Capítulo 6

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POR MELISSA GIGLIO

Ele estava ali, parado com um olhar cheio de expectativa e eu não conseguia dizer nada, tão surpresa que estava naquele momento

-Espero não ter chegado numa hora ruim - tentou manter uma conversa

-Mel!!! - minha amiga escandalosa gritava ao celular o que chamou a atenção de Thomas, então eu finalmente saí do transe e apontei pro telefone indicando a ligação. E gesticulei para que ele adentrasse a casa.

-É o gostoso aranha? - questionava Lou, pro meu total azar, em inglês. Eu queria me enterrar naquele exato momento, mas graças aos céus Tom era educado demais e fingiu não escutar, o que claramente era impossível com minha amiga aos berros – Deixa eu falar com ele, Melissa! - pedia

Sorri envergonhada a Tom e encarei o celular mais uma vez – Louise, não me mata de vergonha. A gente se fala depois, ok?

-Eu disse que podia ser o amor da sua vida. E é óbvio que eu estava certa mais uma vez – se vangloriou

-Tchau! - foi tudo que disse ao finalizar a chamada e voltar minha atenção a Thomas que observava minha sala cheia de papéis espalhados. Eu devia mesmo ter arrumado isso aqui.

-Desculpa por isso. - Não me referi exatamente à bagunça, mas a situação com a Louise a minutos atrás.

-Você se surpreenderia ao ver minha casa quando chego de viagem – que bom que Thomas decidiu ir pelo mesmo caminho que eu e ignorar o momento constrangimento – Acho que te atrapalhei né - se referiu ao fato de estar de roupão, o que só me fez abraçar o próprio corpo em sinal de autopreservação - Na verdade eu não esperava ninguém, então eu não me dei o trabalho de ... - colocar qualquer roupa, meu subconsciente me alfinetou – enfim, o que você faz aqui? Na verdade, como você me achou aqui, essa é a pergunta mais adequada. - Mudei a atenção da minha falta de vestimenta e foi a vez dele ficar sem jeito – Na verdade vim trazer isso – tirou do bolso do casaco um relógio e me ofereceu - Você esqueceu quando esteve lá em casa - informou

-Eu procurei tanto por ele hoje. Que bom que trouxe. Obrigada - agradeci ao pegá-lo de sua mão e ser parada por um súbito encontro de olhares. Ótimo. Houve aquele momento embaraçoso mais uma vez. Isso tinha que parar - Eu preciso dele pra monitorar meus exercícios - afirmei

- Não sabia que você era do tipo esportiva - comentou Tom, tentando engatar uma conversa

-Na verdade não sou muito, mas preciso. É como terapia, sabe. Uma maneira de silenciar meu subconsciente confuso.- confessei

-Sei como é... - O silêncio se estabeleceu e o vi ficar sem jeito, ele observava as paredes do apartamento pra fugir do contato visual comigo, então decidi ser minimamente gentil, em retribuição a toda a hospitalidade que ele me ofereceu naquele dia

-Não quer um café, um chá ou sei lá, uma cerveja? - ofereci enquanto me direcionava à cozinha - Daí você pode me contar como conseguiu meu endereço. Certamente temos uma história interessante por trás disso - percebi ele se movendo junto a mim e se sentando num dos bancos perto da bancada - Fiz compras ontem então temos algumas opções, eu não sou tão fã de cerveja assim, mas comprei algumas pra experimentar - disse - dizem que as cervejas inglesas são absolutamente incomparáveis por isso decidi provar eu mesma essa teoria...

-Isso é verdade, nossas cervejas são as melhores - reiterou Thomas

-Eu não disse exatamente isso, mas ok...- voltei minha atenção à geladeira - temos a London Pride, a Double Chocolate Stout, devo ressaltar que achei essa muito peculiar. Cerveja de chocolate com café? Achei que valia a pena experimentar...ah, e temos a Newcastle Brown Ale, que segundo alguns sommeliers é bem popular por aqui - informei ao terminar de ler o rótulo

-Pra quem não gosta de cerveja, você conhece muito sobre elas - disse num tom de brincadeira

-É que eu sou meio curiosa e consumo informações mais rápido do que deveria, e na maioria das vezes elas não me ajudam em nada ... Newcastle? - perguntei e ele assentiu. Coloquei-as na bancada e brindamos antes de beber - a maioria das informações que tenho são basicamente descartáveis e nunca me ajudam na vida real, mas ainda sim é divertido tê-las - sorrimos com aquilo

-Lembro que você disse que não era tão boa no inglês assim e olha só você toda falante agora.

-Aquilo continua sendo verdade, Tom. Só que às vezes eu me embolo durante a construção das frases e fica tudo meio confuso, porque tenho a mania de tentar fazer a transposição do que eu normalmente falaria em português pra inglês. E naquele dia eu estava como uma mula empacada, o que não ajudou muito - Holland me olhou confuso por conta da comparação que acabara de fazer - é coisa do Brasil - me limitei a dizer, mas ele parecia querer mais esclarecimentos sobre a analogia feita - é tipo alguém muito teimoso e emburrado..- ele finalmente pareceu assentir com a informação - mas então, me diz o que aconteceu pra você aparecer aqui, Holland. - insisti na questão que ele se esquivara enquanto eu divagava sobre informações banais. Ele se virou em minha direção - Eu queria te ver de novo, nem que fosse só mais uma vez - admitiu sem delongas o que me pegou de surpresa - Eu fiquei preocupado e queria saber como você estava, mas Haz se negou a me dizer onde você morava e daí eu encontrei seu relógio no quarto, e Harry tentou rastrear seu telefone, mas percebemos que só dá pra fazer isso de maneira inversa - eu o olhei perplexa com a informação - ei, eu sei que parece coisa de maluco, mas eu juro que não fiz por mal, eu só queria falar com você mais uma vez Melissa e o Harrison não estava facilitando - se defendeu e respirou fundo pra continuar, mas eu o interrompi - Isso parece coisa de stalker, Thomas - afirmei e me encaminhei ao banco ao lado dele e sentei-me -Mas se quer saber, eu pedi ao Osterfield pra te manter longe, eu não queria mais problemas. - desabafei

- Mas que problemas? Haz me disse que as coisas estavam no nível normal e ...

- eu liguei pra ele uns dias depois de sair da sua casa..- fiz uma pausa pra que ele pudesse entender minhas razões -.minhas redes sociais foram infestadas de mensagens malcriadas de centenas de pessoas... - decidi expor toda a verdade - eu sinceramente tentei entender a galera, sabe, mas nada justifica encher as minhas mentions com ódio gratuito - desabafei enquanto ele parecia digerir toda aquela informação - Tom, eu não quero que isso vire uma confusão. As coisas estão bem melhores agora, então é mais inteligente a gente esquecer isso, ok?

- Eu juro que não sabia que tinham chegado a você... eu sinto muito por tudo isso. - ele segurou minhas mãos com forma de me acalentar e eu me vi imersa num silêncio que insistia em surgir quando estávamos juntos, e que dessa vez não me constrangia ou me pressionava, era algo agradável. Seus olhos castanhos pareciam mais profundos, o que me fez confessar algo que talvez eu não devesse, não agora pelo menos. Suspirei - Se você não fosse você... nesse contexto, eu certamente te manteria o mais perto possível, Tom.

-Melissa... - ele se aproximou mais um pouco fazendo nossas testas se encostarem, respirou fundo e fechou os olhos, como se tentasse gravar aquele momento na memória - isso não tem que ser assim. Eu quero tanto poder ficar perto de você, eu só preciso de um sim. 

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora