Capítulo 45

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POR MELISSA GIGLIO
- Como estamos hoje? - perguntou Hall assim que entrou no quarto

- A verdade é que eu não aguento mais esse hospital, Hall - afirmei

- Gostei da sinceridade, bom saber que somos amigos - brincou e eu sorri sem graça -então você vai gostar da notícia de hoje

- Duvido muito, poucas coisas tem me animado ultimamente - rebati mal humorada. Já estava há semanas aqui, não aguentava mais essa cama e as visitas constantes da equipe médica, sei que eles têm feito o melhor por mim, mas quero ir pra minha casa, sem falar que a comida ... não quero discorrer muito sobre, porque comida de hospital já é tenebrosa no Brasil, imagina aqui... já estou traumatizada

-Finalmente chegou o dia, Melissa - anunciou o doutor Hall - o dia de ir pra casa - informou me deixando animada. Eu não aguentava mais ficar aqui, óbvio que era tratada muitíssimo bem, mas era quase um confinamento, quase não, era um confinamento e eu queria retomar minha vida. E finalmente a liberdade veio.

- é claro que você terá que seguir umas regras, manter a fisioterapia e uma alimentação saudável. O ideal é você retomar sua rotina aos poucos, nada de se sobrecarregar e continuarei de olho em você, quero te reavaliar daqui 10 dias, tudo bem?
- volto aqui quantas vezes for preciso, mas eu realmente quero ir pra casa, doutor. Juro que vou me comportar, não é Louise? - me fiz enfática pra ganhar mais a confiança dele
- não se preocupe, garanto que ela seguirá tudo a risca. - afirmou minha amiga
- é com isso que estou contando...- disse ao assinar alguns papéis, acho que era a autorização de alta - aliás, vocês precisam assinar uma papelada antes de sair. Melissa, bem-vinda de volta ao mundo, agora oficialmente. - ao dizer isso se retirou.
[...]


Eu estava de pé, encarando o teto, quando ouvi uma voz
- você não me disse que sairia hoje - virei-me assim que ele terminou. Lá estava Thomas, me encarando ressentido e eu fiquei sem resposta, como eu diria a ele que não o queria aqui porque não quero nenhum tipo de assédio da imprensa ? Thomas e a imprensa são quase sinônimos pra mim - eu só achei que você estivesse ocupado, não quis incomodar. - afirmei em meia verdade - Babe, você nunca incomoda, sabe disso...- ele bufou frustrado, mas veio me abraçar - esbarrei com Louise na recepção, ela estava assinando alguns papéis da alta e a conta do hospital, aliás você não precisa se preocupar com isso porque...
- você não precisa, Tom - o interrompi sabendo o que ele diria - Por que ? - ele arqueou a sobrancelha - Melie, eu sei muito bem quanto aquela conta está e não é nenhum favor, você é minha namorada e ...
- não é isso, Holland. Eu tenho seguro, quando vim pra cá tomei todas a providências e todo e qualquer tipo de acidente a seguradora cobriria, tá tudo bem - informei, mas apesar de realmente existir um seguro, eu também não gostaria de ter qualquer dívida com ele, nunca aceitei namorá-lo por vantagens, mas porque o amo.
- tudo bem, mas você sabe que eu posso ajudar se necessário, não sabe? - ofereceu
- sei, Tom, e agradeço, mas não é necessário mesmo, obrigada. - ele finalmente deu um meio sorriso - posso te levar pra casa ou o seguro vai fazer isso também ? - brincou
- não, sua carona é muito bem-vinda. - no fim, eu cedi
[...]


Estar em casa era um alívio, tudo parecia igual, exatamente como deixei naquela manhã, coisa que me espantou. Adentrei a casa enquanto Tom colocava minha mala no quarto. Louise estava logo atrás de mim
- achei que você e a mamãe estivessem aqui - comentei
- na verdade, Tom não queria ninguém aqui e nos colocou num hotel, muito bom aliás - minha amiga contou - não faz sentido, tendo minha casa aqui. Por que gastar com hospedagem ? - sussurrei a ela
- ele passou muito tempo aqui enquanto você estava no hospital, Haz me disse que quando ele era obrigado a descansar,  vinha pra cá... - Louise de repente parou de falar já que Tom havia voltado do quarto - espero que estejam falando bem de mim, porque não entendi uma palavra sequer - brincou
- sempre bem, Holland. - nossos olhares se conectaram por um momento, coisa que não tinha acontecido genuinamente desde que acordei, logo Louise anunciou uma ida ao mercado do nada e se foi. Ela podia ter usado uma desculpa melhor, aliás.
Era estranho estar sozinha aqui, com ele, parece que faz muito tempo desde o nosso último encontro "normal". Tom se aproximou e me conduziu ao sofá. Sentamos em silêncio, ele sentou-se ao meu lado e me aninhei nele, nesse momento o sentir relaxar. Foi natural até, não pensei, só deixei tudo do lado de fora, toda confusão, apesar de saber que precisávamos conversar.
Sentir seu cheiro, sua pele contra a minha, nossa respiração e batimentos cardíacos sincronizados, tudo isso me fazia lembrar o motivo de não desistir dele, por mais que tenha um mundo contra, quero dizer em especial, essa vida exposta que Holland tem por causa do trabalho, vida que quase me engoliu, eu o amo e isso não tem como mudar, não posso arrancá-lo do meu peito, e de verdade, nem quero. Lembro que quando decidi ficar com ele, meu maior medo era justamente esse, ser pressionada e engolida pela vida glamorosa que o cercava. E foi exatamente o que aconteceu, mas por mais que eu fugisse, era impossível me livrar. Eu o amo. Amo a ponto de tentar superar isso, mesmo sabendo que ainda podia dar errado. E mais uma vez, apesar do medo, eu queria dar mais uma chance, e isso era uma total estupidez.
Me virei e olhei pra ele, que parecia encantado com algo, toquei seu rosto e instantaneamente Thomas fechou os olhos.
- Te amo, Holland. Pra sempre. - e o beijei. Aquilo era suficiente... por hora.

POR HOLLAND
Achei que tudo estivesse perdido, afinal nesses últimos dias no hospital vi Melissa se distanciar cada vez mais, talvez meu medo evidente a tivesse impedido de tocar no assunto do acidente de novo, mas eu sabia que não queria falar sobre isso enquanto ela estivesse lá. Não era certo. Muito menos justo.
Ela preferia ter a companhia de Louise e da mãe quase sempre. Desde que ela acordou do coma as coisas entre nós estava num lugar totalmente incerto e desconhecido. Era evidente meu medo em perde-la e sabia que isso poderia acontecer a qualquer instante, afinal ela lembrava do acidente e provavelmente o motivo de tudo, e apesar de eu já ter desmentido todas as atrocidades que a envolviam numa live, eu nunca de fato confrontei a imprensa e nem achava prudente. Mas se ela me pedisse, eu faria. Faria qualquer coisa por ela. Até mesmo me desligar do trabalho pra poder dar o mínimo de paz pra nós dois. Faria porque a amo, mais do que o ar. Mais do que qualquer outra coisa. Melissa é tão destemida e forte e isso me encanta tanto, quando encarei a possibilidade de perdê-la pra sempre, era como se meu peito se abrisse, me dilacerando por dentro e mais do que isso, eu jamais poderia viver num mundo no qual ela não existisse. Esses meses todos no hospital eu estive apenas miserável. Existindo. Agarrado a uma ponta de esperança, até que esta foi arrancada de mim, no momento que doutor Hall me aconselhou a retomar minha vida, porque não existia qualquer garantia que ela voltaria, não naquele estágio quase vegetativo que Melie estava. Aquilo soou como uma sentença e eu fiz a coisa que achei que ela gostaria, retomei minhas obrigações. Me senti um traidor. Mas no fundo eu não tinha mais forças pra encara-la inerte, naquele sono profundo. Eu só segui o fluxo das coisas.
[...]
Estávamos em casa, quero dizer, na casa da Melie, mas eu passei tanto tempo aqui durante todo esse processo, que a considerava minha também. Ela estava de volta aos meus braços, há muito não a abraçava assim, não sentia seu coração batendo, sua pele na minha. Melissa se aninhou em mim, assim que sentamos no sofá. Toda aquela indiferença, medo e insegurança, foi embora quando ela, inesperadamente fez isso. De repente voltei aquele dia, no qual ela se declarou e finalmente nos beijamos. O dia que eu também descobri sobre o coração partido e que eu podia ser a sua chance de curar isso. Aquele dia ela confiou em mim, apesar de todo o medo. E aqui estamos de novo. No mesmo sofá. Parece que isso faz anos e não meses, já vivemos tanta coisa e superamos muito e a minha maior questão agora era saber se ela conseguiria superar isso, se nós conseguiríamos sobreviver ao caos. De repente ela se virou pra mim, sorriu e tocou em meu rosto, com tanto afeto que fechei meus olhos e instantaneamente peguei sua mão
- Te amo, Holland. Pra sempre. - e me beijou. Essa era a resposta. Teríamos mais uma chance e dessa vez eu faria o certo.

Destinos Cruzados 🕸 TOM HOLLANDOnde histórias criam vida. Descubra agora