Q U I N Z E

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Cada ferida é uma lição e cada lição nos torna melhores.

BROKEN

[Passado]

Quando eu era mais nova, eu odiava dia dos pais, para mim era só mais um diz como qualquer outro, o fato de não ter pai não me incomodava sempre, o problema era quando as meninas da minha classe implicavam comigo e me zoavam de órfã paterna, era cruel e doloroso.

Bruno, Daniel e mamãe não sabiam o que estava acontecendo comigo e eu não queria incomodar eles com todo o chororô desnecessário, principalmente minha mãe que sempre foi tão guerreira e não merecia saber o que aquelas meninas estavam fazendo comigo porque eu sei que ela ficaria entristecida, por isso, decidi ignorar o dia dos pais, pois não ter um pai deveria ser apenas um detalhe para mim.

-Quando será a festa em homenagem ao dia dos pais?- Mamãe pergunta para mim enquanto estamos jantando na mesa nova de jantar, o plástico da cadeira fazia um barulho de pum, era engraçado.

-Não sei.- Eu dei de ombros, mamãe sempre participava das comemorações na escola, ela fazia questão de estar presente em tudo e eu sabia que não daria para ignorar esse dia se eu participasse dele, resolvi mentir.

-Vai ser no sábado.- Diz Bruno de boca cheia, inconveniente.

-O que?- Minha mãe perguntou sem entender o que ele havia falado, ainda bem.

-Nada não, Bruno não disse nada.- Olhei para ele com expressão ameaçadora e Bruno ficou calado, ele não sabia o porquê que eu estava estranha, mas de uma coisa ele tinha certeza, eu podia ser ameaçadora se quisesse.

Daniel que também comia na mesa passou seus olhos de mim para Bruno que começou a comer quieto, mamãe não prestava atenção.

-A comida está boa dona angélica.- Comentou Daniel para disfarçar a tensão.

Depois da janta Daniel foi para sua casa e eu fui direto para o quarto afim de evitar meu irmão, mas quando chego no andar de cima vejo-o com as costas encostadas na sua porta esperando me encontrar.

-E aí, vai me explicar agora ou terei que perguntar a mamãe?-Ele declara sua ameaça, sem dar muita confiança eu empurro a maçaneta da porta e entro no quarto sem responder sua pergunta.

No dia seguinte era sexta feira, eu insisti à mamãe para que eu pudesse faltar hoje, mas ela disse que não ficaria em casa e que não queria me deixar sozinha, então tive que ir. Quando abri em meu armário para guardar a mochila e pegar os livros dei de cara com uma carta sem remetente, abri para poder lê-la e vi que apenas estava escrito que eu deveria ir até a quadra do ginásio, eu tinha a opção de não ir, eu poderia simplesmente ignorar mais uma dessas malditas cartas e bullyings incessantes, mas eu já estava cansada de ser chamada de órfã, de garota sem pai, e eu decidi enfrentar tudo de frente porque quanto mais eu ignorasse, mais o bullying ia aumentar, mais minha tristeza ia crescer, eu não tinha como trazer meu pai de volta, eu não tinha culpa dele ter morrido, então porque parecia que eu estava pagando alguma penitência? Porque parecia que eu deveria sofrer, já não era triste o suficiente eu nunca ter conhecido o meu pai?

Eu amacei a carta e fui até o ponto de encontro, não contei para Ash, pois sabia que ela iria me acompanhar nessa loucura, eu apenas deixei um bilhete no seu armário dizendo onde eu estava para que se algo ruim acontecesse, pelo menos alguém soubesse onde poderia encontrar meu corpo.

A porta da quadra estava encostada, empurrei devagar já sentindo toda a minha coragem se esvair, mas não tinha jeito, eu já estava lá, reuni toda a coragem que me faltava e dei o primeiro passo para dentro da sala com pouca iluminação, haviam algumas pessoas me esperando, cinco para ser exata, os mesmos que implicavam comigo, eles riram e cochicharam quando cheguei, mas não deixei-me abalar.

O cupido é uma criança mimada - Broken Heart Onde histórias criam vida. Descubra agora