Capítulo 75 - Voltando ao Passado

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POR MELIE GIGLIO
- estaríamos casados. - disse quase que de maneira automática, o que me assustou um pouco, na verdade não o fato em si, mas a rapidez com que ele trouxe o assunto à tona.
- é, estaríamos... - suspirei com pesar - o que será que aconteceu com a gente, Tom? Onde foi que a gente se perdeu? - perguntei sinceramente. Ele me olhou um pouco confuso como se não soubesse o que dizer, e essa era a verdade, não sabíamos dizer qualquer coisa sobre como chegamos a parecer dois desconhecidos depois de tudo que vivemos juntos
- não sei, talvez ... - o interrompi - falta de comunicação de verdade, não é? - afirmei - Quantas vezes eu omiti coisas pra não parecer histérica ou insegura, e isso foi justamente o que deixou mais evidente meu estado sensível - disse
- nós dois erramos - respondeu - sempre achando que podíamos consertar e tentar de outro jeito sem machucar o outro e foi exatamente o que fizemos. Eu te magoei muito e até hoje penso nisso se quer saber... eu sinto muito não termos tido uma vida juntos, Melie, sinto mesmo - confessou e foi nesse instante que houve aquela conexão que sempre fugimos. A cada vez que estamos próximos, nossos olhares se procuram a todo instante e nós sempre desviamos, fugimos e dessa vez deixamos acontecer, talvez no fundo, pra saber se ainda existia. Se eu tinha qualquer dúvida que ele ainda sentia algo, isso se foi, aqueles olhos cor de âmbar entregavam o sentimento. Era como se o tempo tivesse parado naquele lugar pra nós dois resolvermos as coisas sem mágoas afloradas, porque todas as vezes que conversamos, ou tentávamos, estávamos muito ressentidos um com o outro e essa madrugada foi diferente. Por um instante quase esqueci que haviam outras pessoas envolvidas e antes que eu fizesse algo que me arrependesse, Tom teve o bom senso e desviou o olhar. Pigarreou - Vi o último editorial da Harper's, Michael é um ótimo fotógrafo - comentou.
Era óbvio que a menção a Michael não tinha sido à toa, o que fez com que eu ficasse atenta. Tom provavelmente não o viu quando chegou (nem tinha como, já que Michael não está aqui) e talvez essa fosse a maneira mais prática de saber se meu namorado estava aqui ou não, sem parecer invasivo - ele é incrível mesmo, não é por acaso que trabalhamos juntos até hoje - pontuei na defensiva e Tom riu - O que foi? - questionei, mas ele apenas balançou a cabeça em negativa e abriu um sorriso travesso - Thomas Stanley Holland - repreendi e ele gargalhou - Thomas, não seja irônico - joguei nele uma espécie de flor que estava perto de nós - você que tá dizendo que estou sendo irônico quando eu só ri da defesa do fotógrafo ... estava sendo sincero  quando disse que ele é bom no que faz - explicou, o que fez eu revirar os olhos e ter coragem de perguntar sobre a sua nova relação, afinal se ele se sentiu a vontade pra mencionar a minha, eu faria o mesmo - E a garota nova, Nadia, não é? Me contaram sobre as fotos - comentei e seu sorriso aberto se transformou numa expressão mais cautelosa/ cuidadosa - e o que te contaram sobre ela ? - o clima ficou tenso de repente
- nada muito específico, Tom... você sabe como é a imprensa ... - ponderei - ela é bonita - ele sorriu sem graça, não parecia a vontade pra falar sobre ela - Nadia é alguém legal. Talvez em outras circunstâncias vocês fossem amigas - afirmou
- acho que não- me limitei a dizer e tomei meu chá que já estava frio há essa altura da conversa. Ficamos em silêncio, um ao lado do outro. Vez ou outra eu me permitia olhá-lo de canto de olho e aquela situação me fazia querer estar com ele de novo, tê-lo na minha vida diariamente, como anos antes. Por mais que eu esteja bem, "estar bem" não é suficiente quando se pode ser feliz, feliz de verdade. Não é que eu não goste do Michael, porque eu gosto, mas Tom está num lugar diferente na minha história. Um lugar que inevitavelmente ninguém pode tirar, nem mesmo eu.

POR TOM HOLLAND
- posso te pedir uma coisa? - disse de repente, quebrando o silêncio - dança comigo? - o pedido me pegou de surpresa, dentre todas as coisas que ela poderia me pedir, essa era umas da únicas que não tinha passado pela minha cabeça, jamais pensei que ela pediria isso. Sorri em resposta. Inclinei meu corpo em sua direção e estendi a palma da minha mão, oferencendo ajuda - Senhorita, me concede a honra ? - Melissa não hesitou e estendeu-me a mão em resposta. Seguimos para o meio da varanda, onde haviam muitos itens a serem organizados antes do jantar oficial. Ela se aproximou mais, colocando-se a minha frente, sua respiração estava nitidamente desregulada ou eu estava apenas vendo coisa onde não tinha. Respira. Fica calmo. É só uma dança. Minha mente repetia diversas vezes para que eu não caísse na tentação (de novo) porque esse enredo me parecia familiar. Melissa pegou minha mão e colocou em sua cintura, engoli seco com esse movimento, respirei fundo. Começamos a dançar, mesmo sem música, Melie mantinha seus braços em volta do meu pescoço. É inegável como essa mulher ainda mexe comigo, ainda é a minha mulher, a pessoa com quem eu deveria ter me casado e construído uma família. Estar tão próximo dela me deixa desnorteado em tantos graus que mal consigo pensar direito, quer dizer, não consigo pensar em nada que não seja ela.
- Acho que nossa dança precisa de uma música - afirmou enquanto me soltava e pegava o telefone que estava onde sentávamos há pouco, não mais do que rápido, Melissa estava de volta me oferencendo um lado do fone de ouvido. Assim que ela o colocou em mim, a música começou a tocar

Eu conhecia a letra, quero dizer partes dela, a melodia era familiar, lembro muito bem quando e onde escutamos: Rye. Nossa primeira viagem juntos, aliás foi onde oficializamos o namoro, fiz o pedido na praia (sim, foi algo inspirado nos filmes/livros que ela gostava) e como Melissa odiava que eu gastasse mais do que o necessário, dei-lhe um presente simbólico, um berloque de café, referenciando nosso encontro (semi) caótico no aeroporto, e muito tempo depois, dei outro, dessa vez com um avião e mala, ainda fazendo referência ao nosso primeiro encontro, mas também as nossas viagens juntos. Nem sei se ela ainda os usa na pulseira, mas duvido que ela amo-nos tenha guardado.
Estávamos ali, abraçados como se ainda fôssemos um casal, Melie encostou sua cabeça em meu ombro e pude sentir sua respiração compassada em meu peito, e como num ato impensado eu automaticamente comecei a acariciar seu cabelo, não mais do que de repente ela direcionou seu olhar a mim, e não houve qualquer saída. Ainda tínhamos uma história. Tínhamos que vivê-la. Nos beijamos.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora