Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLAND

Capítulo 71

POR HOLLAND
Mais uma entrevista. Eu normalmente gosto de falar sobre meu trabalho, mas desde que fui fotografado com a Nádia, tudo se resume a isso. É exaustivo.
O fato dela também ser uma pessoa pública interfere na maneira de lidar com essas perguntas. Nós estamos saindo, nos damos bem, ela é divertida não do jeito da Melie, mas é. Eu sei que é totalmente errado comparar uma com a outra, mas é inevitável.
Por falar em Melissa, a encontrei numa festa pós premiação, há alguns meses, aparentemente ela estava sem o fotógrafo, e isso quase fez com que eu me aproximasse dela, mas quando tomei coragem pra encontra-la, Michael apareceu de repente ao seu lado, o que me fez recuar. A observei de longe, ela sorria. Um sorriso cheio e aberto, como há muito eu não a via sorrir. Aquilo foi como um estalo, Melie estava feliz e não era comigo, alguns dias depois resolvi ceder aos apelos de Haz. Saí com a Nádia e me surpreendi. Eu podia ser feliz de novo.
[...]

POR GIGLIO
- 2 horas de atraso, quanta irresponsabilidade! - esbravejei enquanto a equipe corria de um lado pra outro tentando agilizar a situação do shooting. Atualmente eu não acompanho mais todos os ensaios tendo em vista que há alguns meses fui convidada a assumir o cargo de editora-chefe da Harpers, já que Justine resolveu se aposentar, isso me deu muito mais responsabilidade e menos tempo pra resolver as minucias e manter as coisas sob controle, e é claro que a pressão triplicou. Gerenciar tanta gente é uma das pressões mais esmagadoras que já vivi, mais ou até pior do que a época que tive que lidar com a imprensa não sendo uma pessoa famosa (as experiências da vida).
[...]
Já era final da tarde quando Louise chegou no escritório de surpresa. Ela entrou como um furacão, como sempre.
- Mel, adivinha só ...
- Oi, tudo bem? Como vai ? - interrompi só pra irrita-lá, e é óbvio que Lou revirou os olhos e eu ri com aquilo. Ela estava em Londres fazia uma semana, eu a estava ajudando ou melhor tentando ajudar (com o resto de tempo que tinha) com as coisas do casamento, mais especificamente com o vestido já que minha influência na alta costura eram de grande valor agora.
- não acredito que você ainda tá aqui?! - disparou ao me ver organizar uma pilha de papéis.
- sabe Lou, algumas pessoas trabalham pra sobreviver - rebati bem humorada, na verdade a essa altura do dia meu humor estava muito ácido
- pra sobreviver ? - questionou irônica - ah tá! Como se alguém acreditasse nisso ...- ela pontuou
enquanto eu me jogava na cadeira do escritório, mas ao ver a cena Louise resmungou - aaaah não! Vamos que quero que você veja o andamento do meu vestido, ainda estou indecisa entre aquelas propostas. Vamo Melissa!! - disse agarrando meu braço.
Tinha esquecido como Louise era persistente. Estava com saudade.
[...]
Enquanto eu analisava os croquis, Lou estava na cozinha tentando fazer um carbonara, a convivência com o Sean tinha aperfeiçoado suas habilidades culinárias.
- Desde que século você não faz compras pra essa casa Melissa? - resmungava do cômodo ao lado, mas eu estava mais concentrada em verificar as possibilidades de entrega em tempo hábil do vestido depois que ela decidisse o modelo do que responder a essa pergunta. Como quase não fico em casa, ou estou sempre em restaurantes, minha despensa está praticamente vazia faz uns dias, Michael que se preocupa com isso, mas ele está na Califórnia agora.
Quando dei por mim Lou já estava ao meu lado me oferecendo uma taça de vinho
- obrigada ...- disse ao pegar a taça e continuar a análise - eu particularmente gosto desse Valentino, gosto muito, o detalhe e o bordado inglês, olha o quanto é lindo e delicado o caimento - argumentei de forma menos técnica e mais pessoal.
- Eu também gosto desse, muito! Mas também gosto desse bordado aqui, olha - disse apontando para o outro croqui, que também era Valentino.
- Lou, se fosse eu, escolheria esse - apontei para o meu favorito - ele é muito mais romântico e delicado...
- como teria sido o seu vestido pra casar com o Tom ...? - ela soltou de repente, fato que me fez pensar em quanta coisa já estava planejada quando terminamos. Louise pareceu perceber o que tinha dito e como isso tinha me afetado, ela se retratou no momento seguinte - tudo bem, eu só ... - suspirei - é só estranho pensar nisso...
- Melissa, você casaria com o Michael ? - aquela pergunta me pegou de surpresa, eu gosto muito do Michael, mas nunca me imaginei casando com ele. Nas poucas vezes que pensei em casamento era o Tom que vinha a minha cabeça, e essa era uma coisa que eu nunca admitiria pra ninguém - nunca houve um pedido, Lou - respondi
- mas se tivesse? Estamos falando de hipóteses aqui. - insistiu
- eu ... - tomei mais um gole do vinho, Louise me conhecia o suficiente pra saber que eu estava fugindo da questão - Mel, eu não sei se você viu, mas o Tom ... - essa pausa dramática só podia significar uma coisa - ele tá com alguém.
- Olívia ? Na última vez que conversei com Sam, ele me contou que eles não estavam mais juntos...
- alguém novo... Eu pensei que você já soubesse, já que ela também é famosa.
Ficamos em silêncio por um instante. Não vou negar que fui pega de surpresa. Eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde e por isso mesmo me mantive longe das informações sobre ele, todas as vezes que conversei com Sam ou Haz, até mesmo com a Nikki, sempre desviava o assunto quando eles mencionavam o Thomas, mas as vezes é impossível se blindar das notícias, ainda mais no nosso mundo. Era justo, eu tinha seguido em frente, ele deveria também. Mas infelizmente eu era egoísta demais e isso tinha me afetado mais do que gostaria.
- Mel, tá tudo bem? - perguntou minha amiga devido ao meu silêncio - Sim... só é ... estranho saber isso. Quer dizer, é super normal que ele tenha seguido com a vida dele... - suspirei - espero que o Tom esteja feliz - disse por fim
- amiga, eu te contei porque eu convidei o Tom pro casamento ... não queria que um clima estranho quando vocês se encontrassem lá.

