Capítulo 56 - A CONVERSA

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24 de dezembro
- Eu sei que vocês tem a cultura de celebrar a véspera de natal, então pensei em passar aí e te fazer companhia, tudo bem? - perguntava Sam do outro lado da linha
- Agradeço Sam, mas eu não estou em clima de festa... eu só preciso de mais uns dias.
- Melie, não pode se esconder do mundo pra sempre, você sabe disso, não é?
Suspirei
- Eu sei, mas estou quase chegando a uma conclusão. Nos vemos depois do natal, ok?
- certo, Melie. Eu vou respeitar seu espaço... já sabe, qualquer coisa é só me ligar.
- Obrigada, Sam.
[...]

POR TOM HOLLAND
Liguei. Diversas vezes. Nada. Melissa estava me evitando a todo custo. Queria ir lá, mas Harry me convenceu a dar um tempo pra que ela conseguisse digerir tudo.
Como eu pude ser tão idiota? Quando penso no que fiz, me encho de vergonha. Eu não parecia estar pensando direito. Sam tem toda razão em me acusar, eu fui a pior pessoa do mundo, magoei a mulher com quem quero formar uma família, de um jeito que prometi que jamais faria. Eu sou mesmo um babaca, um moleque mimado como meu irmão disse.
Por falar em Sam, havíamos discutido feio e ele mal tem olhado na minha cara desde então. Mamãe também não está bem com isso, nem com a nossa briga, nem com o fato de eu ter beijado Olívia, ela não falou, mas sinto que está chateada. Quando contei, ela foi muito firme - "Sempre confiamos nas suas escolhas, mas fazer isso não foi certo. Não foi isso que te ensinamos. Ela merecia mais, muito mais, Thomas. Pensa em tudo que a Melissa aguentou por você e você faz uma coisa dessas? Eu via como ela agia quando Olívia estava perto, mas ela nunca interferiu, ela respeitou você e seu espaço...coisa que você não foi capaz de fazer, meu filho. Agora você vai ter que esperar... esperar que ela consiga te perdoar."
Era a coisa que eu mais queria. Perdão.
Já fazia 6 dias. Eu não aguentava mais esperar. Era véspera de natal e eu precisa falar com ela, tinha que ser agora. Saí de casa decidido.
[...]
Estava diante daquela porta que me era tão familiar, mas dessa vez eu não podia simplesmente entrar, mesmo tendo as chaves.
- coragem - disse em alto e bom som pra me encorajar, toquei a campainha.
Demorou, mas ela abriu a porta. Assim que me viu e nossos olhares se encontraram, ela recuou.
- Posso entrar?
Ela não disse nada, apenas abriu espaço pra que eu entrasse. Logo que entrei, me deparei com uma bagunça fora do normal. Melie sempre reclamou que eu não era organizado e agora a casa estava assim, uma zona.
- Só está refletindo meu estado de espírito - respondeu ao me ver analisar o cômodo
- não, eu ...
- Não importa. O que você quer ? - ela estava na defensiva, o que era normal nessa situação, seus braços estavam cruzados em frente ao corpo indicando isso. Melissa estava desconfortável.
- pedir perdão - fui sincero
- perdão? - indagou - ainda não virei Deus, Holland.
- Melie, eu quero me explicar... por favor - ela permaneceu imóvel, apenas me olhando - eu não aguento mais a sua indiferença. Eu preciso que você me diga que não acabou, que fale comigo, que grite se for preciso mas eu tenho que saber... porque eu tenho a sensação que você está se esvaindo pelas minhas mãos e eu não posso fazer nada pra que você fique - confessei
- você sabe muito bem que gritar não faz meu estilo... - respondeu calmamente - e como você pode ver, eu já tive a minha dose de atitude - disse ao olhar ao redor. Foi aí que percebi que o anel de noivado permanecia em seu dedo, ainda não acabou, havia esperança.
Ela se encaminhou pra poltrona da sala e sentou, e me orientou a fazer o mesmo.
Melissa parecia cansada, como se não dormisse há dias, estava com um curativo pequeno na mão esquerda, seu semblante me lembrava os piores dias de crises, o que me fez sentir pior ainda. Lembro quando ela teve uma crise de pânico e foi depois desse dia que eu decidi responder as mensagens da Livy. Maldito dia. Maldita escolha.
- Tom? - Acho que eu me desliguei por algum tempo porque ela chamou por mim. Não do jeito de antes, mas ainda sim, chamou.
- você disse que queria se explicar. A hora é agora - não pensei que de fato ela me daria essa oportunidade, tanto que as palavras na minha cabeça se embolaram.
- Melie, eu fui estúpido, egoísta ...
- concordo.
- eu errei e admito isso com a maior vergonha. Eu não sou assim, você me conhece Melie... - as lágrimas começaram a vir sem que eu conseguisse me conter - tenho me arrastado por aí...briguei com o Sam e a culpa que tenho sentido consegue... - funguei - eu sinto sua falta, darling.
- Tom, eu ...
- não, amor - a interrompi - Eu te magoei e isso não tem justificativa, eu prometi que comigo seria diferente, mas eu fiz pior ...
- Tom, há coisas que não podemos prometer, eu te disse isso... e mudar o que passou, simplesmente não dá. Eu não posso apagar o que vi naquele dia... toda vez que fecho os olhos - ela respirou fundo - eu voltei mais cedo porque queria te contar sobre a Bloomsbury... mas há essa altura não faz diferença. - deu de ombros. Melissa se levantou e foi em direção a janela - isso é sobre amor, não é Thomas? - questionou de costas e eu não estava entendendo aonde ela queria chegar - é claro que é, sempre foi - afirmei aflito. Essa conversa podia acabar muito mal. Melissa se virou e finalmente percebi mais do que indiferença em seu olhar, havia tristeza e decepção e aquilo conseguia me deixar pior do que eu estava. Me senti um nada.

POR MELIE GIGLIO
Tom sabia das minhas fraquezas e fez o favor de abrir todas as minhas feridas com aquela cena com Olívia. Aquilo não tem me dado paz, então enchi meus pulmões de ar, como se aquilo fosse a coragem que eu precisava pra fazer o que era necessário - você a ama ?
Ele me olhou alarmado, eu precisava perguntar, não que isso fosse me dar algum parâmetro, porque sei que nem ele mesmo sabe o que sente e sinceramente tinha medo dessa resposta, mas era necessário - o que ? Não, Melissa - respondeu afoito - aquilo foi um ato impensado, inconsequente e ...
- guiado por alguma coisa guardada aí dentro - apontei pra seu peito
Ele me encarou cheio de dúvida, mas não disse nada. Mamãe sempre me disse que quem cala consente. E era exatamente isso. Ele já havia me dito que tinha enterrado esse sentimento e que era passado, mas ao ver aquele beijo eu sabia que nada estava esquecido. Estava mais vivo do que nunca e eu não podia fazê-lo escolher entre nós duas.
- eu sei que existe algo, Tom. Um sentimento que nem você sabe dizer o que é. - afirmei
- Melie, isso é loucura! você tá entendendo tudo errado, é com você que eu vou me casar!
Um grande nó se formava em minha garganta, afinal dizer adeus nunca esteve em meus planos, mas viver tudo que vivi com ele também não estava. Me aproximei dele, e peguei em sua mão
- eu preciso de paz, Tom. Eu mereço isso.
- mas eu posso te dar essa paz, darling - de repente ele pôs as mãos em meu rosto e suplicou - não me deixa, Melissa... por favor - sussurrou
- eu não te quero pela metade, Tom. Eu preciso de você inteiro, comigo. Sem mais nada entre nós dois.
Ele me segurava firme, como se eu fosse escapar e talvez eu realmente estivesse. Pus minhas mãos nas dele, ainda estavam tocando meu rosto. Respirei fundo.
- Melie eu não queria te magoar, nunca quis. Eu te amo muito mais do que consigo dizer e ...
- eu sei, darling. Eu sei...mas eu não quero que um belo dia você acorde ao meu lado e perceba que não sou eu. - aquelas palavras tinham um gosto amargo na minha boca, porque eu facilmente perderia meu lugar no coração dele. Olívia tinha uma autoestima e uma leveza que eu não conseguia alcançar. Eu estava apostando meu futuro num único fio de esperança, que no fim ele teria certeza que era eu a garota certa, e apesar de querer que Thomas me escolhesse, eu queria mesmo que ele fizesse a opção pela felicidade. Completa e plena. Afinal, é disso que se trata o amor.
- você é a minha garota, Melissa. Por favor não faz isso - ele estava implorando
- Não fui quem fiz, Tom. Foi você.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora