O cupido é uma criança mimada - Broken Heart

Q U A R E N T A E U M

Livrai-me do cupido atrapalhado, do caso mal combinado, dos amigos desavisados, e me arrume um amor equilibrado.

HEART

Quando eu tinha apenas dez anos meu avô me fez sentar em uma cadeira de frente para ele e pediu que eu anotasse com atenção a sua fórmula mágica, que como uma receita de bolo se eu seguisse corretamente não haveria erro, e eu pegaria muita mulher. Palavras dele.

-Antes de conhecer a sua avó eu era o homem mais namorador do bairro.- Vovô riu com os olhos distantes em seus devaneios, que o levavam a época que julgava ser boa.- As mulheres iam a loucura.

Eu já havia escutado aquela história milhares de vezes, da época em que conheceu minha avó e automaticamente resolveu se aposentar de suas aventuras amorosas. Apesar de conhecê-las de cór nunca me cansava ouvi-las, e como se fosse a primeira vez, lá estava eu rindo novamente de tudo o que dizia, eu o ouvia atentamente mesmo que por muitas vezes era um pouco difícil de acreditar em certos absurdos que me contava.

Na época em que vovô foi acometido de câncer, ele me fez sentar em uma cadeira novamente como na época que eu tinha dez anos, e começou a me contar sua história com a minha avó, e como todas as outras vezes eu o escutei, atentamente, sem perder nenhum ponto ou vírgula, queria gravar em minha mente e coração cada palavra que saía de sua boca.

-Eu nunca fui um homem fácil de se conviver.- Ele dizia.-  Mas sua avó com toda a paciência do mundo, havia me proporcionado os melhores anos da minha vida.- Quando estava prestes a encerrar nossa conversa vovô me fez prometer que eu só me casaria quando tivesse certeza de que ela era a mulher da minha vida. 

Apesar de bonito, o seu discurso, conclui que todo aquele papo de amor verdadeiro e pessoa certa era balela, e que apesar de ser verdadeiro, um dia ele vai embora, o mesmo aconteceu com vovô e por fim aconteceria comigo. Apesar de na vida eu não seguir seus concelhos, quando se tratava do meu lado profissional, eu os seguia a risca como um manual que ajudava pessoas desesperadas a acharem o suposto amor de suas vidas.

Meu celular vibra ao receber a mensagem de texto da Joana indicando meu próximo cliente, o nome dele é Joelson e tem trinta e dois anos. Como prometido, não marquei mais meus encontros na confeitaria, pedi para que Jô marcasse com ele na Subway, localizada na rua de trás do nosso escritório, após estacionar o carro eu desbloqueio a tela do celular e dou uma olhada na foto e nos dados do meu mais novo cliente.

-Joelson?- Pergunto ao me aproximar da mesa onde um homem negro vestindo uma camisa social está sentado.

-Por favor me chame de Joe.-Diz o cliente se levantando para me cumprimentar com um aperto de mãos.- Você é o cupido?

- Sim, mas pode me chamar de Heart.-Digo com meu famoso "Tom para negócios", Ingrid e Joana que apelidaram, elas dizem que quando estou de frente para um cliente eu entro no modo "Trabalho" o que faz meu tom de voz mudar, eu discordo.

-Certo.-Ele desvia os olhos dos meus e encara a loja, procurando por algo, estreito os olhos ao me dar conta do gesto familiar. É como se todos os clientes que eu me encontro tivessem medo de ser descoberto, o que não deixa de ser verdade, mesmo não sendo crime querer conquistar  a pessoa amada.

-Então, me conte sua história.- Digo após me sentar na cadeira em frente a dele.

Sempre que inicio uma conversa com meus cliente eu tento estabelecer uma relação amigável com eles, para que não me omitam nada quando eu estiver fazendo as perguntas. Joana gosta de me comparar exageradamente como um advogado prestes a defender o réu de um homicídio, mas na verdade apenas estou tentando desencalhá-lo. O curioso do nosso trabalho é que com o passar do tempo eu comecei a gostar do que faço, no início era apenas para ganhar dinheiro rápido, porém conforme nosso negócio foi crescendo, eu percebi que gostava daquilo tudo, de proporcionar um "final feliz" para as pessoas, de ouvir suas histórias e saber que fizemos parte disso, mesmo que anonimamente.