POR HOLLAND
Ela estava correndo, correndo muito, como se estivesse fugindo de alguém. O lugar era uma espécie de floresta, um lugar deserto e estava escuro, ela parecia angustiada. De repente, a vi cair e por mais que quisesse ajudá-la, não poderia. Eu não parecia estar no mesmo lugar que ela, mas estava vendo tudo, Melissa levantou, e pude ver que seu rosto estava coberto de lágrimas. Ela encontrou meu olhar e afirmou:
- Eu amo você.
Tudo ficou preto.

O despertador disparou antes que eu pudesse entender que espécie de sonho era aquele. Não nos falávamos há meses. Não sonhava com ela há muito tempo. Olhei para o lado e vi Nadia dormindo profundamente. Levantei-me e fui até a sala. Melissa era um ponto na minha vida que por mais que quisesse esquecer era impossível, ela se fazia presente na ausência.
Saí pra correr pra tentar colocar minha cabeça em ordem, sonhar com Melissa depois de tantos meses tinha me deixado atordoado, inegavelmente sentia falta dela, do beijo, do toque, mas tinha aceitado que ela estava muito bem com a decisão de ficar com o fotógrafo, afinal ela assumiu a relação com ele pouco tempo depois de quase voltarmos, enquanto que eu tive que convencê-la por meses e meses até fazê-la concordar em ir a première comigo. Sei que é ridículo comparar as situações, até porque naquela época, Melissa era só a Melie, hoje ela é Melie Giglio, editora chefe da Harper's Bazaar, uma personalidade da moda. Ela tem uma vida pública, e antes não.
[...]
Lembro bem que assim que voltei de NY, resolvi conversar com Olívia, Melissa sempre teve razão, eu de fato tinha sentimentos adormecidos por Livy, então mantive-a perto por algum tempo até conseguir definir o que sentia. Naquela época, ainda estava muito chateado com tudo que tinha acontecido, mas não tinha mais o que fazer, e meu maior erro foi ficar com Olívia enquanto ainda tentava me recuperar da relação com Melissa. Não durou muito. Decidimos que cada um seguiria sua vida, afinal eu era outra pessoa quando achava que estava apaixonado por Livy, éramos crianças descobrindo o mundo, hoje temos vivências totalmente diferentes.
Passei algum tempo oficialmente sozinho, vi Melie assumir que estava numa relação com Michael e aquilo me doeu mais do que eu previa, foi então que a ficha caiu e decidi finalmente seguir em frente. Conheci Nadia, tínhamos alguns amigos em comum, e ela estava iniciando a carreira como atriz. A garota era engraçada, inteligente e muito bonita, pensei que poderíamos tentar, que dessa vez seria diferente, "temos uma mesma vida", pensei. Isso facilitaria as coisas.
Viajamos juntos e me permiti apenas curtir os momentos, sabia da possibilidade de ser fotografado com Nadia, mas aquela altura isso já não importava. Melissa tinha seguido em frente e eu deveria fazer o mesmo.

HAZ OSTERFIELD
Conversei com Louise há dois dias, ela estava aflita por diversos motivos, e um deles era o fato de ter convidado o Tom pra ser padrinho de casamento dela junto com Melissa. Ambos sabiam que se encontrariam na ocasião, só não sabiam que formariam um par.
- Lago di Como? Pensei que Louise fosse casar na Sicília. Foi o que ela tinha dito a ... - parei antes de mencionar Melissa. Tom evitava tocar no nome dela. Ele me encarou por uns instantes e questionou como se soubesse que eu iria menciona-la - você tem falado com ela ?
Pensei em negar, mas não mentiria sobre isso - Sim, conversamos na última semana - afirmei acanhado e ele se manteve em silêncio. Pigarreei.
- eles ainda estão juntos ? - Tom nunca perguntava diretamente sobre isso, mas algo parecia incomoda-lo dessa vez. Andei pela sala, querendo fugir dessa questão, Tom era meu melhor amigo e Melissa se tornou uma pessoa muito importante também, não podia ficar entre os dois - ela não fala sobre ele pra mim, mas acho que ainda estão juntos sim - respondi - claro - disse meio chateado.
Sinceramente eu não entendo os dois, é muito nítido, pelo menos, pra mim, que eles ainda sentem algo um pelo outro, prova disso é que ambos evitam questionar sobre a vida do outro abertamente. Tanto Melissa quanto Tom evitam tocar no nome do outro, mas fazem perguntas muito sucintas e discretas, que você responde e nem percebe. Por mais que tenham tentado seguir caminhos diferentes, ainda acho que esses caminhos vão se cruzar de novo. Ainda mais com essa ajuda nada sútil do destino chamando Louise.