Capítulo 48

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LONDRES - POR MELISSA
Tom dormia tranquilamente enquanto eu encarava o solitário de brilhantes que aceitei na nossa última noite em Santorini. Talvez tenha sido a coisa mais precipitada, mas também a mais acertada até hoje. Não tinha mais porquê esperar.

SANTORINI
Os dias em Santorini, apesar de terem sido pouquíssimos, foram de uma importância tremenda. Conseguimos nos conectar de verdade depois de todos esses meses, estávamos numa mesma sintonia, e me lembrou aquela pequena fugida para Rye, na qual éramos apenas dois jovens, um casal comum, e esse era o sentimento que predominava, normalidade. Eu gostava disso.
[...]
Esta noite Tom parecia ansioso ou talvez, nervoso. É, acho que essa é a melhor definição. Nervosismo. A todo o instante, Thomas esfregava as mãos uma na outra e mexia no punho da camisa. Era nítido a inquietude do meu namorado. - você está bem, Holland? Parece... não sei, aflito. - pontuei enquanto ele desconversava - não... eu só estou com calor, é só isso. Calor. - ele não parecia firme nas respostas e nem mesmo estava quente. Tom era um ótimo ator, mas um péssimo mentiroso- talvez, se você tirar o paletó, melhore ...-sugeri. - tá tudo bem, Melie. Que tal pedirmos? - assenti enquanto Tom chamava o garçom. A noite estava linda, estrelada. O sol tinha se posto a pouco tempo, aliás eu ainda estranho o fato dele se pôr tão tarde por aqui.
O Lycabettus Restaurant é um dos mais bem recomendados da ilha, tem uma vista deslumbrante, o mar Egeu, e encarar esse infinito me faz pensar no quanto minha vida deu uma reviravolta no último ano. Estava na Grécia, com meu namorado, que por um acaso é um astro do cinema (que eu sempre tive uma queda, ou melhor um precipício mesmo) que é mil vezes melhor do que imaginava, apesar de tudo, quero dizer, os defeitos me faziam entender que nada daquilo era um sonho, era tudo muito real e difícil, mas com amor e responsabilidade tudo daria certo.
Durante todo o jantar, Thomas parecia prestes a ter uma síncope, digo isso por causa do nervosismo que ele aparentava - Babe, você tá bem mesmo? - questionei enquanto procurava sua mão por cima da mesa, ele respirou fundo e sorriu, como se estivesse tomando coragem pra fazer algo. O vi acenar a alguém e de repente um violinista começou a tocar uma melodia familiar (you are the reason -Calum Scott) isso parecia planejado.

POR HOLLAND
Minhas mãos estavam suando, e possivelmente meu coração nunca esteve batendo tão rápido em todo minha vida, Melie estava ali, bem a minha frente, com um olhar curioso e preocupado, questionando sempre que possível se eu estava me sentindo bem. Ela procurou minha mão tentando me acalmar e foi exatamente nesse instante que me enchi de coragem, e fiz o sinal ao garçom para que a música começasse, contratei um violinista pra esse momento. Assim que a música começou, Melissa, de maneira alternada, entreolhou a mim e ao musicista, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Respirei fundo, tomando fôlego.
- É, eu sei, as coisas estão diferentes agora e por muitos motivos...eu queria ser mais corajoso, como você é, Melie. Mas eu tive medo. Medo de me impor, de enfrentar o mundo por nós, de te defender como eu deveria e principalmente, tive medo de te magoar e foi exatamente o que fiz, por omissão. Nada daquilo deveria ter acontecido se eu fosse mais valente, mais firme como você... e eu te amo, te amo por você ser assim... cheia de defeitos, mas muito mais qualidades, e uma das que mais admiro é a sua coragem... te ver encarar tudo de frente, mesmo nos piores dias me fez perceber que eu não posso, eu não consigo e principalmente eu não quero viver sem você ao meu lado...sem te ver acordar todos os dias, sentir seu cheiro, seu humor logo cedo ...- ela estava com os olhos marejados. Levantei-me e fui até ela, me ajoelhei diante de Melissa e fiz o pedido mais importante da minha vida - por isso eu to aqui, mesmo que pareça cedo demais, só faz um ano que eu derrubei café em você naquele aeroporto e corremos pelo saguão juntos, e foi a melhor coisa que poderia ter acontecido, eu correria por aquele lugar mil vezes, mas só se fosse com você... eu quero dividir minha vida com você e gritar pra quem quiser ouvir que você, Melissa Giglio, é a mulher da minha vida. - tirei a caixinha com o anel do bolso e ofereci a ela - Então, Melissa Giglio Prado, você aceita se casar comigo? - minha garota parecia em transe, que mal conseguia falar, mas mantinha um olhar cheio de ternura e supresa, tanto que ficou em silêncio por mais tempo que eu esperava - darling? - chamei sua atenção, ela piscou algumas vezes e voltou a si. - se você for dizer não, eu não sei se aguento a exposição - tentei tirar graça, mas por dentro eu estava aflito com a demora - Sim, sim é o que eu mais quero! - era tudo que eu precisava ouvir, levantei e a abracei tão forte e a suspendi, bem no nível filme romântico, só faltou a chuva - eu te amo, Holland.- era o início de um novo capítulo

FLORENÇA - POR MELISSA
Quando Tom me ofereceu as chaves do carro, meu coração deu uma acelerada de maneira muito súbita. Eu congelei. Minha respiração ficou descompassada e eu tentava a todo custo não sair correndo. Sei que a ideia de dirigir era minha e enquanto estava apenas no âmbito da imaginação, estava tudo bem, mas agora que encarava a possibilidade de frente já não sabia se conseguiria. Sempre me orgulhei por enfrentar meus medos, mesmo em escala menor, quero dizer, a última vez que dirigi eu acabei acordando num hospital meses depois. Isso não tem a ver só com medo. É um trauma que eu preciso tratar. Os pensamentos na minha cabeça estavam tão frenéticos que nem percebi Tom me chamar, até que ele pôs as chaves na minha mão e disse:
- sei que você consegue fazer isso... eu confio em você, darling. - o encarei por uns instantes, seu olhar tinha uma afirmativa "vai ficar tudo bem", e eu assenti. Entramos. Respirei fundo.
- eu... - assim que sentei no banco do motorista, flashes daquele dia consumiram minha mente e eu tentei ser forte e controla-lós. Você consegue, foi o que mentalizei - se você quiser eu posso dirigir ...- propunha enquanto via a incerteza estampada em mim - eu preciso tentar ...- disse por fim. Pus a chave na ignição e senti o motor ligar, a sensação que essa simples ação me proporcionou foi algo que não podia descrever, era uma misto de alívio e receio. Eu tinha o poder sobre a minha mente. Eu estava no comando. Tinha de estar.
Tom esperava pacientemente eu dar a partida. Segurei firme o volante, tamanha era a tensão do momento e ao fazer isso, senti o solitário que aceitei na nossa última noite em Santorini, olhei pro anel e virei à Thomas, que sorriu em resposta e isso me encheu de confiança, mas não por muito tempo. Mal dirigi por um quarteirão inteiro. Imagens muito vívidas do acidente, que até então estavam turvas em minha mente, vieram com tudo. Lembrei do baque inicial que me deixou inconsciente por uns instantes, mas não por muito tempo, recordei da dor, do sangue e do desespero que me consumiu quando me dei conta do que tinha acontecido. Gritei. Muito. Estava em meio às ferragens do carro. Até que a ajuda veio, depois do que pareceu uma eternidade. Essa era a lacuna que meu subconsciente tinha escondido. Pro meu próprio bem. Eu queria não ter lembrado disso. Nunca. Mas era a peça que faltava pra justificar todo esse medo. Freei. Tom me olhou alarmado e eu sabia que dirigir talvez fosse algo que devesse ser riscado da minha vida. Comecei a chorar.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora