Me senti imensamente reconhecida, valorizada e grata. Mas apesar desse momento glorioso com o presidente da empresa, a imprensa estava tentando me derrubar a todo custo, e eu não tinha forças pra lidar com eles e com minha vida desmoronando ao mesmo tempo. O silêncio seria minha resposta agora.
[...]
Ao entrar no quarto dela, vi Ben cochilando na poltrona enquanto Dr. Hall checava nossa mãe, que permanecia adormecida, e isso me aliviava porque sei que ela tem sentido dores, só não quer dizer. Papai estava no meu apartamento, eu o tinha convencido a ir pra lá descansar, afinal esses últimos dias foram caóticos e ele estava sozinho cuidando de tudo, mas agora que eu e Benjamin estávamos aqui, ele podia descansar um pouco, papai resistiu mas acabou aceitando, pois estava realmente esgotado e precisava estar bem pra que pudesse nos apoiar.
Assim que me viu, o médico sorriu de maneira simpática - Melissa, que bom que está aqui, preciso falar com você um minuto - afirmou
- claro. Podemos ir lá fora? Não quero acordá-los - gesticulei em direção aos dois, ele assentiu.
Nos dirigimos até o corredor, reparei que o semblante do dr. Hall havia mudado um pouco, e sendo bem sincera a aflição em mim só cresceu com essa nova postura adotada. Cruzei os braços tentando encontrar uma posição confortável pra ter a tal conversa. Respirei fundo.
- e então? - iniciei
- Melissa, primeiro queria dizer que fico feliz que você tenha se recuperado totalmente do acidente, sem sequelas e ... - ele ia começar um discurso pra tentar me fazer sentir menos pior do que de certo me sentiria com a próxima notícia. Eu apenas sorri sem mostrar os dentes e o interrompi - obrigada, Hall, mas nós dois sabemos que não é isso que você quer me dizer, certo? - fui direto ao ponto
- certo, Melissa - pontuou
- eu quero a verdade - pedi - Desde que cheguei aqui não consegui falar com você, quero saber a real situação da minha mãe. Qual o diagnóstico e as perspectivas ? - questionei
Ele respirou fundo e começou - câncer no ovário, estágio 3C recidiva - sentenciou. Isso parecia ruim, na verdade péssimo. Demorei um tempo pra conseguir dizer algo, afinal eu sabia que o estágio de um câncer poderia ir até o 4, ou seja, a situação da mamãe era péssima em níveis assustadores.
- traduzindo os termos médicos isso quer dizer ...
- quer dizer que o câncer se espalhou pra além da área pélvica. Existem células cancerígenas maiores que dois centímetros no abdômen, nos gânglios linfáticos da barriga, da virilha, e por detrás do útero... - minhas pernas pareciam que não aguentavam mais o meu corpo, procurei por estabilidade, e me encostei na parede. Puxei o ar com toda a força disponível no meu âmago. Golpe duro. Duríssimo.
- tratamento?
- Sua mãe já fez a cirurgia para retirada da área afetada e passou pela químio há mais ou menos 7 meses, a questão é que ele retornou. O tratamento para o estágio 2 e 3 são os mesmos. O que podemos fazer agora é diminuir as dores, tentar a radioterapia, mas é um processo muito sofrido e ela não está em condições físicas pro tratamento ...
Silêncio. Minha mente tentava encontrar uma solução, tinha que ter outra saída, não podia ser tudo - tem que ter uma outra solução Hall... algum tratamento alternativo, não pode ser só isso! - afirmei exasperada e automática. O desespero estava tomando conta. Eu precisava me manter centrada ou ia atrapalhar tudo.
- Melissa, preciso que mantenha a calma pra conseguir dar apoio a sua mãe assim como ela fez quando você estava em coma. Lembro perfeitamente dela aqui no hospital cuidando de você...
Fechei os olhos tentando conter a avalanche de lágrimas que ameaçavam vir a tona, engoli a seco, Dr. Hall aguardava pacientemente. Eu tinha que ser forte.
- Tem que ter um saída Hall, tem que ter. Eu pago o que for necessário, mas você precisa salvar a minha mãe! - supliquei
Ele tocou meu ombro de maneira condescendente
- não se trata de dinheiro, e você sabe disso... eu prometo que faremos o melhor... escuta, se quer saber desde que você chegou, ela apresentou melhoras, está mais animada... isso é muito positivo, Melissa. Pensa nisso, tá bem? A equipe fará o máximo por vocês.

POR TOM HOLLAND
Melissa deixou bem claro que não me queria por perto, sei que foi num momento de raiva, mas prometi a mim mesmo que ia respeitar o espaço dela, entretanto depois do que o THE SUN publicou, eu não poderia ficar longe. Me pergunto como eles conseguem as informações, porque eu mesmo não sabia ao certo o que a mãe dela tinha, só sabia o que o Sam nos contou depois que voltamos a Londres.
Mamãe resolveu ir ao hospital com Sam para dar apoio a Melie e eu fiquei em casa, esperando pacientemente, mas ficar aqui enquanto a vida dela desmoronava estava me matando. Peguei as chaves do carro e dirigi até o St. Thomas.
[...]
Assim que cheguei na recepção para pedir informações, fui direcionado a área da oncologia, no 2º andar. Isso era ruim, bem ruim. Péssimo, na verdade. Peguei o elevador. Tive a impressão que essa subida demorou uma eternidade. Minhas mãos suavam, esfreguei-as na calça.
- você veio aqui pra dar apoio, não pra atrapalhar. Calma. - me auto-aconselhei - Respira, Holland.
As portas se abriram e me vi em um corredor, havia pouquíssima movimentação. Vi quase no fim do corredor minha mãe abraçando Melissa. Consolando-a. Logo em seguida Sam se aproximou, pegou em sua mão e Melie o abraçou. Ela tinha uma postura amedrontada, não era aquela mulher cheia de atitude que coordenava 50 pessoas num ensaio de moda. Ali não era Melie Giglio, editora chefe da Harper's Bazaar, ali era só a Melissa ou melhor, a Mel.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora