Capítulo 58

1.2K 98 37
                                    

"Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não podemos crescer emocionalmente. Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um."
Fernando Pessoa

POR MELIE GIGLIO
Estava na Hyde Park. Há anos eu não andava por aqui, quero dizer desde que me mudei de Londres, há 2 anos. Tanta coisa mudou desde então. Assumi uma carreira que eu nem sabia que era minha, a moda era algo que sempre gostara, mas não conseguia me visualizar trabalhando nisso, porque acreditava que envolvia muito mais questões e quesitos artísticos, do tipo: corte e costura e desenho. Na minha cabecinha limitada era isso, mas descobri um mundo. E me orgulho muito em fazer parte disso.
Minha relação com os Holland's mudou um pouco, claro que ainda mantenho contato, afinal eles são como uma espécie de família, me deram um suporte quando mais precisei, entretanto mantive uma distância segura, afinal Tom era um ponto delicado. Quando terminamos, não foi exatamente amigável, quero dizer, não brigamos, óbvio que não, mas eu estava magoada. muito. Ele tentou contato algumas vezes, de maneira insistente até, mas minha mágoa era maior, e eu não sabia explicar se era dele, de mim ou de toda a situação, porque eu poderia ter evitado tudo aquilo. No fundo eu sempre soube que Thomas sentia algo por ela, mas me omiti, por medo e me feri. Por culpa minha. Isso era a tal da responsabilidade emocional que eu não tive comigo. Durante todos esses anos eu pensei nisso. Como que cobramos tanto isso do outro, mas não temos a sensibilidade de perceber que também estamos inclusos nesse processo, afinal eu me permiti ficar dependente emocionalmente dele. E essa era a coisa que mais apavorava, quando cortei o vínculo isso doeu muito mais do que pensei.
As primeiras semanas, depois que a raiva passou de verdade, eu quis ligar, mas não era certo, eu disse a ele que o queria inteiro e pra isso, Tom precisava entender os sentimentos dele, coisa que só se resolveria com espaço. Decidi focar toda a minha energia na faculdade, no projeto que estávamos envolvidos e deu certo. Saía da Bloomsbury e me enfiava na faculdade até tarde da noite. Foi assim que sobrevivi ao término.
Depois fiquei me dividindo entre a editora em Paris e a Westminster, uma viagem de 1 hora e meia todo dia que eu considerava perdida, até que 3 meses se passaram e eu decidi me mudar definitivamente pra França, só voltava pra Inglaterra para as aulas que durariam ainda dois semestres. Quando concluí minha dissertação e defendi a tese, ganhei meu título. E as coisas foram acontecendo. Há essa altura eu já estava na chefia da editora e representei-a em vários eventos pelo mundo e num desses eventos, esbarrei com alguém que eu julgava não se interessar pelo mercado, Giorgio. Pra ser muito sincera, quando ele me abordou parabenizando as publicações da editora, me surpreendi afinal quem naquela faixa etária ( não que ele seja velho), conheceria os autores que estávamos lançando? Essa galera toda veio da internet. O propósito era dar espaço pra quem tinha talento, mas não tinha visibilidade. E lá estava eu e um completo desconhecido falando sobre cultura jovem, até que ele se apresentou formalmente e eu apenas fingi costume; eu já ouvira o nome dele diversas vezes, mas pra mim era só um nome do mundo da moda e jamais fiz relação a um rosto. Quando ele me fez o convite pra semana de moda, eu fiquei meio supresa, mas aceitei e foi aí que tudo se encaminhou pra esse ponto de hoje. Me tornei uma pessoa pública sem querer. Graças a Frankfurt book fair. O mais irônico nisso é que sempre fugi dos holofotes, as maiores questões entre mim e Thomas sempre estavam envoltas as publicações da imprensa. E agora lá estava eu, exposta. Mas por causa da minha carreira e não por ser a namorada de um astro de Hollywood, mas por ser quem sou.
[...]
Estava apenas dando um tempo pra mim, muita coisa aconteceu desde que saí daqui, de algum modo Londres era meu lar. Sentei-me em um dos vários bancos espalhados por lá e fiquei observando a vida passar, acompanhada de uma paz que era muito preciosa pra mim, mas também escassa.
A cidade me lembrava muitos momentos, muitos deles vividos com Tom, e agora que estou de volta, tudo voltou, ou melhor, tudo ficou mais vívido. Quantas vezes quase liguei pra ele, quantas vezes quis voltar, mas eu não podia, eu o queria inteiro e tinha dado tempo suficiente a ele, mas as coisas não saíram como eu pensei. Nos afastamos de tal maneira que foi impossível voltar. Primeiro a raiva, depois o medo, o receio e eu deixei que tudo isso fosse nos levando cada vez mais longe um do outro e agora, depois de tantos anos era algo perdido... eu assumi meus erros, procurei ajuda e me mantive a salvo, mas depois da conversa do término, apenas trocamos mensagens em nossos aniversários, afinal o respeito e a admiração sempre foram vitais em nossa relação e se mantiveram mesmo depois do fim.
Lembro que há alguns meses um artigo caiu em minhas mãos para que publicássemos, era sobre Tom e Olívia num festival, inclusive eu estava nesse mesmo evento e por sorte não nos esbarramos, porque eu muito provavelmente não saberia agir ao encontrá-los juntos... fato é que aquele tipo de material nem vinculado na nossa revista era e por alguma razão parou lá, e bem nas minhas mãos. Não sei se foi caso pensando ou não, mas de qualquer maneira decidi não publicar. Não muito tempo depois todos na imprensa só falavam sobre o "date" misterioso dele. Foi ali que percebi que Tom não era mais meu. Já fazia tempo que tínhamos terminado, mas ele nunca tinha sido visto com ninguém desde então e Haz sempre que conversamos pontuava isso, só que se ele se deixou fotografar era porque dessa vez era sério. E eu teria que ir pro próximo capítulo da minha vida.
[...]
Como eu trabalhava nesse mundo da moda, volta e meia eu era "flagrada" com alguém, em geral personalidades e meus caros "amigos", também conhecidos como paparazzis, faziam questão de distorcer os ângulos dessas fotos. A coisa mais insurportável do mundo. O que muito me irritava no início é que mesmo eu sendo uma "pessoa pública", digo isso em aspas porque uma diretora artística/criativa de uma revista, mesmo essa sendo uma das maiores do mercado, não é perseguida assim como sou e nem tem tanta visibilidade da maneira que tenho, o que os atrai de verdade à mim é fato de eu ser ex-noiva do Holland.
Lembro de um dos episódios mais estressantes da minha relação com a imprensa (até aqui), foi poucos meses depois que assumi o cargo na Harper's, Giorgio me convidou pra uma colaboração criativa pra uma nova campanha da Armani, e após algumas semanas trabalhando no projeto, ele me chamou pra um jantar pra que eu pudesse conhecer pessoalmente o Sean, o modelo que estrelaria a campanha, isso não é uma prática comum no meio, mas ele gostava dessas interações todas e de qualquer jeito, eu e Sean já mantínhamos contato através das redes sociais, o jantar era mais uma apresentação formal e tenho que dizer que Giorgio também queria bancar o cupido, o que só intensificou os boatos que se sucederam depois que fomos fotografados saindo juntos do restaurante. As manchetes diziam que eu e Sean estávamos juntos.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora